Revista Jardins

30 minutos nas Quintas da Arrábida

Conheça as quintas, paisagens e poetas desta maravilhosa serra com um enquadramento único.

A serra da Arrábida, Vila Nogueira e Vila Fresca de Azeitão, Aldeia de Irmãos e o Calhariz configuram uma unidade paisagística e um território extraordinário que se destaca na paisagem cultural do estuário do Tejo e do Mar da Palha. A serra, com uma silhueta inconfundível que recorta o horizonte da margem sul, vê-se dos principais miradouros de Lisboa e é o ponto focal do Cais das Colunas Pombalino.

São cerca de 23 km que ligam, em linha reta, através do plano de água, do Mar da Palha ao antigo porto fluvial de Coina e às Quintas de Recreio de Azeitão e da Arrábida; construídas, engrandecidas e sonhadas ao longo de 500 anos, ainda hoje nos brindam com um rico património arquitetónico, artístico e paisagístico. Inseridas em zonas de montado, de olivais ou de vinha, integram-se na região demarcada do Moscatel de Setúbal, e oferecem várias atividades como as visitas guiadas.

Destacam-se vários ex-líbris da arte paisagista: a Quinta da Bacalhoa, emblemática na sua conceção renascentista de quinta e pomar ajardinado que remonta ao século XIV, a Quinta das Torres italianizante, construída no século XVI, ou o Palácio e Jardins do Calhariz, propriedade do Ducado de Palmela.

O Parque Natural da Arrábida, instituído em 1976, é dominado pelo maciço calcário que atinge os 501 metros no Alto do Formosinho; é na vertente Norte que encontramos as quintas que ao jeito das villas da renascença italiana, buscam no horizonte os panoramas banhados de sol do skyline de Lisboa. A serra proporcionava também a caça grossa, os bons ares e o recreio aristocrático e burguês preconizado pelo Decameron, por Alberti e pelas villas palladianas, a uma curta distância de barco do centro da capital.

A Sintra da margem Sul e o núcleo antigo de Vila Nogueira de Azeitão

Abril é o mês das florações dos perfumes e do renascer de uma paisagem renovada depois do silêncio e do sono do inverno, e o despertar de um confinamento e estado de emergência imposto pela pandemia de coronavírus. E que melhor local para desconfinar e testemunhar estes ciclos da Natureza do que a serra da Arrábida, centrada no núcleo antigo de Vila Nogueira de Azeitão e na companhia do seu poeta, Sebastião da Gama (1924-1952).

Que melhor forma de sentirmos esta Sintra, da outra margem Sul, do que percorrermos séculos da nossa História e admirarmos a arquitetura renascentista do palácio ducal dos Aveiro, o convento de S. Domingos, molduras arquitetónica e paisagística do Rossio de Vila Nogueira onde ombreia o Pelourinho e, ali mesmo ao lado, visitar a Casa José Maria da Fonseca, ouvir a descoberta do Moscatel de Setúbal, ver as antiquíssimas adegas e degustar, na loja, os seus excelentes vinhos.

A Quinta da Conceição

A uns escassos cinco quilómetros de Vila Nogueira na Aldeia de Irmãos, a estrada bifurca-se, entramos num caminho rural e surge um portão discreto que prenuncia algo de grandioso… Aqui constrói-se o presente e faz-se reviver o passado com a sua casa e jardins desenhados no século XVIII pela família holandesa Cremer, e recuperados de um total abandono, para turismo rural, pela sensibilidade do seu novo proprietário Matt Gruninger. A história da sua construção remonta ao reinado de D. Pedro II, quando António Cremer, almirante holandês, chega a Portugal e quando, no reinado de D. João V, a partir de 1725, é nomeado intendente da Pólvora do Reino.

A pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição que encima a entrada do Solar dá o nome à quinta, e a lápide junto à capela, com inscrição em latim, esclarece:

D. António Cremer, cavaleiro da Ordem de Cristo, almirante dos Países Baixos, encarregado geral dos negócios de Portugal, e sua mulher muito querida, D. Catarina Sofia Van Zeller, tanto para satisfazerem a própria devoção como a dos vizinhos, levantaram este pe-queno templo a Deus Bom e Grande e à Pura Conceição Imaculada Virgem Mãe de Deus. Edificaram mais as casas juntas para seu repouso e plantaram o jardim. A pedra fundamental foi lançada no primeiro dia de Maio de 1715, depois da publicação do tratado de paz entre Portugal e Espanha e, no dia 8 de Setembro do mesmo ano, tiveram lugar na capela os primeiros ofícios religiosos. Aceita, ó, Virgem, estes altares que te consagramos e não desprezes, deusa benigna, a pequena dádiva.

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