Revista Jardins

16.º Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima

Com o tema As religiões nos Jardins, conheça os maravilhosos espaços criados na edição deste ano.

A 28 de maio deste ano, celebrou-se a inauguração do 16.o festival internacional de jardins; esta cerimónia anual contou com a presença da ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, além do presidente da autarquia, Victor Mendes, com os membros do júri do festival e da equipa técnica do mesmo. Aquando da abertura do festival, foi feita uma breve homenagem em memória de João Cutileiro, junto a uma escultura de sua autoria, localizada à entrada do parque desde 2014.

O PARQUE

O festival acontece na margem direita do rio Lima, no designado Parque dos Labirintos com uma área de 2,50 hectares. Além dos 12 núcleos dos jardins temáticos e dos Jardins da Escolinhas, que ocupam cerca de 1500 m2, a restante área apresenta uma diversidade programática que passa por uma piscina exterior de recreio, com apoio de cafetaria e de uma estrutura de alamedas com caramanchões ou com as ramadas existentes, e zonas de lazer e contemplação que se estendem junto ao rio. O clube náutico e o restaurante perfazem a oferta desportiva e gastronómica.

ÂMBITO DO FESTIVAL

O Festival de Jardins de Ponte de Lima impôs-se nacional e internacionalmente enquanto mensageiro ambiental, atraindo visitantes e convocando concorrentes de todo o mundo para refletirem sobre os temas escolhidos, tendo, “nos últimos 17 anos, recebido mais de um milhão e duzentos mil visitantes, e “centenas de propostas de jardins dos quatro cantos do mundo”. Desde 2005 vários assuntos foram escolhidos e concretizados em jardins efémeros − o clima, a água, o lixo, a floresta ou as energias, marcaram as exposições. O “festival infantil” vai na sua 6.a edição, com o objetivo de “conferir um contributo pedagógico e de sensibilização para a arte dos jardins”, acompanhando também o tema central da exposição.

Em finais de 2019, antes do início da pandemia, o júri escolheu para 2020 o tema As Religiões nos Jardins. Num país maioritariamente católico, e atendendo ao facto de Ponte de Lima estar na rota dos Caminhos de Santiago, mas também devido à existência de um número crescente de outras crenças religiosas no país, o tema reuniu um amplo consenso. A necessidade da apologia da tolerância religiosa assim como a diversidade de religiões levaram os concorrentes a abordarem o tema de uma forma artística, construtiva e informada.

Segundo o Expresso de 27 de agosto, a maioria da população portuguesa é católica (cerca de 80%), mas nota-se um aumento de pessoas sem religião ou com outras crenças religiosas, pois vivemos numa sociedade cada vez mais plural, com fluxos migratórios constantes. Existem, segundo a mesma fonte, “92 confissões religiosas com atestado de radicação em Portugal”. Refira-se também a importância da promulgação da Liberdade Religiosa em 2000, com o objetivo das comunidades se sentirem apoiadas e protegidas quanto à sua liberdade religiosa.

Por sua vez, a Ministra Mariana Vieira da Silva referiu que “… quando visitei os jardins das crianças, perguntei a cada uma das professoras se naquela turma havia pessoas de religiões diferentes. Na maioria delas não havia, mas todas aquelas crianças estão, a partir do momento em que dialogam sobre as diferentes religiões, mais preparadas para esse mundo de diversidade onde hoje nós vivemos. A aprendizagem das diferenças é a nossa única maneira de vivermos em sociedade sem extremismos e com coesão”, refere também Mariana Vieira da Silva.

O parque tem projeto de Francisco Caldeira Cabral e Elsa Severino, e foi elaborado no âmbito do concurso lançado para a requalificação das margens do rio Lima. O primeiro festival aconteceu em 2005.

12 JARDINS EFÉMEROS E O 6.º FESTIVAL DE JARDINS ESCOLINHAS

O júri reuniu e avaliou criações provenientes de Portugal, Espanha, Escócia, República Checa, França, Inglaterra, Itália, Áustria, Roménia, Sérvia, Noruega, Polónia, Estados Unidos da América e Brasil. Como aconteceu nas edições anteriores, durante a seleção das propostas vencedoras, escolheu-se também o tema para o ano de 2022: Os Jardins e as Alterações Climáticas.

