Uma caminhada na Tapada da Ajuda e Instituto Superior de Agronomia.
O Instituto Superior de Agronomia (ISA) e a Tapada da Ajuda são uma referência para muitas gerações de estudantes que por lá passaram. Eu faço parte desse grupo de privilegiados e foi com grande alegria que recentemente lá regressei para redescobrir novos trilhos, caminhos pedonais e cicláveis renovados no âmbito de Lisboa Capital Verde Europeia 2020, que ligam a Tapada a Monsanto e Alcântara.
Mais do que uma descrição exaustiva do que se pode descobrir percorrendo os trilhos da tapada, que seria difícil sintetizar em duas páginas, por serem inúmeros os pontos de interesse quer ao nível do edificado quer dos valores naturais, e desnecessário por estarem bem organizados em vários núcleos e perfeitamente identificados por sinalética recente, interessa contar algumas histórias e curiosidades que só os que fazem parte da “casa” conhecem.
O acesso ao espaço intramuros classificado como imóvel de interesse público, com cerca de 100 hectares, é feito pelo Portão Jau, que conduz ao Edifício Principal por uma alameda de velhas olaias (Cercis siliquastrum). A exuberante floração rosa ocorre antes do aparecimento das folhas em abril-maio, início da primavera. Dizia-se que, para os alunos que não tivessem começado a estudar para os exames antes de as olaias entrarem em flor, “era chumbo na certa”.
O edifício principal desenvolve-se em torno dum claustro, o Pátio do Quercus, e coração da vida académica do ISA. O carvalho ali plantado em 1931, vindo das matas do Vimeiro (Quercus x coutinhoi Samp.), é um híbrido entre o carvalho-cerquinho (Quercus faginea ssp. Broteroi) e o carvalho-alvarinho (Quercus robur). É uma das árvores mais emblemáticas do instituto e dá nome ao jornal da associação de estudantes, O Quercus.
Das plantas que simetricamente ladeiam a entrada principal do edifício, destaca-se o azevinho (Ilex aquifolium), espécie dioica, ou seja, os indivíduos masculinos e femininos são distintos. Curiosamente estes exemplares possuem os dois géneros no mesmo indivíduo por terem sido enxertados.
A estrada em frente da entrada do edifício é conhecida por Rampa da Asneira. Este curioso nome deve-se ao facto de ter havido um erro de implantação no início da construção. A fachada principal deveria ter ficado virada a sul, alinhada com o acesso da Rua Jau, mas, por engano na orientação da planta, ficou virada a nascente, sem estar alinhada com nenhum dos portões.
A tapada é muito rica em água, devido a estar localizada entre os calcários de Lisboa e o afloramento basáltico de Monsanto. As quatro minas de água, com cerca de 400 anos, abasteciam os vários lagos e tanques, garantindo as necessidades de rega dos campos agrícolas e jardins.
O miradouro, situado a 135 metros de altitude, sobre um depósito de água proveniente das minas, proporciona belas vistas sobre Lisboa e o Tejo – aí existe um dos mais antigos marcos geodésicos de Portugal.
Na Eira Velha, terreno cercado situado a norte da tapada, estão residentes alguns garranos do Gerês que certamente serão um atrativo especial para os mais pequenos. Ao percorrer os trilhos da tapada, vai descobrir inúmeros recantos e, num deles, um banco com uma lápide: Banco de Junot. Diz-se que este general francês, que comandou as invasões francesas a Portugal e se instalou no Palácio da Ajuda, gostava de passear na tapada e ver o pôr do Sol no Tejo desse banco.
Os grandes ex-líbris da tapada são sem dúvida o Pavilhão de Exposições e o Observatório Astronómico de Lisboa, que poderão conhecer assim como muitos outros sítios únicos à espera de serem descobertos.
CONSELHOS PRÁTICOS
1. Aceder por carro é possível, embora seja desencorajado; é preferível programar a sua visita utilizando os transportes públicos.
2. O seu amigo de quatro patas é muito bem-vindo desde que cumpra as regras; existem animais e fauna selvagem que não devem ser perturbados.
3. Convém ir prevenido com água e alguma coisa para comer; um piquenique é uma excelente ideia.
4. Embora existam quatro portões, deverá considerar o acesso pela Rua Jau, pois os restantes podem não estar abertos.
5. Os seguintes mapas de apoio podem ser descarregados:
Mapa da Tapada, com a identificação dos trilhos e dos diferentes núcleos: www.isa.ulisboa.pt/files/site/pub/Mapa_da_Tapada_da_Ajuda_trilhos_0.pdf
Roteiro Botânico da Tapada. Existem 3 percursos distintos; as espécies mais representativas estão identificadas com placas: www.isa.ulisboa.pt/files/site/pub/TAPADADAAJUDA-PORTUGUES.pdf