Revista Jardins

As plantas e a saúde

Somos nós, cada um de nós, todos os dias, em cada gesto, em cada decisão que tomamos, em cada palavra que dizemos, em cada abraço que damos, em cada planta que cuidamos, em cada refeição que comemos, somos nós os principais causadores de doenças e os principais criadores de saúde. Acredito plenamente que temos a saúde nas nossas mãos.

Convém aqui ressalvar que obviamente e infelizmente existem exceções e existem os médicos que nos apoiam e nos ajudam, existe uma rede de saúde pública que vai funcionando aos solavancos mas que em situações muito pontuais nos poderão salvar a vida.

Uma mão-cheia de plantas que curam

Sou apologista da prevenção e isso, o nosso sistema nacional de saúde ainda faz de forma muito precária, quando o faz. Educar para a saúde, eis o caminho que na minha opinião, devia ser seguido por todos os nossos profissionais de saúde e professores.

Os nossos hábitos alimentares e o nosso estilo de vida contribuem grandemente para o rumo que a nossa vida tomará.

Roseira-brava

Trabalhar a terra e cultivar são terapias naturais

E a propósito de estilos de vida, todos sabem que cuidar de um jardim, de um canteiro, de uns vasos numa varanda e deixar-se deslumbrar pelos pequenos e grandes milagres de cada dia nos nossos jardins, assim é deliciar-se com a vida, é sentir-se parte da criação, é apreciar e agradecer.

Que melhor terapia do que sair de manhã cedo para o jardim e perceber que as flores da feijoa (Feijoa sellowiana) e do araçá (Psidium myrtoides) que trouxe dos Açores para o meu jardim de Sintra (que me perdoem os botânicos puristas, mas ambas árvores adoram o clima de Sintra) estão todas em flor e que são parecidas com as flores do eucalipto, claro, ambas pertencem à família das Mirtáceas.

Flor de feijoa

Frutos e flores da feijoa

Levo à boca as pétalas branquinhas e suculentas que sustentam uma profusão de estames salientes e vermelhos e as minhas papilas gustativas acham que estão a saborear néctar dos deuses e estão mesmo. Façam a experiência.

As flores da feijoa podem assim ser consumidas em saladas, sobremesas e bebidas. Os seus frutos, muito ricos em vitamina C, vitamina A, vitamina B6 e magnésio, têm um sabor que é um misto entre o ananás e a goiaba, daí o seu nome inglês de pine apple guava.

O hipericão

Deslumbro-me e seguro nas minhas mãos as primeira flores de hipericão, agradecendo a sua generosidade pois irei transformá-las num bonito óleo macerado de cor vermelha que usarei em feridas, queimaduras e dores ciáticas ou lombalgias.

A delicadeza e poesia de uma flor de cerejeira lavada pela chuva

As flores da cerejeira

As flores de cerejeira num outro recanto do jardim revelando as semelhanças com as flores das framboeseiras, dos morangueiros, das ameixeiras, dos marmeleiros, das macieiras, uma grande família, aliás, uma das maiores, a família das Rosáceas.

Todas estas flores são comestíveis mas é óbvio que o que desejamos são os frutos e portanto o consumo de flores tem de ser algo moderado e pontual.

Beterraba

Os legumes e a saúde

No canteiro dos legumes, misturam-se beringelas e borragens, calêndulas e rúcula, coentros e manjerona, tomilhos e favas num alegre e saudável convívio entre famílias.

São as mãos que cuidam da terra, que colhem aquilo que semearam e que fazem com que a alma sinta a alegria de colhermos os frutos que com tanto carinho fomos cuidando.

A nossa saúde está muitas vezes, quase sempre, ligada a essa alegria, a esse saber cuidar, a essa comunicação com a terra e aquilo que ela nos dá.

Como se fosse necessário, existem estudos que comprovam que viver em harmonia, intimidade e ligação com a natureza é uma excelente terapia e portanto uma medicina que está nas nossas mãos.

Fotos: Fernanda Botelho

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