Em pouco mais de 30 quilómetros, entre o antigo Paço da Ribeira, atual Praça do Comércio, e o Paço Real da Cidadela de Cascais, sucedem-se oito paços reais com arquiteturas e paisagens de grande qualidade e de grande diversidade.
Fica aqui o convite para uns bons 30 minutos a planear um percurso para usufruir ainda hoje destes espaços por vezes ainda desconhecidos, num “continuum” de jardins e paços resultado de gerações de monarcas em busca de espaço e de desenhos que acompanhassem as sucessivas modas e estilos de jardins e parques das casas reais europeias.
Em pouco mais de 30 quilómetros entre o antigo Paço da Ribeira, atual Praça do Comércio, e o Paço Real da Cidadela de Cascais, sucedem-se oito paços reais com arquiteturas e paisagens de grande qualidade e de grande diversidade.
O início – O Paço da Ribeira Manuelino
Em princípios do século XVI, no auge do Império Português e da época dos Descobrimentos, D. Manuel I deixa a residência do Paço da Alcáçova do Castelo de São Jorge e constrói mesmo sobre a margem do Mar da Palha o Palácio Real. Destruído, dois séculos e meio depois, pelo Terramoto de 1755, foi substituído pelos edifícios da atual Praça do Comércio pombalina, no entanto, os torreões seguem a volumetria do célebre torreão quinhentista atribuído ao italiano Filippo Terzi (1520-1597) e pode dar-nos ideia da escala do Paço Real Manuelino.
Paço Manuelino de Santos-o-Velho
Contemporâneo da obra do Terreiro do Paço e distante cerca de dois quilómetros e meio, D. Manuel inicia a edificação de um palácio real, o Paço Real de Santos numa escarpa, sobranceiro ao plano de água. Já no século XVII, é adquirido e passa a residência palaciana dos marqueses de Abrantes. Hoje é a Embaixada de França, com os jardins de onde se destaca a mesa de pedra sobranceira à paisagem de água do Mar da Palha, onde, segundo a tradição, D. Sebastião tomou a sua última refeição antes da partida para Alcácer Quibir.
Paço Convento e Tapada da Real Quinta das Necessidades
Cerca de três quilómetros à frente, sobranceiro à ribeira de Alcântara e à antiga ponte do termo da cidade, ergue-se ainda hoje na paisagem a torre sineira e o excelente edificado das Necessidades, expressão de uma arquitetura de ostentação e poder joanino, que mantém intacta a qualidade paisagística ambiental e artística do barroco em diálogo com o romantismo, o neoclassicismo, a diversidade botânica e a arte dos jardins dinamizada no século XIX pelo nosso monarca consorte D. Fernando II de Saxe-Coburgo-Gota.
Paço de Alcântara e a Real Quinta do Calvário, Tapada da Ajuda
Encontrávamos logo abaixo das Necessidades, no Largo do Calvário, o paço setecentista de D. João IV, da Restauração, e a Real Quinta do Calvário, que ainda hoje nos oferece um vislumbre da sua poderosa arquitetura no monumental edifício das antigas cavalariças, gerido, desde 1911, pela Sociedade Promotora de Educação Popular, uma associação local de cultura e educação, com a videoteca municipal.
Paço de Belém e Paço da Ajuda
Mais dois quilómetros ao longo da enfiada de quintas de recreio e jardins da rua da Junqueira e estamos no Paço de Belém, um imenso complexo palaciano hoje palácio presidencial. Sentimos neste espaço a vontade joanina de um plano para construir algo que se assemelhasse ao Palácio e Parque de Versalhes e ao Rei Sol; ficou a aquisição de três quintas de recreio que se interligam com a Tapada da Ajuda. Hoje constitui um complexo cultural, arquitetónico, paisagístico e histórico que se centra entre o Paço de Belém, Museu dos Coches e Jardim e Museu Agrícola Tropical e o Museu do Paço da Ajuda com o futuro Museu das Joias da Coroa. D. João V não construiu aqui o seu Versalhes, mas hoje é o epicentro de uma intensa vida cultural lisboeta centrada nos paços reais.
O Paço e a Real Quinta de Caxias
Ainda dentro deste percurso estuarino e da frente ribeirinha, já no concelho de Oeiras, o consorte de D. Maria I, Pedro III, constrói, na segunda metade do século XVIII, mesmo a beira de água, a magnífica Real Quinta e Paço de Caxias com a monumental cascata frente ao oceano e à estrada real, com programa escultórico em terracota, da autoria de Machado de Castro, centrado no banho de Diana, na simbologia do tempo, nas estações do ano e nos trabalhos de Hércules.
O Paço da Cidadela de Cascais
O último refúgio do protocolo e da vida palaciana dos nossos últimos monarcas do final do século XIX e da primeira década do século XX, é um bastião protegido pela fortaleza setecentista, onde se privilegiava já a moda do efeito balsâmico e curativo dos passeios à beira-mar, em setembro e outubro, e onde a linha já aparecia emoldurada pelo comboio inaugurado em 1889-1895.