Revista Jardins

Jardins de Portugal: Rota dos Açores

A Rota dos Jardins Históricos dos Açores 

Aqui encontramos luxuriantes jardins ricos em espécies oriunda de áfrica, da América do Sul e da Ásia, o que muito contribui para riqueza botânica que descobrimos nos jardins açorianos. 

Distingue-se das demais pela situação geográfica das ilhas. A descontinuidade geográfica das suas nove parcelas insulares, agrupadas segundo a proximidade (grupos ocidental, central e oriental), atingindo um afastamento máximo de 640 quilómetros (distância de Santa Maria ao Corvo), e alinhadas segundo uma orientação geral de WNW-ESSE, devido à geodinâmica desta região do Atlântico, configura uma inserção territorial muito particular. Situados entre os 36o e os 39o de latitude norte e os 24o e 31o de longitude oeste, os Açores encontram-se à mesma latitude do mar Mediterrâneo. Em termos biogeográficos, porém, estão muito longe do Mediterrâneo, ocupando uma posição excêntrica da região Macaronésia (composta pelos arquipélagos de Cabo Verde, Canárias, Madeira e Açores e uma parcela da costa africana do Senegal), sendo o arquipélago mais a norte e o mais afastado das costas continentais.

Estas condicionantes determinam os padrões climáticos vigentes, os aspetos geomorfológicos, as dinâmicas da ecologia insular bem como os modelos de povoamento de ocupação do território, encetados a partir dos séculos XV. Enquanto centro nevrálgico nas rotas de torna-viagem que ligaram mares e continentes distantes dos antigos impérios ibéricos, os Açores desempenharam um papel fundamental na aclimatização de espécies oriundas de África, América do Sul e do sudeste asiático, algumas ainda hoje cultivadas para consumo das populações locais.

A vocação para a aclimatação botânica, favorecida pelo seu clima temperado marítimo (mesotérmico húmido), com temperaturas médias anuais que rondam os 17 °C e precipitação acumulada em torno dos 1000 mm, bem como a presença de solos ácidos e férteis resultantes da transformação dos materiais expelidos pelas diferentes tipologias de erupções vulcânicas, acentuou-se sobremaneira com a moda do colecionismo botânico que varreu a Europa a partir da segunda metade de setecentos.

É nesse contexto que vamos encontrar os luxuriantes jardins de aclimatação botânica que circundam a cidade de Ponta Delgada e o vale das Furnas, na ilha de São Miguel, o jardim público de Angra e da Horta, e as mais recentes Reservas Florestais de Recreio. Pela mão de um punhado de gentlemen farmers micaelenses e de alguns arquitetos, head gardeners e plantsmen ingleses, franceses e belgas, milhares de plantas ornamentais dos cinco continentes vieram povoar os jardins açorianos ao longo da segunda metade do século XIX, operando uma verdadeira transformação da paisagem insular.

JARDIM ANTÓNIO BORGES

Instalado em pouco mais de 2,5 hectares, nas imediações do centro urbano de Ponta Delgada, confrontando a norte com a Avenida Antero de Quental, por onde se tem um dos acessos, e a sul com a Rua António Borges, onde está a entrada principal, o Jardim António Borges é propriedade municipal desde 1947. O estilo pitoresco com que foi concebido há mais de 150 anos deve-se inteiramente a António Borges da Câmara Medeiros (1812-1879), seu antigo proprietário e simultaneamente seu criador. O espírito cosmopolita, o fascínio pelo simbolismo de raiz maçónica e o gosto pelo colecionismo botânico estão intactos nas misteriosas grutas de pedra vulcânica, nos lagos recortados, nos caminhos sinuosos e na flora variada trazida dos viveiros de Liège, Gante e Londres, que empresta ao jardim um ambiente verdadeiramente luxuriante. Entre as árvores de grandes dimensões, destacam-se a figueira-australiana (Ficus macrophylla) com as suas fantásticas raízes aéreas; a rara orelha-de-elefante (Enterolobium cyclocarpum) cujos frutos de forma bizarra amadurecem no verão; a decorativa sumaúma (Ceiba speciosa) magnificamente florida em setembro-outubro; ou a grande variedade de palmeiras, araucárias, fetos arbóreos e algumas espécies nativas como o dragoeiro (Dracaena draco) ou o pau-branco (Picconia azorica). Como “parque da cidade”, o Jardim António Borges desempenhou, ao longo de décadas, uma função significativa no plano recreativo e social. Depois de um longo período em que esteve algo abandonado, a Câmara Municipal de Ponta Delgada decidiu empreender, a partir de 2005, a reabilitação do jardim. Procedeu-se então à limpeza e redimensionamento dos lagos, consolidação das grutas românticas, introdução de mais de 100 novas espécies arbustivas e revestimento vegetal com herbáceas numa área de 4000 m2. No domínio arbóreo, o jardim recebeu cerca de 30 novas espécies, enriquecendo-se muito a coleção de palmeiras; o mesmo aconteceu com os Fetos arbóreos e herbáceos que vieram repovoar o vale dos fetos.

