Revista Jardins

O inverno chegou!

 

Aprecie a beleza do grafismo das árvores nesta estação do ano.

 

É a diversidade de cores e formas que se destaca quando habitualmente olhamos para as plantas. No inverno, surge-nos uma perspetiva diferente. Com as árvores despidas de folhas, encante-se também com um novo grafismo oferecido pela multiplicidade de texturas, tons e silhuetas dos troncos e ramos das plantas. Na primavera, as árvores lançam fragrâncias e cores das suas flores. No verão, oferecem sombra e frutos. No outono, as folhas embelezam com tons dourados e encarnados, antes da queda. E é no inverno que a beleza das árvores, despidas de folhas, enaltece a silhueta dos troncos e as suas cores. O motivo da queda das folhas é uma defesa das plantas para se protegerem do frio, reduzindo o seu gasto de energia.

Uma das principais consequências dos dias com menos luz solar é a redução da produção de clorofila. Com esta diminuição da produção de clorofila sobressaem outros pigmentos existentes que tornam as folhas amareladas ou avermelhadas, processo que ocorre antes da sua queda. A maioria das árvores perde as suas folhas nesta estação. É um mecanismo de defesa e de poupança de energia para que na primavera tudo recomece. No entanto, algumas espécies, as de folha perene, conseguem conservar sempre as suas folhas. Esta particularidade está na sua genética. Mantêm o crescimento todo o ano, apesar de nesta estação o ritmo ser mais lento. É sobre a estação do inverno e as árvores caducas que dedicamos as linhas deste mês.

 

 

GINKGO BILOBA KAEMPF. EX L.

Ginkgo, Nogueira-do-Japão

 

Ginkgo biloba no Jardin de Plantes. Paris, 2021. ©Ana Raquel Cunha

 

Família: Ginkgoaceae

Considerada uma árvore lendária e de exuberante beleza, é muito utilizada como árvore urbana ornamental por ser resistente à poluição, bem como a pragas e doenças, e pouco exigente a condições de solo e clima. É a árvore símbolo da cidade de Tóquio e é considerada sagrada no Oriente, como símbolo da longevidade, da esperança e do amor.

Esta espécie botânica é originária da China, onde ocupa vales em regiões temperadas. Chegou a ser dada como espécie extinta, mas encontraram-se duas pequenas áreas na China onde existem exemplares espontâneos. É considerada uma espécie muito resistente. Em 1945, aquando da explosão atómica da Hiroxima, um exemplar existente nessa cidade sobreviveu a essa catástrofe.

A espécie Ginkgo biloba apresenta uma copa de forma piramidal, que pode atingir 25-30 metros. Caracteriza-se pelo seu ritidoma fissurado e muito fendido principalmente nos exemplares mais velhos. As suas folhas são flabeliformes (em forma de leque), com 5-20 cm de largura, geralmente inteiras nos raminhos curtos e bilobadas nos de prolongamento, de cor verde-clara, tornando-se douradas pelo outono, antes de caírem.

É uma espécie dioica, isto é, tem flores masculinas e femininas em exemplares diferentes. As plantas masculinas apresentam flores amareladas agrupadas em estruturas pendentes, e as plantas femininas produzem sementes nuas, de cor verde-amarelada, que parecem uma drupa e que ao amadurecer caem e exalam um cheiro desagradável. É uma espécie sem grande interesse florestal, mas as suas aplicações são inúmeras. De destacar a utilização das suas folhas, que contêm compostos de uso medicinal, com propriedades antioxidantes, dietéticas e estimulantes do cérebro, da memória, da circulação sanguínea e antidepressivos. As suas propriedades são há muito reconhecidas na medicina tradicional chinesa e mais recentemente no Ocidente.

 

PLATANUS × HISPANICA MILL. EX MÜNCHH.

Plátano, Plátano-híbrido

 

Árvore caducifólia, de copa arredondada. De origem híbrida, resulta do cruzamento artificial do Platanus occidentalis com o Platanus orientalis. Espécie de crescimento rápido. Caracteriza-se pelo seu ritidoma acinzentado, destacável (em placas grandes e irregulares). Três a cinco folhas palmipartidas (com lobos ovado-triangulares, inteiros ou sinuado-dentados), aproximadamente cordadas na base, e agudas no ápice, de cor verde na página superior e verde-clara na página inferior. As suas flores não possuem interesse ornamental. Fruto múltiplo de aquénios, agrupados em dois ou três.

