Da utopia do indivíduo ao espaço público.
Em meados do século XIX, António Borges da Câmara Medeiros (mais conhecido por António Borges) idealiza e concebe este singular jardim botânico insular.
De facto, segundo Isabel Soares de Albergaria (2012), a idealização e conceção desta obra-prima é efetivamente literal do desejo de António Borges: “O estilo de vida faustoso e cosmopolita de António Borges não o impediram de dedicar inteira paixão à construção de jardins, ocupando-se a jardinar, traçar arruamentos, experimentar plantios… Dos viveiros de Liège, Gand e Londres trouxe muitas das plantas exóticas que ainda hoje crescem no jardim”.
Situando-se no coração da cidade de Ponta Delgada, o jardim é um dos pontos de interesse turístico da cidade. Face à sua relevância para dentro do tecido urbano da cidade, sensivelmente um século após a sua criação, este é adquirido pela Câmara Municipal de Ponta Delgada com a finalidade de o promover a Parque da Cidade.
Das diversas intervenções, de maior ou menor escala de que o jardim tem sido alvo desde a sua criação, deve ser destacada uma reabilitação feita na década de 2000, através de fundos públicos, da qual, além de trabalhos profundos de limpeza no espaço, foram ainda inseridas diversas novas espécies vegetais – quer ao nível dos estratos herbáceos e arbustivos quer ao nível dos estratos arbóreos. Atualmente, este espaço verde urbano é um dos pontos mais relevantes em termos botânicos da ilha de S. Miguel, uma vez que reúne uma coleção demasiado rica e singular de espécies com um elevado valor ornamental e natural.
Enquadramento Espacial e Paisagístico
Embora não siga um padrão de estilo e desenho exatos, o Jardim António Borges encaixar-se-á mais próximo de um jardim de estilo romântico do século XIX. Contextualmente, o espaço é demarcado por um eixo principal que liga as duas entradas no jardim. Além desta avenida central, existem diversas artérias e caminhos periféricos que conduzem a áreas mais recônditas e reservadas, promovendo um sentimento de descoberta ao visitante através do desenho específico destes peculiares percursos secundários. A ligação entre o eixo central do parque faz-se não só pela evolução e pontuação de material vegetal mas também por espelhos de água estrategicamente localizados, promovendo distintas áreas de lazer únicas dentro desta panóplia de exuberância vegetal exótica.
O jardim contempla diversas áreas de transição, quer ao nível de pavimentos e inertes (de salientar o material volcânico de forte cromatografia), quer ao nível de variabilidade botânica, o que é possível identificar nos diferentes estratos vegetais: herbáceo, arbustivo e arbóreo.
Este espaço verde público urbano carateriza-se pela vasta quantidade de espécies exóticas e inseridas na região, dentre as quais existem exemplares centenários que merecem um diferente tipo de preservação e conservação. Um desses exemplos é o espécime centenário de Ficus sp., impondo uma sensação de pequenez da Natureza face ao humano.
De igual forma, deve também referir-se a interessante coleção de Bambusa sp., vulgarmente conhecido como bambu, localizada na cota mais baixa do jardim.
NOTA DE FECHO: |
A Relevância do Jardim para a Comunidade Por fim, deve ainda ser enfatizada a relevância da visão do indivíduo (António Borges) e como a transição da sua utopia para um espaço público foi e é fundamental a diversos níveis. Portanto, deve existir uma maior consciencialização, compressão e preservação da presença de vegetação nas cidades. De facto, os benefícios da sua inclusão e articulação na tecido urbano são inúmeros, i.e., nível histórico, patrimonial e temporal, cultural, melhora da qualidade ambiental (que, por consequente, leva a uma melhor qualidade de vida), promoção dos serviços ecossistémicos e seus benefícios em contexto metropolitano são apenas alguns exemplos. Desta forma, a conservação e valorização desta tipologia de jardins “históricos” deve ser uma prioridade das administrações públicas a fim de salvaguardarem as paisagens que permitem não descaraterizar os territórios bem como permitir-nos compreender o “nosso” lugar dentro da Natureza. O Jardim António Borges é um bom exemplo do acima mencionado. Neste sentido, a visita ao Jardim “Histórico” António Borges é imperativa a quem visita a região bem como a quem nela reside. |
AGRADECIMENTOS
O meu mais sincero obrigado à população da Região Autónoma dos Açores, em especial aos habitantes da cidade de Ponta Delgada, pela forma genuína e calorosa com que receberam e acolheram este “forasteiro”.
E ao meu snowflake.
LOCALIZAÇÃO | COMO VISITAR
R. de São Joaquim, 22
1130 Ponta Delgada
São Miguel – Açores, Portugal