Revista Jardins

Feiras de plantas e jardinagem: Salon du Vegetal

Salon du Vegetal

12-15 setembro – Angers

Pela primeira vez, este ano fui convidada a visitar o Salon du Vegetal, em Angers, nos dias 12 a 15 de setembro, e foi um boa e grande surpresa, com o tema Enter into the New Plant Era. Não sendo uma feira de grande dimensão, todos os expositores presentes têm muita qualidade, bem como muito cuidado na apresentação dos seus produtos.

Durante quatro dias, nesta bonita cidade francesa, reuniu-se o melhor da produção de plantas do mercado francês, contando-se também com a presença de produtores italianos, holandeses, espanhóis, bem como de muitas empresas do sector da jardinagem, nomeadamente de vasos,
substratos, adubos, ferramentas, equipamentos e também empresas de jardinagem e jardineiros.

O sector horticultura em França

Este é um mercado muito importante em França pois representa mais de 15 mil milhões de euros faturados por ano. Existem mais de 52 mil empresas especializadas do sector, que criam cerca de 186 mil empregos.

Esta faturação encontra-se distribuída pela produção de plantas, revenda de plantas em centros de jardinagem, supermercados, floristas e também pela construção de jardins, representando a produção 1,4 mil milhões de euros, a comercialização no retalho 7,5 mil  milhões de euros e a construção de jardins 6,6 mil milhões de euros. O mercado francês era até à covid um mercado maioritariamente importador no sector hortícola (importava 917 milhões de euros e apenas exportava 69 milhões de euros). Desde a covid, houve uma procura muito maior de plantas, e as plantas francesas começam a ser mais procuradas pois são conhecidas pela sua qualidade. Além disso, a produção francesa não tem custos tão elevados com a energia como têm os holandeses, pois o clima em França é mais ameno, permitindo cultivar muitas plantas no exterior. A diferença é enorme em termos de valor: um produtor na Holanda que gastava, em janeiro de 2021, 20€/m3 de gás, gasta agora cerca de 120 €/m3 , e isto começa a ser insuportável para alguns produtores, que estão a deixar de cultivar, por exemplo flores de corte. Isto pode ser uma oportunidade para a produção francesa.

Expositores

Nesta feira estiveram presentes mais de 250 expositores, 85% dos quais franceses e 15% internacionais, de países como Espanha, Holanda, Alemanha, Itália, etc.

A maior parte dos expositores eram produtores de plantas (40%), muitos deles de plantas adultas, outros de plantas jovens e ainda produtores de sementes. Havia também uma percentagem grande de empresas que comercializam produtos para o cultivo das plantas: vasos, etiquetas, substratos, adubos, ferramentas de jardinagem, etc.

Coeur vegetal

Nesta zona da feira, os paisagistas, horticultores e designers de jardins são convidados a mostrar o que de melhor se pode fazer com as plantas, sem nunca esquecer a sustentabilidade do solo, da água e das plantas, utilizando uma boa combinação das mesmas, estruturas verticais para rentabilização do espaço, aquacultura para reaproveitamento da água utilizada pelos peixes, bem como dos detritos por eles produzidos. Isto traz inúmeros benefícios para as plantas e para o meio ambiente, pois esses detritos são utilizados como fertilizante natural em vez de serem deitados para o esgoto. Esta zona da feira era muito inspiradora, pois as combinações de plantas e os ambientes conseguidos aqui eram fantásticos e permitiam imaginar inúmeras opções para as plantas em questão, muitas delas bastante diferentes daquilo que normalmente se faz com as plantas aqui utilizadas.

Jardins, aquáticos, rochosos, aéreos, comestíveis, em vasos, de gramíneas, tudo era possível, bastava ter criatividade.

Também nesta zona estavam as plantas e os objetos inovadores premiados, e eram muitos e diversificados. Desde variedades de plantas até vasos ecológicos.

coeur vegetal

Sustentabilidade, inovação e investigação

O grande mote desta feira e de toda a produção do sector vegetal em França, é, sem grande dúvida, a sustentabilidade, a todos os níveis, desde a produção à distribuição e à forma como os produtos são colocados no mercado. Mas mais do que isso, a forma como são pensados, a investigação que está por trás, para que os produtos sejam cada vez mais amigos do ambiente e a forma de os produzir também.

Este foi de facto um dos grandes temas do evento, uma preocupação transversal a todo o sector, desde a produção das plantas, rega, tratamentos, substratos, vasos, produção e energia, etc. até à escolha das plantas e à utilização das mesmas nos jardins, varandas ou mesmo em casa.

Bonsai

Ciclâmenes com aroma

Também nesta feira são sempre apresentadas muitas novidades de produtos e de plantas, variedades extraordinárias. Podemos destacar nesta feira, por exemplo, o primeiro ciclâmen com aroma, do produtor Morel, um dos maiores especialistas do mundo na produção de ciclâmenes que lançou no mercado o Absolu de Morel.