JARDIM BOTÂNICO JOSÉ DO CANTO

Este jardim privado, inserido no ambiente urbano de Ponta Delgada, situado a norte do seu centro histórico, revela os esforços de aclimatação e de colecionismo botânico do seu criador, José do Canto (1820-1898). Nos cerca de cinco hectares do jardim podem admirar-se alguns dos mais belos espécimes arbóreos dos jardins açorianos. Na posse da mesma família há várias gerações, os atuais proprietários têm introduzido diversos melhoramentos que permitiram a recuperação do anterior prestígio. A origem do jardim recua até cerca de 1845, data em que o jovem e rico proprietário José do Canto (1820-1898) regressa de Coimbra, onde havia cursado matemáticas, para se instalar na sua terra natal e empreender o ambicioso projeto de construir um vasto parque botânico. José do Canto recorreu a um arquiteto inglês chamado David Mocatta (1808-1882) para o desenho de uma mansão (que não chegaria a edificar) e de um extenso jardim; para a direção do mesmo chamaria sucessivos jardineiros-chefes, quase todos ingleses: George Brown (1813-1881), Peter Wallace (1820- ?), Alexander Reith (c. 1800-1874), entre outros. Ao longo da vida, reúne no seu jardim uma impressionante coleção de cerca de 4000 taxa diferentes, cuidadosamente registados e publicados em catálogos para troca com outras instituições congéneres (Jardim das Plantas de Paris, Reais Jardins Botânicos de Kew, Jardins Botânicos de Sidney, Rio de Janeiro ou S. Petersburgo). Após a morte de José do Canto, o jardim é dividido em partilhas, cabendo a parte mais importante a Maria da Graça Hintze Ribeiro Jardim e a seu marido, Augusto de Ataíde. Durante os anos de 1950, o casal constrói a mansão em estilo neoclássico que hoje domina a zona alta. Coube ao seu filho Augusto Ataíde Soares de Albergaria a progressiva recuperação de toda a área do jardim.

JARDIM PITORESCO

Logo à entrada da aldeia das Sete Cidades, depois de passada a ponte que separa a lagoa Verde da lagoa Azul, ergue-se uma habitação mais imponente e sofisticada que as restantes, rodeada de plátanos e azáleas, num traçado de jardim muito geométrico. É a antiga casa de veraneio de António Borges da Câmara Medeiros (1812-1879), grande proprietário e colecionador de pintura que se serviu do cenário natural da lagoa para pano de fundo da transformação paisagística que logrou impor sobre uma parte da cratera das Sete Cidades. Ocupando a margem sudoeste da lagoa Azul das Sete Cidades, no extremo ocidental da ilha, o Jardim Pitoresco manteve-se na posse dos seus herdeiros, constituindo a parcela remanescente de um antigo e extenso arboreto. Ocupa atualmente uma área de cinco hectares e situa-se à cota dos 260 metros de altitude. Entre 1850 e 1855, estavam concluídas as principais plantações, cujas espécies provinham sobretudo da Oceânia: cigarrilheiras (Banksia integrifolia), metrosíderos, melaleucas, eucaliptos, próteas, a Clethra quercifolia e a Olea emarginata, da Nova Zelândia; entre as coníferas, sobressaem os Cupressus sp. e a Cryptomeria japonica. Ajudando-o na escolha esteve o jardineiro belga François Joseph Devander Gabriel (1835-1897), que conheceu em Liège durante uma das suas digressões europeias, em 1853, e daí o acompanhou através do percurso realizado por Paris e Londres. António Borges não esqueceu o complemento da arquitetura, mandando erguer uma habitação diretamente inspirada nos modelos tradicionais da arquitetura norte-europeia. As prolongadas cheias da lagoa ao longo de décadas até à construção do túnel das Sete Cidades, inaugurado em 1937, foram responsáveis pela quase destruição do jardim. A lenta recuperação foi em grande parte devida ao engenheiro agrónomo Caetano de Andrade Albuquerque (1913-1985). Destaca-se a longa alameda de camélias marginando a lagoa onde merecem destaque diversas antigas cultivares italianas: a ‘Francesco Ferruccio’, a ‘Contessa Lavinia’, a ‘Mutabilis Trasversi, a ‘Il Garofano’, a ‘Ignea’ ou a ‘Swethii Vera’, ou ainda outras de flor branca, como a ‘Mathotiana Alba’ e a ‘Alba Lucina’.

