Aromáticas e Medicinais Jardins & Viagens

Plantas medicinais do Brasil

Lippia alba folhas e flores

As excursões brasileiras têm pano para muitas mangas e que mangas! O Jardim Botânico do Rio de Janeiro – uma autêntica pérola da biodiversidade tropical – possui uma riquíssima coleção de plantas medicinais que foi inaugurada em 2010.

Esta coleção muito bem identificada conta com um grande número de plantas com usos medicinais, tradicionais, socioculturais e etnobotânico.

Passei lá a tarde a fotografar e a tomar notas. Constatei mais uma vez o que não me canso de repetir: no Brasil, os nomes comuns das plantas, tantas vezes iguais aos de Portugal referem-se a plantas diferentes dando origem a uma enorme confusão taxonómica.

Não podemos nem devemos fazer trabalhos sérios de investigação da Europa consultando bibliografia brasileira.

Gomphrena globosa

Confusões taxonómicas entre plantas de Portugal e Brasil

Enquanto a perpétua-roxa que, em Portugal se refere à Gomphrena globosa da família das Amarantáceas, semelhante a um trevo e muito utilizada para tratar problemas relacionados com as cordas vocais, no Brasil, a planta que se dá pelo mesmo nome pertence à família das Asteráceas e tem o nome científico de Centhranterum punctatus e as suas recomendações são para problemas respiratórios e digestivos.

A erva-cidreira Melissa officinalis refere-se no Brasil a várias plantas, mas, principalmente, à Lippia alba, conhecida por erva-cidreira-do-brasil, pertence à família da Verbenáceas e não das Lamiáceas, como a melissa.

As suas indicações terapêuticas, no entanto, apresentam algumas semelhanças, pois ambas têm uma ação espasmolítica e calmante, analgésica, sedativa e ansiolítica. Por vezes, em algumas regiões, também dão o nome de cidreira à erva-príncipe Cymbopogum citratus.

A pimenta-rosa ou pimenta-bastarda, ou falsa pimenteira e seus usos culinários e terapêuticos tanto se referem à pimenta-bastarda Schinus molle ou Schinus terebinthifolius a que dão também o nome de Aroeira que por estas bandas do Atlântico conhecemos por Pistacia Lentiscus ou P. Terebinthifolius e é uma árvore mediterrânica e não tropical.

A pimenta-rosa no Brasil é usada em substituição da pimenta-do-reino, que é a pimenta-preta Pipper nigrum também para fins terapêuticos com propriedades diuréticas, adstringentes e purgativas (folhas e bagas).

Mirabilis

Mirabilis jalapa

As maravilhas, que em Portugal é o nome que se dá à calêndula e se utiliza, entre outras coisas, para tratar problemas de pele e pode  ser usada na culinária em vários pratos, no Brasil são as Mirabilis jalapa.

Fiquei surpreendida em saber que esta planta com a qual tenho uma relação de amor-ódio, muito perfumada à noite e muito invasora e resistente de noite e de dia, desaparece no inverno, ficando tranquilamente a aguardar a chegada da primavera, todo um batalhão de pequeninas sementes pretas e redondas, assim como as suas robustas raízes tuberosas.

Também é conhecida por dama-da-noite, pois as suas flores amarelas ou rosas exalam um doce aroma ao anoitecer.

Propriedades medicinais da Mirabilis-Jalapa

Recomenda-se em forma de emplastre das suas folhas e flores para tratar problemas cutâneos de origem fúngica como micoses ou outras patologias de origem bacteriana ou viral.

Para uso interno, uma infusão das suas folhas recomenda-se em casos de parasitas intestinais, retenção de líquidos ou como purgante. Um xarope feito com as suas raízes pode ser recomendado para o mesmo fim.

Receita desparasitante: Num almofariz, esmagar uma colher de sobremesa de raízes frescas fatiadas, adicionar uma colher de sopa de açúcar e uma chávena de infusão das folhas. Tomar uma chávena em jejum e repetir de três em três dias até à completa eliminação dos parasitas.

Lantana

As lantanas

Descobri também as propriedades da lantana, que, entre nós, são usadas principalmente pelos arquitetos paisagistas como sebes coloridas e por atraírem muitas abelhas e borboletas para os jardins.

Estas pobres Verbenáceas são amaldiçoadas, sobretudo na Madeira e nos Açores e também no continente, devido ao seu caráter demasiado invasor.

No entanto, no Brasil, de onde é nativa, é conhecida por vários outros nomes, sendo talvez o mais comum cambará. É também considerada em muitas regiões uma planta daninha.

Propriedades medicinais da lantana

Muito utilizada na medicina caseira em forma de infusão ou xarope das suas folhas para aliviar problemas respiratórios, estados febris, catarro, rouquidão, asma, bronquites, tosse, etc. Em uso externo, em forma de compressas, utilizam-na no alívio de dores reumáticas e dores musculares.

Coentros-bravos

Esta planta, cujo nome ciêntifico é Erygium foetidum, é uma erva espontânea aromática, com picos que se vende em ramos nos mercados e que experimentei com sucesso no meu risoto de ervas e plantas medicinais.

É usada também para fins medicinais em situações de gripes, constipações e febres.

Manjericão

Manjericão

O manjericão é muito diferente no nosso, apesar de também se chamar Ocimum basilicum tem um porte arbustivo e folhas mais miúdas, entre um manjericão e um manjerico. É uma das plantas medicinais mais usadas, principalmente em infusões para problemas digestivos.

Urucum

Urucum ou açafroa-da-bahia

Para terminar, não poderia deixar de fora uma das plantas cujo nome sempre me intrigou e divertiu a Bixa orellana ou urucum, açafroa-da-bahia ou colorau.

Apesar de nunca a ter encontrado, assim que se cruzou no meu caminho, na beira-rio em Parati reconheci-a imediatamente: com os frutos castanhos com picos, abertos, exibindo uma profusão de sementes vermelhas, não deixava dúvidas, era mesmo o urucum; contemplei-o de todos os ângulos e deslumbrei-me com as suas flores, de um rosa delicado e perfumado, muito vistosas e fotogênicas.

O pigmento extraído das sementes é desde tempos remotos usado pelos indígenas para pintar a pele, mas também como protetor contra mosquitos e queimaduras solares.

É amplamente usada como corante alimentar e para fins medicinais. Era já mencionada pelos portugueses em 1500, na primeira expedição ao Brasil.

Fotos: Fernanda Botelho

Gostou deste artigo? Então leia a nossa Revista, subscreva o canal da Jardins no Youtube, e siga-nos no Facebook, Instagram e Pinterest.


Poderá Também Gostar