Passei na Holanda uma semana intensiva de visitas botânicas, gerindo o tempo a meu bel-prazer, deslocando-me de comboio e usufruindo das maravilhas do couch-surfing. Tive por isso a sorte de poder aceder a algumas informações sobre factos associados à construção dos jardins que visitei, como o Floriade, tema deste artigo.
Segundo a minha anfitriã que é natural de Venlo, cidade onde se construiu este evento de jardinagem, a comunidade local não estava satisfeita com os 100 milhões de euros gastos neste projeto, verbas não apenas comunitárias da província de Limburgo, mas também patrocinadas por variadíssimas empresas. Um dos principais patrocinadores é o Rabobank. Para reaverem esse dinheiro terão de ter a modesta média de 10 mil visitantes diários. Os holandeses são perseverantes e empreendedores, não estão em crise e com certeza que irão conseguir.
Do “tricot” criativo aos jardins zen
Felizmente na sexta-feira de céu cinzento em que os visitei não dei pela presença sufocante dessa média. O espaço é amplo, com cerca de 60 hectares, e os visitantes têm muito por onde se dispersar sem sentir atropelos. Podem até refugiar-se num bosque autóctone que foi preservado e que circunda e envolve toda a área do festival. É um local muito acolhedor e se calhar foi o que mais gostei, devido à sua autenticidade. Andei numa lufa-lufa para não perder nada nas 7 horas que tinha para visitar tudo e aproveitar os 28€ (de entrada e de cacifo).
Consegui visitar tudo, acho eu. Passei a correr por coisas menos interessantes como os pavilhões dos países: que eram meia-dúzia e desinteressantes. Só belga tinha um belíssimo jardim no telhado e uns ângulos inclinados e jardinados na sua construção de madeira onde me apetecia viver. As construções indonésias em bamboo eram interessantes mas não são novidade nenhuma para quem as conhece no seu país de origem.
Demorei-me nas árvores com “tricot” criativo nos troncos que parecem ser agora moda, pois vi-os em várias cidades e confesso que lhes achei alguma graça. Demorei-me nas sebes vivas, nos túneis e cadeirões construídos em vimes ou salgueiros. Parei, analisei, fotografei e invejei alguns dos jardins verticais.
Contemplei e inspirei-me nalguns jardins Zen, especialmente num recipiente de água que era uma espécie de “flowform” antroposófico nos quais os holandeses são mestres.
Sentei-me a piquenicar que é bem mais interessante do que comer nas cantinas. Apesar do tema ser a sustentabilidade não tinham nada confecionado com comida biológica, nem umas míseras maçãs. Este evento realiza-se de 10 em 10 anos em diferentes regiões da Holanda e demorou 12 anos a construir. Em 2012 teve como lema “Be part of the theatre of nature, get closer to the quality of life”. Em português significa “Participem no teatro da Natureza, aproximem-se mais da qualidade de vida”.
Trabalham na Floriade cerca de 25 jardineiros permanentes e mais ou menos 200 funcionários, todos os dias.
O certame está dividido em cinco campos com temas diferentes. Estes são: a sustentabilidade que é o fio condutor de toda a filosofia do festival; os motores verdes, a horticultura como a força que move a economia; o relaxamento e cura, a influência que a horticultura e a jardinagem têm no nosso bem-estar físico e espiritual; a educação e inovação e ainda o espetáculo mundial. Este tema deve ter surgido por uma necessidade de reaproximar o Homem da natureza. Ou talvez apenas porque sustentabilidade com toda a sua urgência, é a palavra da moda.
No entanto fiquei com dúvidas em relação entre o que eles tão enfaticamente apregoam e o que na realidade praticam. Principalmente nas práticas que dizem respeito à reciclagem e reutilização de desperdícios das cantinas e casas de banho. Segundo eles é tudo reciclado por uma empresa independente que vemos por lá a fazer as recolhas.
Recomendo ainda o jardim botânico de Leiden, o mais velho da Holanda, onde Lineu trabalhou na classificação das plantas, o “Hortus botanicus” de Amesterdão e o enorme Vondelpark, também em Amesterdão.
Fotos: Fernanda Botelho
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