MATA-JARDIM JOSÉ DO CANTO

Na margem sul da lagoa das Furnas estende-se um arboreto com árvores seculares dos cinco continentes e uma capela neogótica que foi a última morada do fundador do jardim, José do Canto (1812-1898), e sua mulher, Maria Guilhermina (1826-1887). O legado de José do Canto e Maria Guilhermina permaneceu na família ao longo de gerações, tendo sido aberto ao público no século XXI, pela mão de Margarida Jácome Hintze Ribeiro Rodrigues, bisneta do casal. O seu traçado combina um pequeno jardim formal francês e longos passeios estendidos em curvas largas, desenhados por Barillet-Deschamps e Georges Aumont, dois conceituados arquitetos paisagistas da cidade de Paris. A propriedade estende-se por uma vasta área com cerca de 120 hectares e compreende uma zona ajardinada, junto à lagoa, e zonas mais elevadas de matas de produção. Na primeira dessas zonas, encontram-se alguns dos melhores quadros do romantismo micaelense: longas alamedas de camélias e estreitas veredas serpenteantes sob um dossel de palmeiras e fetos arbóreos; a esguia capela românico-gótica de Nossa Senhora das Vitórias projetando a sua sombra nas águas tranquilas da lagoa; o chalé (casa do lago) e a casa dos botes no seu perfil de cottage inglês ao gosto isabelino, hoje convertida em unidade de turismo rural. Por entre ruas de camélias, o visitante encontrará o mágico vale dos fetos e o caminho que conduz à cascata do Salto do Rosal. A vegetação do parque é muito diversificada e predominantemente arbórea. Encontram-se aqui araucárias, sequoias, melaleucas, carvalhos, castanheiros, palmeiras, nogueiras, tílias, eucaliptos, Cupressus, podocarpos, rododendros e muitas outras. Destacam-se, naturalmente, as variedades de camélias, entre as quais salientamos as italianas ‘Brunellesca’, ‘Il Garofano’, ‘Isabelle’, ‘Ninfa del Tebro’, e ‘Virginia Franco’; as inglesas ‘Cup of Beauty’ e a suas variantes ‘Cup of Beauty Dark Pink’ e ‘Madame de Cannart D´Hamale’, ‘Spectabilis de Loddiges’ e ‘Chandlers Elegans’. Além destas, destacam-se a ‘Masayoshi’, a ‘Ochroleuca’, a `Mathotiana Rubra´, a `Pensylvanica´, ou as portuguesas ‘Augusto Leal Gouveia Pinto’, ‘Pomponia Portuense´ e ‘Bracarense’.

