Milão foi palco, de 23 a 25 de fevereiro, da My plant & Garden, a primeira feira que visitei após dois longos anos sem eventos ao vivo devido à pandemia de covid-19 que a todos nos afetou e foi também a primeira vez que visitei uma feira em Itália e a primeira vez que visitei Milão.
A feira em números
No final do evento, a satisfação da organização foi muito grande, uma vez que a exposição teve mais de 700 empresas presentes, em três pavilhões, numa área de 45.000 m2 e teve um número superior a 18.000 visitantes, sendo que 20 por cento destes visitantes vieram do estrangeiro, maioritariamente de países como a Holanda, Dinamarca, Alemanha e França.
Os expositores consideram que o balanço foi muito positivo e que valeu a pena estarem presentes. Foi também uma excelente oportunidade para estarem ao vivo com os clientes, mostrarem os produtos, fazerem apresentações e perceberem qual a evolução do mercado nestes últimos dois anos.
Os visitantes tinham à sua disposição uma vasta mostra de produtos italianos, e a feira foi visitada por 116 delegações oficiais de 30 países diferentes, maioritariamente da Europa. Cinquenta e cinco por cento dos compradores vêm da Europa, mas este ano notou-se um crescimento da procura por parte dos compradores do Médio Oriente. No entanto, a Europa continua a ser o principal mercado para os produtos italianos, representando 84 por cento to total da exportação. A qualidade, a originalidade e a variedade dos produtos é sempre referida pelos compradores como uma grande mais-valia.
Em relação à cobertura jornalística, estiveram presentes no evento mais de 200 jornalistas, entre imprensa escrita, digital, TV, bloggers, Instagramers, etc. de Itália, Espanha, Holanda, Portugal, Alemanha, Áustria, Inglaterra, entre outros, o que representou um grande sucesso em termos de divulgação quer a nível nacional quer a nível internacional.
Com uma grande parcela de expositores italianos (80%), maioritariamente das regiões da Lombardia, Véneto, Emilia Romana, Toscânia, estiveram, no entanto, também presentes outras nacionalidades, com empresas romenas, suíças, húngaras, francesas, espanholas, holandesas, alemãs, eslovenas, croatas, gregas, austríacas, belgas e inglesas. Os compradores eram provenientes de muitos países da Europa como França, Alemanha, Holanda, Dinamarca, etc., mas também de países como Israel, Chipre, Arábia Saudita, Turquia e Irão.
Esta sexta edição do Myplant & Garden foi diferenciadora, pois foi a primeira feira do sector após a pandemia. Foram aqui mostradas as grandes novidades no sector de plantas, Home & Garden e DIY que as empresas e profissionais estavam com muita vontade de ver ao vivo após dois anos sem essa possibilidade.
Há neste momento uma grande necessidade de ver novas ideias, de conhecer novos produtos, novos materiais, novas variedades de plantas; este foi um excelente momento para o mercado.
A organização da feira
A feira estava organizada em três grandes pavilhões 12, 16 e 20, sendo o pavilhão 12 dedicado ao mundo das floristas, flower design, eventos, casa e jardim, decoração, ferramentas para tarefas de jardinagem como hobby.
Também aqui, numa parceria com a Pantone, foi apresentada a paleta da Metaverso como inspiração para os bouquets e decorações de arte floral e empresas de organização de eventos.
No pavilhão 16, encontramos uma enorme gama de produtores de plantas, árvores, flores, bolbos, hortícolas, de todos os tipos. E o pavilhão 20 é dedicado à arquitetura paisagista, aos grandes projetos de urbanismo e de infraestruturas verdes. Mas também há empresas inovadoras nas áreas de arboricultura urbana, coberturas verdes, etc.
Flower design
Nesta área da feira, as composições florais eram verdadeiras obras de arte que convidavam à observação e também eram dos locais mais fotografados. As floristas, flower designers e empresas de eventos tinham aqui uma montra do que de melhor se faz em Itália nesta área. A beleza, originalidade, exotismo, sofisticação e elegância não têm igual e cada dia éramos surpreendidos com novas criações e até com modelos que se passeavam com magníficos penteados, apanhados e arranjos florais na cabeça. Algo absolutamente único e extraordinário. Tudo isto complementado com várias demonstrações e workshops diários dos mais variados arranjos florais, apresentados pelos mais conceituados ateliers do mercado.
Tendo sido este um dos sectores que mais sofreu durante a pandemia, uma vez que não houve eventos durante quase dois anos, foi uma grande alegria ver toda esta beleza, novidade e energia nas empresas do ramo. Tudo isto inspirado pela palete da Pantone Metaverso.
Pantone e palete metaverso
Numa parceria única e numa grande estreia mundial, a Pantone apresentou as tendências para a primavera-verão 2023, a paleta metaverso, que influenciou todas as criações ao nível do design floral, eventos, casamentos, etc. apresentados na feira. Nesta paleta as cores misturam-se entre si, criando nuances e combinações, contrastes e fusões, certeza e visão.