Vasos e soluções bio

Nesta feira encontrei muita inovação no que diz respeito a vasos recicláveis e até a vasos que se pudessem eles próprios plantar. Feitos com materiais biodegradáveis, servindo eles próprios de substrato e de recipiente, o que em termos ecológicos é extraordinário. Vi esta solução na cooperativa Fleuron d’Anjou, que fui visitar, numa visita organizada pela feira, e uma solução semelhante da empresa Fertil.

Rega cerâmica

Visita a produtores de plantas ornamentais e hortícolas

PÉPINIÈRES DU VAL D’ERDRE

Além da visita à feira, nestes dias em que estive em Angers, tive a oportunidade de visitar um conjunto de produtores de plantas ornamentais e de hortícolas.

O primeiro viveiro que visitei foi o Pépinières du Val d`Erdre, uma empresa familiar com mais de 45 anos de experiencia, com 130 hectares de produção, 100 dos quais ao ar livre e 30 em estufas, mais de 800 mil plantas produzidas por ano. Produzem principalmente, magnólias, com mais de 40 variedades, camélias, nas quais são especialistas, com mais de 600 variedades, árvores ornamentais de vários tipos diferentes.

Esta é uma produção muito interessante, pois as suas preocupações com a produção sustentável são muito grandes, na redução do consumo da água à reutilização de toda a água da rega, que é recolhida, armazenada, filtrada e reutilizada novamente na rega. Na produção de energia elétrica a partir do vento, recuperaram um antigo moinho, adaptando-o para produção de energia eólica. No que respeita à biodiversidade,
existe na produção um elevado número de animais, ovelhas, cabras, lamas, que pastam as ervas, evitando o seu corte ou a utilização de herbicidas, e no meio das estufas são semeadas flores que atraem os polinizadores.

Todos os resíduos são reciclados e/ou compostados e reutilizados, os produtos fitossanitários são utilizados muito residualmente e a tendência é para serem cada vez menos utilizados. É feita uma gestão em proteção biológica integrada.

FLEURON D’ANJOU

Visitei depois esta cooperativa, que representa mais de 80 produtores de plantas ornamentais, aromáticas e hortícolas de Anjou, na região do Loire. Esta organização existe desde 1962 e emprega mais de 300 pessoas, incluindo os que trabalham da cooperativa, nas subsidiárias e nas unidades de produção ao longo de seis cidades.

A cooperativa garante a total qualidade dos produtos, desde a produção até à venda. Estão sempre envolvidos na investigação e na criação de novos produtos, para dar resposta à necessidade dos consumidores. Têm grande preocupação ambiental e com a sustentabilidade.

O modelo corporativo que desenvolvem permite que todos os parceiros tomem parte da decisão, promove a cooperação entre todos, promove uma justa competição, diminui o risco de cada um, permite um maior desenvolvimento global e uma melhor qualidade geral de produtos com menor investimento de cada um.

Esta cooperativa representa cerca de 1000 hectares de produção por ano de hortícolas, com mais de 13 mil toneladas produzidas, entre rabanetes, cenouras, cebolas, beterrabas, chalotas, alfaces, espargos, salsifi, alcachofra-de-jerusalém, abóboras, espinafres, batata-doce, beringela, ruibarbo, curgete, etc.

Produzem cerca de 60 hectares de plantas anuais ornamentais de época, outono-inverno e primavera-verão. Fomos visitar alguns destes produtores que neste momento estavam a produzir ciclâmenes e algumas aromáticas.

ANGERS

A localização desta feira nesta bonita cidade do Loire faz todo o sentido, grande parte dos produtores de plantas hortícolas, aromáticas, frutícolas ou ornamentais está aqui sediada. A região do Maine e Loire em que se insere tem o primeiro lugar em França em número de produtores de hortícolas e viveiros de plantas em geral. É também uma região de produção de vinho e de sidra.

Além disso Angers foi eleita, em 2022, a Primeira Cidade Verde em França foi-lhe também a atribuída a classificação Tree cities of the world, pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Angers é considerada das cidades francesas com maior qualidade de vida e considerada Angers Supernature e Plant City, pelo seu grande esforço em trazer cada vez mais verde para a cidade. Mas estes títulos também lhe são atribuídos dado o elevado número de eventos relacionados com o sector da produção de plantas e horticultura uma vez que organiza para além do Salon du Vegetal (em setembro), The International Horticultural Congress em agosto e a SIVAL (em janeiro), feira que reúne os produtores de hortícolas, frutícolas, árvores, vinha, cogumelos, plantas aromáticas e medicinais, bem como as empresas que comercializam estes produtos e as empresas de maquinaria para o sector.

 

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