Este mês, vou falar de algo belo e precioso. A sua delicadeza lembra algo criado por um ourives com um invulgar sentido estético e uma enorme paciência. Não falo de uma peça de joalharia mas sim de joias da natureza. Apresento-lhes as Restrepia.
Origem e habitat
São orquídeas que vivem nas chamadas florestas nebulosas por estarem frequentemente cobertas por um nevoeiro cerrado ou por, devido à sua altitude, serem atravessadas por nuvens. A humidade é alta, as temperaturas nunca muito elevadas. As altas montanhas da cordilheira dos Andes são o seu habitat mais típico, mas também são encontradas em climas semelhantes no Sul do México, por toda a América Central até à Venezuela, Equador e Colômbia. O seu tamanho pode classificá-las no que chamamos de micro-orquídeas, mas, nas cerca de 50 espécies que constituem o género Restrepia, há algumas que atingem um tamanho médio. Não têm pseudobolbos, são constituídas por ramicaules que terminam numa folha única, oval e grossa, de cor verde. Na base da folha nasce um fino pedúnculo que vai originar um botão e posteriormente uma flor. Uma só flor de cada vez em cada folha, mas com duas ou três florações sucessivas. Numa planta com alguns anos, podemos obter dezenas de flores ao mesmo tempo. As Restrepia dão flores ao longo do ano sem uma época de floração bem definida.
O cultivo
São fáceis de manter e de florir. Devemos ter cuidado com as altas temperaturas no verão. As Restrepia podem ser cultivadas no exterior e toleram temperaturas entre os 10 e os 30 graus. No verão, devemos colocá-las num local fresco e arejado, à sombra, e estar atentos para que o substrato nunca seque. Se viverem em locais muito frios ou muito quentes, podem cultivar estas orquídeas em casa, num local arejado. No interior e no exterior, devemos protegê-las do sol.
Na natureza, crescem nas árvores, são maioritariamente plantas epífitas, podendo crescer agarradas às rochas. Em casa, devem ser cultivadas em vasos pequenos ou podem ser montadas em pedaços de madeira ou cortiça. Sendo plantas que gostam de humidade e que não têm pseudobolbos onde podem fazer reservas de água, nunca devemos deixar o substrato secar para não matarmos as plantas por desidratação. Há uma diferença entre um substrato húmido e um ensopado, que vai apodrecer as raízes e desenvolver fungos. O segredo é obter uma mistura que retenha humidade mas tenha drenagem.
O substrato pode ser variado: há quem cultive em musgo de esfagno, em fibra de coco com cerca de 1 cm no máximo, e quem faça misturas de casca de pinheiro fina, fibra de coco, musgo de esfagno e perlite. Se temos tendência para regar muito, devemos ter um substrato com mais drenagem, se regamos menos, devemos usar substratos que retenham mais água. Se utilizarmos musgo de esfagno, este deve ser substituído todos os anos. A melhor água é a da chuva ou destilada. Regamos uma vez por semana, mais no verão e fertilizamos em regas alternadas ou sempre, com uma dose mais fraca de adubo.
O nome
A espécie tipo deste género é a Restrepia antennifera e foi descrita pela primeira vez por Carl Sigismund Kunth, em 1816. O nome Restrepia homenageia José Manuel Restrepo Veléz, um antigo governador do departamento de Antioquia, na Colômbia, que se interessou muito pela geografia, fauna e fl ora do seu país, tendo um gosto especial por orquídeas.
Propagação
Além de muito bonitas e apesar da sua aparência frágil, estas orquídeas são muito resistentes. A sua propagação é muito fácil, pois emitem normalmente filhotes – Keikis – na base das folhas ou podemos fazer estacas com folhas maduras, que já tenham florido, que enraízam facilmente. Uma vantagem para os colecionadores é ocuparem pouco espaço. As Restrepia estão a ser descobertas pelos orquidófilos portugueses e são cada vez mais cultivadas no nosso País.
Fotos: José Santos
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