Desta vez, a proposta é caminhar pela zona da praia do Magoito, descobrindo de forma diferente uma das mais belas praias do concelho de Sintra. Inserida no Parque Natural Sintra-Cascais, é conhecida pelo elevado teor em iodo, o que faz com que seja muito procurada para fins terapêuticos. Possui, no entanto, muitos outros motivos de interesse, destacando-se a geologia, a flora e a paisagem.
O percurso integra o Caminho do Atlântico, num pequeno troço da Grande Rota GR11-E9, cujo objetivo é vir a ligar Tarifa (Espanha), ponto onde mar Mediterrânico dá lugar ao oceano Atlântico, a São Petersburgo (Rússia), acompanhando o mais possível a linha de costa e passando por 12 países.
Esta rota já conta com mais de 350 km marcados em Portugal e cerca de 5000 km nos restantes países europeus. Idealizámos um percurso circular, com início no vale da Ribeira da Mata, precisamente a meio da estrada de Fontanelas para A-dos-Eis, no ponto onde se avistam os três moinhos no tipo da colina.
Percorrendo o vale da Ribeira da Mata até à praia do Magoito, onde deverá decidir tomar o caminho das arribas ou o da praia, conforme a hora da maré baixa, até à praia da Aguda e regressando no sentido inverso. Infelizmente, a escadaria de acesso à praia da Aguda nem sempre se encontra transitável por razões de segurança e nesse caso não será possível fazer o caminho de forma circular.
Deverá certificar-se antecipadamente se o acesso está aberto e programar a sua caminhada em função disso e da hora da maré baixa.
De grande relevância são os elementos geológicos existentes na praia, nomeadamente a duna consolidada ou duna fóssil do Magoito.
De elevada raridade, encontra-se classificado como geomonumento e corresponde a um processo de evolução da areia solta para a rocha arenítica pela ação de um cimento natural, calcário ou argiloso que ao longo de milhares de anos provoca a aglutinação dos grãos de areia, originando a duna consolidada. Os sulcos visíveis permitem pinheiros determinar a direção do vento dominante na altura da sua formação.
As arribas quase verticais que se desenvolvem para sul do Magoito são constituídas por camadas horizontais de diferentes tipos de rocha. Com diferentes durezas, a ação da erosão é mais eficaz nas camadas mais brandas, o que faz com que as camadas superiores deixem de ter sustentação e acabem por cair, provocando um recuo progressivo da arriba para o interior; este processo é denominado arriba viva.
A paisagem é diversificada ao longo do vale da Ribeira da Mata, a galeria ripícola que acompanha a linha de água é densa, embora algo degradada por espécies invasoras, tais como a cana (Arundo donax) e a silva (Rubus sp.), as condições de frescura e humidade permitem o aparecimento de muitas espécies arbustivas e herbáceas, incluindo fetos.
Nas encostas, dominam os pinheiros (Pinus pinaster subsp. atlantica), que, à medida que nos aproximamos da praia, vão sendo cada vez mais raros, dando lugar à vegetação dunar, rasteira e de cor clara, adaptada às condições de secura e excesso de insolação. Nas arribas, onde os ventos fortes são fator limitante ao crescimento das plantas, dominam as espécies arbustivas que crescem prostradas em “almofada”, tais como a sabina-da-praia (Juniperus turbinata) e o carrasco (Quercus coccifera).
A zona tem um elevado valor florístico, existindo inúmeros endemismos, ou seja, plantas que ocorrem somente num determinado local ou região. Neste local, além de diversos endemismos lusitânicos, merecem um destaque especial os endemismos locais: Armeria pseudarmeria; Dianthus cintranus subsp. cintranus; Omphalodes kuzinskyanae e Silene longicilia. Terminamos a caminhada com os olhos cheios de paisagens únicas. Esperamos ter contribuído para despertar a curiosidade sobre esta região, divulgando o seu património natural e sensibilizando para a sua proteção e valorização.
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