Os internautas começam a desenvolver as suas personas digitais como projeções dos seus eus idealizados. Os avatares digitais têm a oportunidade de abandonar as suas identidades terrenas, adotando personalidades virtuais que podem transformar o seu senso de identidade. O metaverso não é apenas sobre jogos e desafios de combate tradicionais internáuticos, com os seus azuis-aquáticos e azul-xénon, é também universos pontuados de tons cor-de-rosa-pastel. Cores como o verde-lima ou verde-acinzentado, o fúchsia, o encarnado ou o ameixa também fazem parte desta paleta. Neste universo de cores, o virtual cruza-se com o real, e a paleta de cores é muito variada, intensa, original, surpreendente e versátil, permitindo inúmeras combinações para primavera-verão 2023, aqui desvendadas com toda a originalidade dos grandes artistas da arte floral, decoradores e organizadores de eventos.
Decoração e artigos de jardinagem
Com empresas maioritariamente italianas, a oferta em termos de decoração para jardins, varandas e terraços era muito grande, com produtos muito inovadores ao nível dos vasos, floreiras, iluminação, ferramentas, etc.
Vasos e floreiras
Os vasos de cerâmica voltaram a ser uma grande tendência, desde a tradicional terracota até aos mais modernos e estilizados de cerâmica vidrada. Nos vasos de plástico, a grande tendência prende-se com a sustentabilidade e com o facto de serem feitos de materiais reciclados e de eles próprios serem recicláveis; hoje em dia esse é um fator essencial e decisivo no ato da compra. Marcas como a Tera apresentaram soluções muito originais com vasos fabricados com plástico proveniente da separação de lixo e restos de produção industrial.
Como as plantas de interior passaram também a ser uma enorme tendência, os vasos decorativos para casa também aparecem em grande quantidade e variedade. A madeira é dos materiais mais usados novamente, quer em floreiras quer em peças de decoração, hortas urbanas, ferramentas, pavimentos, etc. Os cestos continuam a ser também muito apreciados tanto para a jardinagem interior como para varandas e terraços.
Jardinagem e horticultura urbana
Este é um sector que teve uma grande presença nesta feira, com muitas soluções diferentes. Durante a pandemia foram muitas as pessoas que começaram a cultivar em casa e apareceram no mercado muitas pequenas hortas urbanas, floreiras de varanda, jardins verticais, soluções várias para jardinar em pouco espaço, para cultivar microvegetais, para fazer compostagem em casa. Tudo para dar resposta a este público mais preocupado com as questões ambientais e com o querer cultivar alguns dos seus alimentos.
Cozinhas de exterior e churrascos
A oferta de equipamento nesta área é bastante vasta, com uma aposta cada vez mais importante quer na tecnologia quer no design. Uma vez que, os consumidores procuram soluções funcionais, mas também esteticamente agradáveis, tecnologicamente evoluídas e com preocupações de sustentabilidade ao nível dos materiais utilizados na sua produção e na sua utilização.
Produção de plantas, entrevista Assofloro
Nesta feira esteve representado o que de melhor se produz em Itália no que respeita à produção de plantas ornamentais, árvores, arbustos, herbáceas, fruteiras e também plantas hortícolas, aromáticas, bolbos, catos e suculentas e sementes. A qualidade e a variedade de produtores italianos e estrangeiros mostra bem a vitalidade do sector e a grande oferta que existe no mercado quer nacional quer internacional.
Tive a oportunidade de entrevistar os responsáveis pela Assofloro, a presidente Nada Forbici e o vice-presidente Andrea Pellegatta, para perceber como esta é uma associação muito ativa, que representa uma série de empresas produtoras de plantas, do sector da jardinagem e do paisagismo.
O ano de 2020/21 foi um excelente ano em termos de vendas e de produção, com um aumento de faturação muito grande que veio colmatar a catástrofe que tinha sido o mês de fevereiro de 2020, em que com o bloqueio total, os pontos de venda de flores e de plantas em Itália foram todos fechados.
A partir do momento em que foram abertos e com o aumento da procura de plantas, o sector teve um enorme crescimento.
Hoje em dia, dá-se exatamente o contrário, não se consegue dar resposta às encomendas, pois há o problema de falta de matérias-primas, como o plástico, a turfa ou a casca de pinheiro, e também o problema dos transportes e da distribuição.
Com a pandemia, os produtores perceberam a importância de estarem associados, de dialogarem e de cooperarem.
Os jardins particulares e públicos passaram, e bem, a estar na ordem do dia, o investimento na compra de plantas aumentou muito e, por isso, muitas vezes não existe por parte dos produtores a disponibilidade de plantas para fornecer para as obras públicas, pois não têm as quantidades, variedades e dimensões necessárias.
Nesse sentido, a Assofloro tem estado em negociações com o governo italiano para garantir que passe a haver uma planificação por parte do governo e dos municípios e que atempadamente se façam contratos com os viveiristas por três anos, garantindo as produções que necessitam para as datas das obras que estão a decorrer.
Desta forma, os produtores começam com tempo a produzir as plantas necessárias com a certeza de que grande parte da sua produção está vendida, e os municípios e outros organismos têm a certeza de que irão ter as plantas quando necessitarem delas, nas quantidades, variedades e dimensões pretendidas.
