30 minutos… a conhecer o projeto modernista de reabilitação da Quinta Pombalina na vila de Oeiras da autoria de Gonçalo Ribeiro Telles.
Como surgiu o projeto?
Vamos partir à descoberta de um jardim desconhecido num percurso rumo à primavera e, esperemos, rumo a uma maior liberdade de movimentos, ainda que com todas as normas de segurança que o controlo da pandemia de coronavírus nos impõe. Chegamos a Oeiras, dominada ainda hoje pela monumentalidade urbana e campestre da quinta de recreio que o Marquês de Pombal construiu no século XVIII.
É para o palácio que nos dirigimos e, transposto o pátio, espaço aberto ao público, entramos no jardim visitável e propriedade da Câmara Municipal de Oeiras, proprietária do imóvel desde 2003.
À partida poderão pensar que vos proponho visitar um jardim do Século das Luzes inspirado no barroco europeu, mas hoje é dia de descoberta de um jardim único entre nós e um exemplo de reabilitação, por um acaso e por uma clarividência da Fundação Gulbenkian, proprietária desde 1958 e que aqui fixou a primeira sede e espaço museológico do espólio artístico de Calouste Gulbenkian. A fundação promove a reabilitação do jardim pombalino de acordo com os princípios dos jardins modernistas do século XX, da autoria de um dos primeiros arquitetos paisagistas em Portugal, o arquiteto e Professor Gonçalo Ribeiro Telles.
Tudo o que vemos neste jardim, além dos edifícios e cenários pombalinos, é fruto de um desenho e de um ordenamento temático inspirado nos princípios do modernismo.
O desenho modernista
Hoje, todo o desenho dos anos 60 é a base de suporte de todo o ambiente artístico setecentista, com a sua cascata dos poetas, os bustos de imperadores romanos, as esculturas da mitologia greco-romana e os painéis de azulejos historiados. Tudo se harmoniza de uma forma tão integrada que se torna quase impercetível ao visitante desatento. É nesse facto que está patente o talento do mestre Ribeiro Telles – o projeto oferece os percursos pavimentados construídos para nos conduzir às principais obras artisticas do jardim, em materiais de excelente qualidade como os lajedos , as calçadas ou os saibros, que dão continuidade aos relvados e às plantações de herbáceas.
Estes caminhos introduzem uma fluidez de espaços e planos enquadrados pelos maciços de árvores e arbustos que formam a orla das clareiras relvadas, onde, no século XVIII, encontrávamos os arruamentos, formando uma malha de eixos retos formados pelas ruas de jardim definidos por sebes talhadas que limitavam os espaços plantados com centenas de laranjeiras. Quando se oferece a oportunidade a Ribeiro Telles de redesenhar o jardim pombalino, pouco restava de vários anos de abandono do jardim e dos pomares, só tinham permanecido as obras de escultura e os edifícios.
O programa de reabilitação integrava, além dos jardins, um polo de investigação e universitário, que a Fundação Gulbenkian queria construir no palácio e nas instalações agrícolas.
Opta-se por desenhar uma sucessão de jardins temáticos que espelham pela primeira vez em Portugal as possibilidades que a flora mediterrânica e atlântica, tanto introduzida como nativa, podia oferecer na construção de jardins e de espaços de lazer.
No século XX, foi uma oportunidade única de refletir e enaltecer a arte dos jardins num ambiente de campus académico; infelizmente, a Fundação Gulbenkian desistiu desse polo universitário, só permanecendo o Instituto Gulbenkian de Ciências, que subsiste até hoje.
O jardim modernista, no entanto, foi parcialmente construído, não sendo possível determinar até que ponto foram cumpridos os planos de plantação do projeto. Os campos de ensaio deram origem aos extensos relvados que hoje são uma mais-valia para o programa de eventos culturais que a Câmara de Oeiras tem oferecido nestes últimos anos após a sua aquisição.
A originalidade e mestria dos pavimentos e construções
Propomos nesta visita uns minutos de usufruto e de atenção para os infinitos detalhes deste projeto, dos quais se destacam os pavimentos magistralmente desenhados, a calçada de vários tipos de pedra e vários padrões de cores, as lajes de calcário, os lancis que limitam e nos conduzem nos pavimentos de saibro, os cubos de granito em pavimentos permeáveis que acompanham o roseiral.
Destaca-se ainda o roseiral onde se destaca o insolito bebedouro para passaros. Também são desenhadas e construídas outras estruturas, tais como a horta ajardinada, com o tema dos jardins romanos de Conímbriga ou não fosse toda a construção envolvente pombalina acompanhada por bustos de imperadores de Roma.
A latada e os elementos de água
É na recreação da latada tradicional das nossas quintas que o projeto modernista nos presenteia com um deambulatorio debruçado sobre a paisagem e perfumado este mês pel floração das glicinias.
Outras obras construídas pelo projeto de Ribeiro Telles impõem-se ainda hoje, como o espelho de água circular, no jardim das flores, com engenhoso sistema de circulação de água e onde se inscreve o desenho da rosa dos ventos em calçada à portuguesa de várias cores.
Destacam-se também o Tanque circular com repuxo de plantas aquáticas adossados aos terraços do palácio, alimentados por monumentais goteiras em pedra para recolha da água do canal-aqueduto que conduz a água da ribeira para as cozinhas do palácio e para a azenha.
Vamos pois partir à descoberta deste fascinante jardim, um marco histórico arquitetónico e paisagístico das nossas quintas de recreio e da sua resiliência, com um protagonismo atual no panorama das nossas áreas metropolitanas e dos desafios culturais, socioeconómicos e ambientais deste nosso século XXI.
CONTACTOS E HORÁRIOS
Câmara Municipal de Oeiras
Informações:
Loja do Palácio/Receção | Terça a sábado – Das 10h-13h e 13h30-18h
Tel.: 214 430 799 | loja.cmo@cm-oeiras.pt
Atividades/visitas: servicoeducativo.palacio@cm-oeiras.pt
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