Revista Jardins

Cutieira

Em agosto de 2003, quando estava a inventariar a flora dos jardins do velho hotel Savoy para a minha tese de doutoramento – Estudo Fitogeográfico dos Jardins, Parques e Quintas do Concelho do Funchal –, detetei uma árvore que nunca tinha observado noutro jardim na Madeira, nos Açores, em Portugal Continental, na Europa e na América do Norte.

Não tinha flores, a morfologia das folhas não me dava indícios quanto à espécie, género e até família. Um fruto seco entre a densa folhagem também não constituía grande ajuda para a sua identificação.

Para completar o inventário florístico faltava-me conhecer o nome daquela árvore solitária encostada ao muro da Rua Imperatriz D. Amélia.

FLORES E FRUTOS

Sucederam-se variadíssimas observações, que me permitiram registar a floração entre fevereiro e junho, a persistência da folhagem e a ocorrência de escassos frutos. Paralelamente, consultei muita bibliografia – na altura não conhecia o Doutor Google – com o objetivo de saber o nome científico, a família e a origem daquela desconhecida.

Só ao fim de um ano de frequentes convívios e incontáveis dúvidas consegui saber que se chama Joannesia princeps, pertence à família Euphorbiaceae e é nativa do Brasil (Mata Atlântica e Caatinga), onde é conhecida por variadíssimos nomes, entre os quais cutieira, boleira ou purga-de-cavalo.

O FUTURO DA CUTIEIRA

Após ter desvendado o enigma da sua identidade, há quase 17 anos, continuei a visitá-la com alguma frequência e a observar o tronco, os ramos, as folhas, as flores e os frutos com muita atenção. A última vez, no derradeiro dia de junho, achei-a com pouco vigor. Confidenciou-me que está doente e que sente medo da morte. Aguenta-te, cutieira!

BILHETE DE IDENTIDADE

Nome científico: Joannesia princeps.

Nome vulgar: Cutieira, boleira, purga-de-cavalo.

Porte: Árvore.

Família: Euphorbiaceae.

Origem: Brasil – Mata Atlântica e Caatinga.

Morada: Jardim do Savoy, Rua Imperatriz D. Amélia, Funchal.

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