Há por parte da Assofloro um esforço na comunicação e formação junto das escolas e da opinião pública em geral, no sentido de aumentar o gosto pela compra de flores e de plantas no dia a dia e não apenas em dias festivos.
Nota-se que cada vez mais isso acontece e que cada vez são mais as pessoas que passaram a cultivar algum tipo de plantas e até alimentos nos quintais, varandas, terraços, etc., o que tem contribuído de forma positiva para o aumento da biodiversidade em meio urbano. Verifica-se uma tendência crescente em trazer cada vez mais verde para as cidades, o que, consequentemente, tem contribuído para um aumento da venda de plantas.
Catos e suculentas
Estas plantas são das mais desejadas do momento, e a sua produção e venda têm aumentado em grande escala nos últimos anos, havendo nesta feira vários produtores destas plantas. Estas são das plantas mais procuradas, não só pela sua beleza e versatilidade, mas também pela sua facilidade de manutenção e por, em termos de sustentabilidade, serem uma boa escolha, pois necessitam de pouca água.
Um dos maiores produtores italianos de catos e suculentas é a Giromagi, que tinha um dos stands maiores e mais bonitos, com uma enorme variedade das suas plantas e com uma série de ambientes de decoração montados com recurso a estas plantas. A Giromagi aposta todos os anos em novas variedades e produz neste momento mais de 600 diferentes.
Flora Toscana produção de plantas e fair trade
Em Portugal, a Giromagi é representada pela Flora Toscana, que representa mais de 220 produtores de plantas italianos e qua exporta anualmente muitas plantas para Portugal, tendo aumentado muito o seu volume de vendas nos dois últimos anos, bem como a variedade de plantas que comercializa, desde proteáceas, catos e suculentas, plantas de interior, citrinos, grevílias e, mais recentemente, orquídeas Cymbidium, entre outras plantas. Nesta feira, onde estava a lançar o seu projeto flores fair trade, vocacionado para as floristas de toda a Itália. Neste momento, disponibilizam uma série de bouquets de flores (compostos por rosas, cravos, limónios, eucaliptos, etc.), todas com certificação que garante que foram produzidas de forma sustentável para o ambiente e respeitando as boas condições de trabalho de quem as produziu. Estas flores estão agora disponíveis para venda nas floristas em toda a Itália; este é um projeto que faz a diferença.
Citrinos e árvores de fruto
A variedade e a beleza de citrinos apresentada nesta feira foi enorme e, de facto, a tradição de produção de citrinos italiana está bem patente na qualidade, diversidade e quantidade de produtores que apresentam estas plantas. Entre os vários produtores, destaco a presença de um dos mais antigos e com maior número de variedades, o produtor Oscar Tintori, da Toscânia. Um produtor que vai na terceira geração de produção de citrinos tradicionais da Toscânia e que ao longo do tempo se especializou num enorme número de variedades. Neste momento, tem disponíveis para venda mais de 400 variedades de citrinos de várias formas e tamanhos diferentes, bem como uma série de produtos transformados, compotas, bebidas, temperos, etc.
Além disso, tem o único jardim botânico de citrinos, que pode ser visitado mediante a marcação de visitas guiadas.
Os citrinos têm cada vez mais procura como árvores ornamentais para serem usadas em jardins, varandas e terraços urbanos pois são muito fáceis de cultivar em vasos e em floreiras.
Plantas exóticas
A variedade de produtores de plantas tropicais presentes nesta feira é muito grande e podemos destacar a Floramiata, com a sua enorme variedade e qualidade de plantas. Havia também uma série de produtores e importadores de uma enorme variedade de orquídeas e plantas exóticas, marimos, plantas aquáticas, plantas aéreas, bonsai, etc.
Alguns dos stands impressionavam pela forma original e artística como as plantas estavam expostas, verdadeiras instalações de arte viva.
Paisagismo e espaços verdes
Ao nível de soluções técnicas, no pavilhão 20, com a presença de muitos gabinetes de paisagismo, engenharia, empresas de construção de jardins, jardinagem e arboricultura, a inovação e produtos interessantes eram muitos.
As coberturas e paredes verdes continuam a ser uma das grandes tendências, e várias empresas apresentavam soluções alternativas para a criação deste tipo de estruturas.
Estavam também muitas empresas de pavimentos, mobiliário de exterior, lagos, fontes e material de rega, com destaque para a tecnologia de poupança de água, uma vez que a boa gestão do recurso água é um tema que está na ordem do dia. Em relação às máquinas e equipamentos de jardinagem, o grande destaque de todas as marcas é dado aos modelos a bateria, pois, em termos de sustentabilidade, será o futuro.
Também nesta área as palestras e apresentações são diárias e muito variadas, versando sobre temas como paisagismo, jardins históricos, urbanismo, sustentabilidade, manutenção de jardins, relvados, coberturas verdes. Um evento muito completo ao longo dos três dias no que toca à mostra de produtos e à troca de conhecimento e informação.