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GreenItaly: Onde Parma se tornou o Jardim do futuro

Há cidades que nos recebem com pressa. Parma não é uma delas. Entre os dias 15 e 17 do passado mês de outubro, a cidade abriu as suas portas de forma serena para a primeira edição da Greenitaly, encontro internacional dedicado à horticultura, ao paisagismo e à inovação sustentável. Um evento que reuniu milhares de profissionais vindos de mais de 20países, todos com a mesma pergunta na mala: como é que se pode florescer sem esquecer o planeta?

Promovida pela Fiere di Parma, em colaboração com a AIPH (Associação Internacional de Produtores de Horticultura), a ANVE e a ICE-ITA, a feira apresentou-se como uma nova plataforma de referência para o futuro verde das cidades, um espaço de encontro entre tecnologia, Natureza e design. No fundo, um grande laboratório de ideias onde cerca de 200 empresas e instituições apresentaram soluções que já estão a mudar a forma como cultivamos, construímos e habitamos o espaço urbano. E, no meio de tantas plantas, produtos e ideias, sentia-se também algo mais discreto, mas essencial: uma vontade partilhada de cooperar em torno dum mesmo desafio: tornar a transição ecológica tangível e economicamente viável.

Parma, uma cidade que respira futuro

Parma é conhecida por ser casa de sabores que atravessaram fronteiras, onde o presunto e o parmesão já são quase cidadãos do mundo. Mas, nesta cidade, o sabor do futuro também se cultiva. A aposta em políticas de mobilidade suave, na preservação de espaços verdes e na convivência harmoniosa entre património arquitetónico e inovação tecnológica foi um dos temas que mais impressionou quem visitou a cidade durante a Greenitaly. Ali, as ruas contam história, mas também apontam para o que está para vir. Durante a feira, esse espírito foi tema recorrente nas conversas: como transformar cidades patrimoniais em ecossistemas vivos, capazes de responder às alterações climáticas sem perder identidade.

Tendências que desenham a transição ecológica

Na área expositiva, as grandes tendências da transição ecológica surgiam ligadas por um mesmo fio condutor: produzir melhor para viver melhor. A horticultura inteligente mostrou que o cultivo pode poupar água e energia sem abdicar da qualidade. O paisagismo urbano apresentou-se como antídoto para o aquecimento das cidades e para o disparar da biodiversidade; a tecnologia verde surgiu como parceira das árvores e dos jardins, com softwares que ajudam a gerir recursos de forma mais eficiente, e o design sustentável provou que a estética e a responsabilidade ambiental podem coexistir quando se escolhem materiais circulares e de baixo impacto.

Entre os corredores da Greenitaly, esta aliança entre natureza e ciência materializava-se em exemplos concretos. Os Carabinieri della Biodiversità mostravam como a regeneração natural precisa do apoio humano, monitorizando o crescimento das plantas ao nível microscópico e educando para a preservação dos ecossistemas. Ao lado, os Dottori delle Piante ensinavam a ler os sinais de uma árvore, a detetar doenças invisíveis e a agir antes do irreversível, uma verdadeira tradução entre espécies. No sector das tecnologias urbanas, a empresa Green Spaces, referência no mapeamento digital da arborização urbana, apresentava um software capaz de monitorizar em tempo real a saúde das árvores e otimizar recursos públicos, soluções já testadas em Milão e, quiçá, de olhos postos em novas cidades europeias. Nas zonas dedicadas ao paisagismo, destacavam-se composições de plantas vivazes e gramíneas provenientes de pequenos e grandes produtores italianos, evocando jardins que ondulam ao vento e oferecem frescura: o remédio natural para ilhas de calor e uma promessa de recuperar a biodiversidade.

O design italiano também teve o seu lugar. Um casal italiano apresentou Frangivista, mobiliário e gradeamentos feitos de pedra natural esmaltada–peças únicas que unem arte, resistência e consciência ambiental, com processos de produção lentos e artesanais. Ainda no tópico da decoração, um grande destaque para Un Mondo Comodo, uma marca familiar que mostrou que o melhor design só resiste com qualidade. Já a Domino apresentou-se como ponta de lança nas floreiras modulares, feitas de metal e plástico reciclável. Mostraram como o design urbano pode ser flexível, sustentável e acessível, reduzindo emissões e custos num processo digital que abrange também o mercado português.

Histórias, encontros e uma nova rede verde

Houve ainda espaço para a história e a memória verde: uma exposição de dendrocronologia revelou os anéis de uma tília de 1770, que viveu no Parque Ducal deParma. Nas suas camadas estavam registados não só os anos da árvore, mas também os da própria humanidade–uma lembrança de que o tempo da Natureza é também o nosso.

A feira não viveu apenas de ideias: negócios já germinam. O Buyers Program da Greenitaly, organizado em parceria com aItalian Trade Agency(ITA), destinado a profissionais internacionais selecionados do sector ofereceu uma experiência VIP que foi além da visita da feira: incluiu acesso ao Buyers’ Lounge, agenda de reuniões personalizadas com expositores através de ferramenta digital, eventos de networking exclusivos, visitas técnicas e itinerários temáticos para explorar a excelência italiana. Estes contactos começarão agora a dar frutos, uma rede verde que cresce projeto a projeto.

E entre soluções tecnológicas e compromissos comerciais, havia também um brinde ao que nasce pequeno: Il Cantiniered’Italia, produtores de vinho que trouxeram à Greenitaly o melhor da região, mostrando que a sustentabilidade também se saboreia–com cultura, tradição e tempo.

As conferências completaram este mosaico vivo. Investigadores, autarcas, jovens empreendedores, gestores de espaços verdes e líderes do sector partilharam estudos, experiências e desafios. A conversa fluía como quem troca sementes: ideias lançadas em solo fértil, destinadas a germinar noutros territórios. Foram discutidas iniciativas de economia circular, estratégias de resiliência urbana e formas de envolver a comunidade na preservação dos seus ecossistemas.

No final, ficou a sensação de que algo importante tinha sido plantado. A Greenitaly não foi apenas uma feira bem organizada nem um calendário de conferências inspiradoras. Foi um marco que coloca Parma num novo mapa: o das cidades que fazem da sustentabilidade uma prioridade concreta e diária. Acolheu ideias vindas de muitos lugares, mas devolveu-lhes um contexto, um exemplo, uma escala humana onde o futuro sustentável se torna mais tangível. Fica a certeza de que a transformação já está em marcha e de que se pode construir um mundo mais verde: planta a planta, cidade a cidade, ideia a ideia

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