Revista Jardins

Azinheira

Uma árvore mediterrânica, muito resistente e com grande misticismo.

A árvore escolhida para este mês é aquela em que a Nossa Senhora aparece aos pastorinhos de Fátima, uma azinheira. A mesma árvore que doou a sua madeira para a cruz de Jesus quando todas as outras árvores foram demasiadas fracas para tal. A azinheira é reconhecida por mim com muito respeito, sobretudo pela sua força e misticismo. A sua folhagem muito densa mostra-se sempre verde e pronta para nos acolher na sua sombra. Espaçosa, adora o sol pleno, por essa razão, em Portugal é comum em todo o território, principalmente na região com maior influência mediterrânica. Quando atinge uma idade entre 8 e 10 anos, as flores femininas produzem o fruto bolota, que é comestível e belo por natureza, e rico em vitaminas e taninos que são usados no tingimento natural. Esta é uma maneira muito ecológica de dar cor às suas peças de vestuário de fibras naturais.

Aplicação no tingimento natural

Quando as bolotas atingem o amadurecimento, a árvore expele-os, entre outubro e dezembro. A coleta consciente da bolota para o tingimento natural é realizada após ventos fortes e alternando entre as árvores de azinheira. Ou seja, não devemos apanhar todas as bolotas caídas no chão de uma única árvore. Uma das características da colheita é o chamado chapéu da bolota, que, por vezes, acompanha a bolota durante a coleta e se desprende da bolota, deixando-a nua. No tingimento natural, acompanhamos o ciclo natural: se o chapéu quiser vir, tudo bem, se decidir ficar, também está tudo bem. Após a colheita, basta fazer um chá de bolota mais chapéu e utilizar no tecido previamente tratado com mordentes. Para extrair todo o potencial deste fruto, eu gosto de aquecer, deixar ferver e desligar o lume. E repetir esse processo com o mesmo chá durante alguns dias antes de tingir o tecido. Ao adicionar um pouco de sulfato de ferro (também usado como fertilizante de plantas), o caldo torna-se de amorenado claro para preto.

Relação psicoexistencial

A azinheira sintetiza uma união harmoniosa dos poderes da luz e da sombra. Quando uma pessoa se perde entre pensamentos, por vezes obscuros, a azinheira ajuda a guardar o espaço interior original, por cima da densa camada de inconscientes duros e inquebráveis, como a bolota. Apesar de representada pela cor escura, a azinheira permite aos sentimentos captarem uma luz não difusa pela fixação exterior. A luz é cíclica, tranquila e obedece aos ciclos da Natureza, como a mãe terrestre grávida da criança celeste que repousa calmamente e bem abrigada debaixo da azinheira. O impulso curador e transformador refletido na peça de tecido natural tingido por essa planta auxilia no retorno para si mesmo.

A quem se dirige

Aconselho o uso dessa planta através do tingimento natural a todas as pessoas que desejam a tomada de consciência, que este mundo não oferece apenas o bem ou o mal, o certo ou errado, a sombra e a luz, mas muito mais para além desta dualidade. Eleva a nossa imagem interior, leva ao respeito de ideias e de si, e o recentramento energético.

Exit mobile version