Foram seleccionadas 11 propostas e ficará em exposição o vencedor do certame anterior: Jardim Vertigem (ir)reversível

1. JARDIM DE OSÍRIS (PORTUGAL)

Osíris − Deus egípcio, protetor da agricultura, simbolizando também a “força inesgotável da vegetação”. Os egípcios, dependentes das cheias do Nilo para as suas culturas, adoravam Osíris, enquanto “atividade vital universal, terrestre ou celeste”. Os jardins egípcios eram caracterizados pela presença da água em tanques retangulares devido ao elevado nível do freático. Jardins murados, para proteção do meio exterior e plantados. Este conceito foi aqui tratado pelos concorrentes: água em movimento, com uma determinada simbologia e plantações marcantes num jardim “murado”.

2. LA CHAPELLE (ESPANHA)

Nesta proposta, o jardim é dividido em duas áreas separadas por duas vedações semicirculares, de cor preta e vermelha.

“Gera-se assim um espaço interior, côncavo e protegido, origem de La Chapelle, e outro exterior, que serve de átrio de chegada ou de espera. De uma paisagem para contemplação passa-se a outra para a transcendência”. A vedação vermelha, na sua parte côncava esconde um “belo jardim colorido”, ascendente. Representam também a dicotomia entre a vida e a morte.

3. JARDIM DO DIÁLOGO (ESPANHA/REPÚBLICA CHECA)

O diálogo e a tolerância entre religiões é aqui abordado de uma forma bem explícita: o jardim apresenta sete núcleos que representam sete religiões difundidas em todo o mundo; podemos observar uma representação do jardim islâmico, cristão, do jardim judeu, do jardim taoista, hindu, budista e por último o jardim étnico. Na parte central, temos a árvore sagrada − a oliveira, também símbolo da paz.

4. PEREGRINAÇÃO (INGLATERRA)

Uma homenagem aos peregrinos e locais de peregrinação; vários símbolos associados à peregrinação: o local de descanso e/ou contemplação, a fonte simbólica que traduz a purificação, o caminho assinalado por panos brancos, o que corresponde à ideia de desprendimento interior e homenagem Àquele (Cristo, Maomé, Osíris, Buda…).

5. CAIXA DE PANDORA (ITÁLIA)

A Caixa que deveria estar sempre fechada abre-se perante nós devido à desobediência de Pandora, refletindo assim o mundo exterior. O projeto recria também cinco religiões implantadas mundialmente − Cristianismo, Islamismo, Budismo, Hinduísmo e a Religião Tradicional Chinesa − e que idealmente deveriam estar próximas, como o estão neste jardim.

6. SANTUÁRIO DA INVULNERABILIDADE (ÁUSTRIA/ROMÉNIA)

Um santuário rodeado de água, elemento sempre presente nos rituais religiosos, é protegido por pétalas brancas, ascendentes, simbolizando a espiral da vida.

7. A PROCURA (ÁUSTRIA/NORUEGA)

A procura da perfeição, do conhecimento e da luz, é transmitida pelo labirinto, metáfora da dificuldade do caminho na busca de algo. O que procuramos então? “O local/comunidade onde nos possamos sentir em casa. Portanto, seja o que for que estejamos à procura: religião, amor, futebol ou música, encontraremos uma comunidade”.

8. JARDIM DA VIDA (POLÓNIA)

Um jardim é acima de tudo um “lugar de crescimento”; podemos praticar a religião numa mesquita, numa igreja, num templo, mas também num jardim. O caramanchão permite o descanso, a contemplação e a reflexão.

9. OLHO DE DEUS (POLÓNIA)

Um iglu em madeira destaca-se neste jardim. Do seu interior observa-se o céu, ou o mundo exterior, resumo do universo.

10. TERRAMOTO DO DIA DE TODOS OS SANTOS (ESTADOS UNIDOS
DA AMÉRICA)

Uma instalação que resume o Terramoto de 1755, mas também a perenidade da vida e a busca incessante do divino.

11. JARDIM RELIGARE (BRASIL)

Está representada a serpente Boitatá, protetora da Natureza para alguns povos da Amazónia. Esta escultura, construída com resíduos sólidos, evoca a sustentabilidade.

12. JARDIM VERTIGEM (IR) REVERSÍVEL (PORTUGAL)

Este foi o jardim mais votado de 2019, sob o tema Jardins do fim do Mundo, daí permanecer em exposição no ano seguinte.

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