PARQUE TERRA NOSTRA

O Parque Terra Nostra é o mais famoso jardim açoriano. Situado no centro do vale das Furnas, com acesso pelo Largo Marquês da Praia, o Parque Terra Nostra é um dos mais vastos e antigos jardins dos Açores (12,5 ha de área), cuja história se liga à transformação das Furnas como estância termal e turística. No passado como no presente, mantém-se um dos mais populares jardins, visitado por locais e estrangeiros, considerado imperdível por uma série de razões. Um grande tanque de água termal, rodeado por um anel de altas araucárias, convida a um banho relaxante e incomum; se os visitantes se aventurarem pelos 12 hectares de terreno, encontrarão coleções botânicas incríveis: o jardim de camélias, o jardim das Cycadales, a coleção de fetos, o jardim das Bromeliáceas, o jardim das endémicas dos Açores, o jardim das Vireyas, entre outros jardins temáticos. Há ainda lagos vulcânicos, ribeiros de águas férreas, grutas românticas, pontes e miradouros num sem-fim de perspetivas de grande efeito cénico. Este conjunto único de património vegetal e paisagístico é o resultado acumulado de várias intervenções e melhoramentos iniciados nos finais do século XVIII e continuados até à atualidade. Em 1785, Thomas Hickling (1745-1834), um comerciante americano de Boston que se instalara em Ponta Delgada, decide construir uma casa de campo, conhecida como Yankee Hall, acedida por uma larga escadaria ladeada por hortênsias azuis em frente da qual desenha um grande tanque recreativo e um arboreto com cerca de dois hectares. É o primitivo núcleo do parque, que viria a ser adquirido em 1848 pelo Visconde Praia (1799-1872), responsável pela sua ampliação e enriquecimento botânico. O visconde e o seu filho, marquês da Praia, contratam o jardineiro inglês Milton para desenhar o lago serpentiforme; substituem o modesto Yankee Hall pela atual Casa do Parque e introduzem-se numerosas peças decorativas ao gosto neoclássico. Uma nova fase inicia-se com a criação da sociedade Terra Nostra e a construção do hotel pelo empresário Vasco Bensaúde (1896-1967) em 1935. O parque é então alvo de uma importante operação de restauro e ampliação realizada pelo jardineiro escocês John McInroy, durante a qual é traçada a longa alameda das Gingko, com cerca de 300 metros. Decorrido mais de meio século, o jardim conhece uma nova operação de renovação, graças à iniciativa de Filipe Bensaúde (1923-199 ). A tarefa é entregue à equipa de especialistas ingleses David Sayers e Richard Green, tendo dela resultado a plantação de mais de 3000 novas espécies arbustivas. Desde então, o contínuo melhoramento do parque persiste com o entusiasmo das novas gerações, particularmente de Patrícia Fernandes e de Joaquim Bensaúde, tarefa em que têm sido incansavelmente assistidos pelo jardineiro-chefe Fernando Costa e mais recentemente por Carina Costa.

PASSEIO PÚBLICO THEODORE ROOSEVELT

O Passeio Público Theodore Roosevelt, popularmente conhecido por Alto da Mãe de Deus, ocupa a parte superior do morro homónimo, sendo delimitado por uma muralha de desenho irregular (no sector sul/poente da muralha, conservam-se ainda restos do primitivo baluarte redondo com guarita incorporada) que define a plataforma superior onde se encontra a Igreja da Mãe de Deus. A partir do topo deste sacro monte, obtém-se uma perspetiva de 360o sobre a cidade de Ponta Delgada, o porto e a linha da costa pelo lado sul, bem como toda a zona envolvente a montante, desde a serra de Água de Páu, a nascente, até à linha recortada dos picos vulcânicos que cercam a cidade pelo norte. Na base do morro, inscreve-se um passeio circular desenvolvido em espiral ascendente até essa plataforma onde se incluem banquetas de encosto incorporadas nos muros e uma vegetação ornamental de arbustos e herbáceas metidas em canteiros. A entrada principal de acesso à plataforma da igreja faz-se através de uma escadaria monumentalizada, de conceção barroca, terminando nos pilares que suportam as pesadas portas do jardim. No mesmo enfiamento da escadaria, ergue-se a fachada principal da ermida da Mãe de Deus, uma reconstrução moderna (c. 1920) da antiga ermida que existia no mesmo local desde o século XVI. No início do século XIX, o recinto foi alvo de um interesse recreativo. Data de 1815 o desenho para o “passeio público” para o sítio da Mãe de Deus, atribuído ao engenheiro militar Francisco Borges da Silva (1788-1820), chegado pouco antes do Brasil com o posto de major dos reais engenheiros, plano que seria executado pelo governador militar da ilha, Sebastião José de Arriaga Brum da Silveira. Pelo desenho original podemos perceber a estrutura do percurso, destinado aos passeios a pé e de carruagem, com ruas que ligavam a zona da “baixa” citadina aos terrenos arrabaldinos das Laranjeiras e Fajã de Baixo, plantadas com laranjeiras, enquanto o desenho dos canteiros obedecia ainda à conceção barroca dos canteiros de broderies.