Família: Platanaceae

Altura: Até 30 metros

Propagação: Habitualmente por estaca.

Época de plantação: Primavera/outono.

Condições de cultivo: Prefere condições de sol, solos ligeiros, profundos e com alguma humidade.

Manutenção e curiosidades: Não requer nenhum cuidado de manutenção especial. É muito utilizada como ornamental, em arruamentos, jardins e parques. A sua madeira é utilizada entre outras utilizações na marcenaria e no fabrico de remos. É apreciado pela sua fácil reprodução e transplante, e crescimento rápido.

 

CELTIS AUSTRALIS L.

Lódão-bastardo, Ginginha-do-rei

 

 

Árvore caducifólia, de copa ampla, arredondada, originária da bacia mediterrânica, desde a Península Ibérica e norte de África, até ao Sudoeste Asiático. Espécie de crescimento lento. Caracteriza-se pelo seu ritidoma liso, de cor cinzenta. Folhas ovado-lanceoladas, ligeiramente assimétricas na base, serradas no terço superior da margem (inteiras nos 2/3 inferiores), de cor verde-escura na página superior e acinzentada na página inferior (pubescente). Possui pequenas flores axilares, masculinas ou hermafroditas, sem pétalas, amarelo-esverdeadas. A sua floração ocorre no início da primavera, em abril-maio. Fruto é uma drupa subglobosa, comestível e doce. É muito utilizada como ornamental, em arruamentos, jardins e parques.

Família: Ulmaceae.

Altura: Até 25 metros.

Propagação: Semente.

Época de plantação: Primavera/outono.

Condições de cultivo: Prefere condições de sol ou meia-sombra, solos ricos, profundos e bem drenados. No entanto não é uma espécie muito exigente; tolera condições de frio, secura e solos pouco ricos.

Manutenção e curiosidades: Adapta-se a verões longos e secos e ao vento. É uma das espécies botânicas mais frequentes nos jardins e ruas de Lisboa devido ao seu valor estético, à sombra que proporciona e à resiliência que apresenta à poluição, bem como à adaptabilidade que mostra em condições urbanas. As suas folhas são usadas para fins medicinais. A sua madeira é ainda hoje apreciada, na carpintaria, mobiliário, pavimentos e portas. A casca tem uma essência que era usada como corante amarelo de seda.

 

TILIA CORDATA MILL.

Tília-de-folhas-pequenas

 

 

Árvore caducifólia, com copa ampla e regular, e de crescimento lento. Originária do centro e sul da Europa e oeste da Ásia. Caracteriza-se pela sua casca cinzento-escura, lisa ou fendida longitudinalmente nos exemplares mais velhos. Folhas cordiformes, um pouco assimétricas na base, de cor verde-escura e glabras na página inferior. As suas flores são pequenas, muito aromáticas, de cor branco-creme ou amareladas, reunidas em cimeiras (inflorescência com o eixo principal de crescimento limitado), florescem no verão (julho-agosto). Fruto globoso. É uma espécie muito utilizada quer pelo seu valor estético quer pela agradável sombra perfumada que proporciona.

Família: Malvaceae.

Altura: Até 30 metros.

Propagação: Semente, estaca ou mergulhia.

Época de plantação: Fevereiro/março.

Condições de cultivo: Solos férteis, profundos, frescos e leves; suporta a sombra.

Curiosidades: Do género tília existem mais de 30 espécies diferentes. Árvore muito cultivada pelo seu elevado valor paisagístico, pela dimensão exuberante da copa bem formada e pela sua sombra muito apreciada. Apresenta diversas utilidades: a propriedade calmante da infusão das suas folhas e brácteas; a casca tem propriedades para fins medicinais, esta mesma casca é utilizada para obtenção de fibras empregues na confeção de cordas; a sua madeira é macia e leve, de textura uniforme, excelente para ser talhada, sendo muito utilizada por escultores e fabricantes de estatuetas.

 

Curiosidade

As cores douradas e encarnadas das folhas no outono estiveram durante o verão “encobertas” pela cor verde, dominante na clorofila. Mas, como a clorofila não é uma molécula estável e tem de ser continuamente sintetizada pelas plantas, exigindo sol e calor, no outono, quando os dias ficam mais frios e com menos luz, as moléculas de clorofila quebram-se, e algumas folhas revelam variadas cores de pigmentos, como o amarelo, o laranja e o encarnado.

 

Veja ainda “Outono, a quietude em tons vermelhos”

 

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