Revista Jardins

Orquídeas e os seus polinizadores

Abelha em Anguloa, foto cedida por Andreas Kay

A extensa variedade de orquídeas existentes em praticamente todo o mundo, mais de 25 mil espécies, deve-se principalmente a um fator: a sua sobrevivência.

As formas estranhas, os tamanhos, as cores e matizados e todos os acessórios extras, os pelos, as verrugas, os brilhos, as partes moveis, e os mais diversos perfumes, não são mais do que estratagemas que as plantas desenvolveram ao longo dos tempos para seduzirem os seus polinizadores e os atraírem para as suas flores. Assim, o resultado da evolução destas maravilhosas plantas foi uma enorme e fantástica diversidade. Ao serem polinizadas, o seu objetivo é atingido. De seguida, as orquídeas desenvolvem as cápsulas de sementes (os frutos) e assim garantem que novas plantinhas possam germinar e garantir o futuro da sua espécie.

Estratégias de atração de polinizadores

Ao contrário de outras plantas, as orquídeas não são polinizadas pelo vento nem pela água e, como grande parte das espécies não tem néctar. As orquídeas tiveram de desenvolver outros recursos para atrair (e muitas vezes enganar) os seus polinizadores. E conseguem-no das mais variadas formas:

Cor e aroma

O Cymbidium serratum desenvolveu uma cor e odor muito atrativo para os ratos do campo, que adoram comer os labelos das flores Cymbidium. Mas enquanto devoram esta iguaria, a flor deposita as polinias no pelo dos ratos que, ao passarem para outra flor para lhe comer o labelo, passam as polinias para essa outra flor e se as “colocarem” no local certo, na parte inferior da coluna, a flor é polinizada com sucesso.

Ophrys
Imitação de insetos

Na Europa, e também em Portugal, as pequenas orquídeas terrestres do género Ophrys imitam insetos, especialmente abelhas. A forma da flor assemelha-se a uma abelha fêmea vista de cima e liberta um odor muito atraente para os machos.

Estes disfarces são difíceis de resistir para os machos que tentam copular com as “flores-abelhas”. Enquanto o pseudo ato sexual ocorre, as flores depositam as polinias no inseto, que acaba por abandonar essa flor e ser terrivelmente atraído por outra flor de orquídea, tentar copular com ela e, ao ser novamente enganado, acaba por polinizar a flor.

Mas por vezes as flores imitam abelhas-macho com ar ameaçador, como acontece com uma espécie de Oncidium da América do Sul. Aí, os machos das abelhas verdadeiros travam grandes lutas com essas flores. E enquanto lutam, tornam-se, sem saber, transportadores das polinias que se colam no seu corpo até serem depositadas, novamente sem querer, numa outra flor.

Colibri

Os insetos parecem não dar pelas polinias agarradas ao seu corpo. No entanto quando os polinizadores são aves, por exemplo os colibris, estes utilizam o bico para sugar o néctar da flor. Quando colocam o bico no interior da flor, esta liberta as polinias, que são geralmente amarelas, mas nesses casos especiais de flores polinizadas por aves, como as aves viam facilmente as polinias e as retiravam do bico com uma pata, as orquídeas modificaram a cor das polinias para o castanho-escuro ou mesmo negro para se confundirem com a cor do bico das aves e assim passarem despercebidas.

São muitos os exemplos curiosos e inteligentes da evolução das orquídeas para atrair os polinizadores. Alguns desses disfarces baseiam-se na mudança da cor ou no desenvolvimento de um aroma que atraia terrivelmente o seu polinizador. Cada orquídea tem normalmente um só tipo de polinizador, seja este um inseto, uma ave ou outro tipo de animal.

Bulbophyllum
Aroma

As orquídeas do género Bulbophyllum têm má fama entre os cultivadores. Cheiram mal. Mas têm umas formas e cores entre os castanhos e os vermelhos. Tudo para atrair os seus polinizadores – moscas – a cor faz lembrar carne putrefacta e o aroma colabora com o disfarce. Nada agradável para quem os cultiva, mas como são flores diferentes e estranhas, os colecionadores procuram-nas e cultivam-nas.

As orquídeas podem ser também fornecedoras de perfume aos insetos. Assim acontece com as abelhas Euglossa na América do Sul. Algumas orquídeas desenvolveram óleos perfumados muito apreciados pelas fêmeas desse género de abelhas que, exigentes, só acasalam com os machos mais perfumados. Assim, logo que as flores abrem, as abelhas machos vão perfumar-se às flores das orquídeas para caírem nas boas-graças das suas amadas. Raspam as patitas pelas flores e espalham o óleo perfumado colhido pelo corpo. Enquanto se perfumam, as flores libertam as polinias que se colam às abelhas que, no frenesim de se perfumarem o máximo possível de flor em flor, acabam por polinizar essas orquídeas.

Abelha em Serapia com polinia na cabeça, foto cedida por Américo Pereira
Armadilhas

Neste e em outros casos há como uma troca de “favores” entre as flores e os polinizadores; mas há flores que enganam completamente os seus polinizadores. Por exemplo, as orquídeas-sapatinho, a forma original do seu labelo não é mais do que uma armadilha para polinizadores.

Os insetos são atraídos para o interior do labelo, pelo perfume ou pelas pintinhas escuras que revestem o seu interior. Ao entrarem no labelo em forma de “bico de sapato”, é muito difícil sair. As paredes do interior do labelo são muito escorregadias e têm as abas voltadas para dentro. A única saída é por um “caminho” que milagrosamente não é escorregadio, que por vezes até tem pilosidades que parecem estar lá para ajudar os insetos e a saída é mesmo junto à coluna, onde estão dois pares de polinias, um de cada lado da saída. Os insetos são encaminhados para lá e, ao saírem pelo orifício apertado, são “presenteados” com as polinias da flor. Atraídos por outra flor do mesmo tipo, voltam a cair no labelo e a “encontrar” a saída onde vão depositar as polinias que trazem agarradas a si. E a flor fica polinizada.

São fantásticos estes e outros exemplos de polinização das orquídeas. Cada espécie é uma história de um disfarce, de um engano ou de uma artimanha. Tudo pela mais válida razão: a sobrevivência da espécie.

, Andreas Kay e Américo Pereira

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