RESERVA FLORESTAL DE RECREIO DO PINHAL DA PAZ

O Pinhal da Paz constitui uma extensa mata ajardinada com 49 hectares, elevada a uma cota que vai dos 240 aos 330 metros, situada na freguesia da Fajã de Cima, bem no meio da ilha, entre Ponta Delgada, a sul, e Fenais da Luz, na costa oposta. Implantada sobre terrenos pobres de biscouto, marcados por afloramentos rochosos e materiais piroclásticos, o local era conhecido desde há muito por “Mato das Criações”, por fornecer algum pasto espontâneo ao gado caprino e ovino das redondezas. Nos meados do século XX, António do Canto Brum (1885-1963), um horticultor micaelense que herdou do avô paterno, José do Canto, a paixão pelas plantas e pela horticultura ornamental, plantou-o com pinheiros, eucaliptos e criptomérias que se misturaram entre as acácias, as faias-da-terra e os incensos; ao longo dos caminhos e veredas, foi distribuindo arbustos de flor, com especial destaque para as variedades de camélias e azáleas que enchem a mata de cor e brilho. No início da década de 1980, a propriedade foi adquirida pelo Governo Regional dos Açores com o intuito de evitar a sua previsível destruição. Mas um longo período de abandono e decadência só viria a ser resgatado com os trabalhos de recuperação iniciados em 1998, tendo sido classificada como Reserva Florestal de Recreio em 2000. Desde então, tem vindo a ser replantada e melhorada com pequenos jardins temáticos como o jardim dos catos, o fetário, o palmário, o camelieto, o labirinto, além da instalação de diversos equipamentos de recreio infantil, Centro de Divulgação Florestal, área de merendas, um percurso físico com 1700 metros, seis estações de exercício e o grande relvado com mais de um hectare, onde têm lugar jogos, atividades recreativas e atuações de vários tipos no palco montado para o efeito, sobretudo durante os meses de verão. Uma menção espacial merece a flora autóctone das ilhas, preservada em grande número no interior da mata, de que são exemplo o azevinho (Ilex azorica), o louro-das-ilhas (Laurus azorica), o pau-branco (Picconia azorica) ou o tamujo (Myrsine africana).

PIQUINHO DAS FURNAS

O Parque do Piquinho revela dramáticos contrastes entre planuras amenas e bucólicas acompanhadas pelo murmúrio da ribeira das Murtas e declives acentuados riscados por caminhos serpenteantes, elevando-se ao cume das montanhas que circundam o vale das Furnas. Uma gama de verdes tenros e intensos envolve o olhar em todas as direções. Os caminhos atapetados de musgos, os troncos das árvores cobertos de líquenes e a copa generosa de arbustos e árvores de grande porte concorrem para a atmosfera intensa e mágica do parque. Um lago de águas escuras e frias, recortado por margens sinuosas onde se abrem os arcos rochosos de grutas semissubmersas intensificam o lado misterioso do jardim. Na verdade, toda a área do lago foi profundamente transformada em consequência de um deslizamento de terras que ocorreu após terríveis tempestades no início da década de 1930. Luísa Margarida da Câmara Velho de Mello Cabral Gago da Câmara (1928-2012) e o seu marido, Estevão Gago da Câmara (1822-2001), 5.º barão de Fonte Bela, então proprietários do parque, dedicaram-se com afinco à recuperação de todo o jardim. Entre as espécies mais decorativas encontram-se vários cultivares antigos de camélias (C. japonica) como a ´Calypso´ localmente designada por ´Espanhola´, a ´Mathotiana Alba´, a ´Myrtifolia´ cujo nome local é taça-de-formusura, ou a açoriana ´Autonomia dos Açores´; entre as árvores de porte, individualizam-se o grande castanheiro (Castanea sativa) no centro do relvado, a exótica e rara nogueira-do-cáucaso (Pterocarya feanxinifolia), a australiana acmena (Syzygium ingens) com os seus frutos vermelho-vivos maduros em dezembro; ou as altas sebes de mirtilo-magenta (Syzygium paniculatum) rodeando os quartéis da fruta nas vertentes a oeste da propriedade.

Créditos fotográficos:

Fundação José do Canto; Carina Costa; Jacques Soignon; José António Rodrigues; Isabel Soares de Albergaria; Ricardo Cruz; Raimundo Quintal

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