Revista Jardins

As perfumadas Stanhopea

Stanhopea anfracta

Todos os amantes de orquídeas que já visitaram a ilha da Madeira com certeza que estão familiarizados com as “orquídeas-passarinho” ou os “melrinhos”. As caraterísticas que encantam quem admira estas orquídeas em flor são, primeiro que tudo, o seu perfume forte e adocicado.

Depois a forma estranha das flores que aos olhos de muitos se assemelham a aves em pleno voo e por fim uma particularidade estranha, as flores crescem por baixo da planta, furando pelas raízes e emergindo penduradas em gloriosos cachos.

Não se sabe bem como foram parar aos quintais madeirenses pois são originárias da América Central e do Sul e o seu nome correto nada tem a ver com aves. São as Stanhopea.

Um pouco de História

A primeira gravura de uma Stanhopea foi desenhada pelo espanhol Fernando Hernandez, um médico particular do rei Filipe II de Espanha. Em 1569 o rei incumbiu-o da tarefa de viajar para “Nova Espanha” (assim se chamava na altura o México) e que  fizesse um registo natural de mapas e descrições de todos os animais, plantas e minerais que encontrasse.

E assim, acompanhado de vários peritos em diversas ciências, viajou pelo México durante cinco anos descrevendo e desenhando tudo o que encontrava.

Quando regressou a Espanha trazia consigo uma obra de 16 volumes que nunca chegou a ser totalmente publicada. Nessa obra havia a descrição de cinco plantas que mais tarde vieram a ser inseridas na família das Orchidaceae . Uma delas, que Hernandez chamou de Coatzonte Coxochitl.

É hoje conhecida como Stanhopea hernandezii . No entanto só muito mais tarde, em 1829, foi descrito pela primeira vez o género Stanhopea.

William Hooker recebeu uma planta em flor nos jardins de Kew, enviada por John Frost fundador da Sociedade Médico-botânica de Londres. A planta trazia um pedido explícito: que fosse descrita e registada como Stanhopea, em honra do presidente da mesma sociedade, Sir Philip Henry Stanhope, o 4º Conde de Stanhope. A primeira espécie a ser descrita foi a Stanhopea insignis.

As Plantas

Estas orquídeas podem ser encontradas desde o México até ao Norte da Argentina. Crescem a grandes altitudes em florestas húmidas. São encontradas a viver de forma epífita, fixas nos trocos ou ramos de árvores e também em encostas rochosas. São constituídos por pseudobolbos ovalados com uma única folha no topo.

Os pseudobolbos vão crescendo muito juntos e quando as plantas têm uma certa maturidade, emitem haste florais na base do pseudobolbo que penetram no substrato e nas raízes e vão aparecer por baixo da planta. Essa haste floral divide-se em vários botões, dependendo da espécie, que depois de abertos emitem um forte perfume para atrair os polinizadores (abelhas verdes do género Euglossa).

Stanhopea tigrina var. nigroviolacea

O cultivo

Nas nossas casas as plantas são normalmente cultivadas em cestos suspensos, de arame ou de madeira ou em vasos com diversos buracos grandes na lateral e fundo do vaso, de modo a permitir que as hastes florais saiam e abram as suas magníficas flores com cores que podem ir do branco, passando pelos amarelos, laranjas até ao vermelho escuro, quase negro de algumas Stanhopea
tigrina var. nigroviolacea.

O único aspeto mais negativo é a duração das flores que, depois de abertas, não duram mais do que meia dúzia de dias.

O substrato

O substrato deverá ser uma mistura de casca de pinheiro média, fibra de coco grada, musgo de esfagno e perlite. Assim, a planta tem a drenagem necessária para que as raízes não apodreçam mas também, com a perlite e o musgo, para manter o substrato sempre com alguma humidade. Não devemos deixar que o substrato seque completamente.

A temperatura

As temperaturas ideais são entre os 12-15 graus de mínima podendo chegar um pouco acima dos 30 graus de máxima. Em muitos locais de Portugal podem ser cultivadas no exterior e mesmo com temperaturas mais baixas. Nessas alturas protegem-se as plantas da chuva e suspendem-se as regas quase totalmente. Os reenvasamentos devem ser feitos no outono, após as florações e se dividirmos uma planta, devemos ter em atenção em deixar sempre pelo menos 3 pseudobolbos juntos para a planta não ficar demasiado fraca. São orquídeas muito bonitas e peculiares que se cultivam facilmente no nosso país, mesmo no exterior. Um género muito interessante.

Fotografias: José Santos

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