Revista Jardins

Design biofílico

Os espaços semiprivados podem transformar-se em locais mais aprazíveis e familiares com a presença de plantas em canteiros e floreiras.

 

A Natureza como ferramenta no desenho de espaços mais humanos e sustentáveis.

 

Ao longo da evolução humana, convivemos e dependemos de outras espécies, de plantas e animais para a nossa sobrevivência. Essa ligação continua a existir, embora nas últimas décadas se tenha tornado menos visível devido ao nosso progressivo afastamento do mundo natural.

Os nossos hábitos de vida “modernos” trouxeram-nos para as cidades, onde quase tudo é artificial, são exemplo disso os percursos hoje pavimentados, impermeáveis e cinzentos. As paredes compartimentam o espaço e retiram a profundidade da paisagem. Vivemos a maior parte do tempo no interior, em espaços cada vez mais pequenos com acesso limitado à luz solar. Os nossos ciclos biológicos mudaram, vivemos entre luzes artificiais que alteram a nossa perceção visual e excitam a nossa mente, provocando distúrbios de sono. Percorremos as ruas em automóveis, isolados do exterior, sem sentir a brisa, sem sentir o aroma das árvores, sem ouvir os sons da Natureza.

 

Veja o vídeo:

Casa + Tropical

 

Na escala da evolução humana, esta brusca alteração de habitat pode levar-nos a acreditar que já não somos dependentes da Natureza, nem das restantes espécies que habitam connosco o planeta. O ar que respiramos continua presente, embora seja purificado de uma forma invisível a centenas ou milhares de quilómetros de distância. A alimentação chega-nos em embalagens de plástico, fabricadas, padronizadas, herméticas, sem conhecermos a sua origem. Contudo, sabemos que a nossa dependência do mundo natural continua a existir, embora se encontre dissimulada por essa barreiras de perceção que construímos. A dependência estende-se muito além da respiração e alimentação. A presença do mundo natural é necessária para o nosso bem-estar psicológico. Apesar de sabermos, empiricamente, que nos sentimos melhor depois de uma caminhada na Natureza, esses efeitos benéficos têm vindo a ser verificados cientificamente. Estudos científicos comprovam que a presença de elementos naturais na nossa vida reduzem os efeitos do stresse, aumentam a concentração, reduzem a possibilidade de depressão, melhoram o estado psicológico e aumentam a nossa imunidade.

 

Jardim do Morro Vila Nova de Gaia, as formas orgânicas dos bancos integram-se na topografia do terreno para que haja uma integração harmoniosa entre o construído e os elementos naturais. A redução dos elementos artificiais privilegiando os revestimentos naturais permite um uso descontraído e natural. A criação de uma perspetiva de longo alcance sobre o rio que convida à meditação e permite simultaneamente a perceção do movimento do sol ao longo do dia.

 

O design leva a Natureza até casa

Após a validação científica, torna-se necessário que os arquitetos e designers usem esses conhecimentos para adaptar os edifícios e espaços onde vivemos. Já que passamos mais de 70 por cento dos nossos dias no interior, é necessário que este ambiente, além de saudável e confortável a nível térmico e lumínico, tenha também características que beneficiem o nosso estado de espírito. É aqui que entra o design biofílico, um conjunto de estratégias que procuram trazer algumas características do mundo natural para as cidades e casas.

Os nossos sentidos são estimulados pela presença dos elementos naturais, como o formato orgânico de uma planta, uma brisa intermitente que nos acaricia a pele, a sombra cintilante de uma árvore, o som de água a correr e muitos outros estímulos que nos transmitem sensações de segurança, emergindo do subconsciente.

O design biofílico pode estar presente em qualquer escala, tanto ao nível da cidade como ao nível dos edifícios e das suas divisões. Caberá ao arquiteto ter a sensibilidade necessária para perceber onde e como integrar os elementos corretos para se obter o efeito pretendido. De acordo com um recente estudo científico, existem 14 padrões de design biofílico: sete desses padrões implicam a existência de elementos naturais, como água ou plantas; três padrões dependem da existência de elementos que mimetizam as características de elementos naturais; e os restantes quatro padrões dependem das próprias características do espaço. Na impossibilidade de descrever todas as estratégias ou padrões identificados, em seguida serão apresentados alguns exemplos:

 

O espaço público também beneficia da utilização de flora para amortecer a agressividade das linhas retas dos edifícios e trazer os elementos naturais para ambientes altamente artificializados, e onde há pouco espaço.

 

A conexão visual com a Natureza, a possibilidade de se visualizar um espaço natural (por exemplo, através da abertura de uma janela com vista para um jardim, verde, natural, vivo) é uma forma de reconexão que nos distrai dos ecrãs e da tensão do dia a dia. Este tipo de elemento tem impactos positivos na redução da pressão arterial e do batimento cardíaco dos utilizadores desse espaço, aumenta o foco, a concentração e reforça a atitude positiva.

A presença do elemento água nos espaços permite a redução do stresse, o aumento da tranquilidade, menor pressão arterial, mais concentração e melhor funcionamento da memória, melhor perceção e reatividade psicológica, aumento de respostas emocionais positivas.

A criação espaços vivos onde seja possível sentir ligeiras variações de luz, de temperatura ou da velocidade do ar, ainda que por meios artificiais, permite aos nossos sentidos a perceção de um ambiente natural, relaxante.

A utilização de materiais naturais como a madeira, com os seus veios ondulantes, ou o desenho de objetos com formas orgânicas fazem também parte das estratégias de design biofílico.

• A correta e atempada utilização de luzes difusas e dinâmicas que permitam melhorar o ciclo circadiano.

Espaços com características acolhedoras que transmitam a sensação de refúgio e que promovam a concentração e sensação de segurança. É possível construir melhores edifícios e melhores cidades ao integrar estes conhecimentos no processo de criação e projeto. Dessa forma, será possível desenhar hospitais mais humanos, em que os doentes possam, além dos cuidados médicos, ter um ambiente emocionalmente mais favorável ao restabelecimento da sua saúde. Ou escolas que incrementem a atenção dos alunos para que se sintam mais integrados e disponíveis para aprender. Aplicar estes conhecimentos para desenhar espaços públicos, emocionalmente mais inteligentes, que ampliem o sentimento de partilha e de comunidade, são fundamentais na construção de uma sociedade mais integradora e justa.

 

Quando não há possibilidade de incluir a presença de elementos naturais no interior dos edifícios, as janelas direcionadas para elementos naturais permitem que os nossos sentidos sincronizem o nosso ciclo circadiano. A partir do interior podemos também observar o movimento induzido pela risa, que contrasta com a rigidez dos elementos construídos.

 

Biofilia

É uma palavra composta por dois vocábulos gregos: bios, que significa” tudo o que é biológico, natural e vivo”, e philia, que significa “amor”. O termo biofilia pode ser definido como “amor pelas coisas vivas”. O design biofílico pode ser entendido como aquele que procura integrar a Natureza no ambiente construído para melhorar a qualidade de vida dos seus utilizadores.

 

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