Revista Jardins

Quinta das Flores, o meu paraíso

Quinta das Flores, Azeitão

 

Cuidar do meu jardim deu-me a conhecer uma nova faceta da minha personalidade. Desenvolveu em mim a capacidade de apreciar o “longo prazo” e de me perder em contemplações e observação das maravilhas e desafios da Natureza.

 

Hoje acredito que as plantas e as flores fazem parte do nosso bem-estar. Ao conseguirmos estabelecer uma ligação com a Natureza sentimo-nos bem e alegres. Este é o um dos meus desafios hoje em dia, convencer as pessoas das maravilhas da nossa proximidade ao “mundo verde”.

É um cliché dizer que o meu espaço verde é o meu paraíso, mas a verdade é que me sinto plena e leve sempre que lá estou.

Tudo começou há oito anos quando comprei a minha quinta em Azeitão. Na altura, o terreno estava maltratado, sem canteiros nem zonas de lazer, e as árvores tristes e abandonadas. A única zona mais definida era o pomar onde tinha muitos citrinos.

Reconstruímos o jardim nessa altura e, apesar de muitas inseguranças, sabíamos que queríamos ter uma zona de refeições perto da casa e com vista para a piscina e pomar, uma zona de lazer com relva para os nossos filhos, ainda pequenos, brincarem, um minicampo de futebol (o sonho dos homens da casa) e uma horta.

 

 

E assim começou a construção do meu jardim, que dura até aos dias de hoje. Isto porque há sempre mais um canteiro para formar, mais uma árvore para plantar, mais um caminho por definir… e é isso que torna este projeto tão maravilhoso. A área total do terreno, apesar de não ser grande, cerca de um hectare, já me permite estar sempre em atividade, com tarefas de ampliação de canteiros, plantação de novas árvores e flores anuais, manutenção, podas, sementeiras, etc. A quinta tem uma forma retangular e é toda cercada por Cupressus leylandii, que cresceram muito e hoje perfazem uma barreira compacta e alta. Estes Cupressus são a grande fonte de folhagem para os meus arranjos natalícios!

Quando entramos na quinta, a primeira coisa que vemos é a casa depois o jardim e piscina e só no final fica a estufa e o pomar! A horta fica de um dos lados, juntamente com o canil e uma casinha para receber as visitas.

Para que seja mais fácil imaginar o que é hoje a Quinta das Flores, distingo algumas áreas mestras na minha quinta com características, necessidades e evolução próprias:

 

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Casa e área de refeições exterior

 

 

Sou uma aficionada por jardinagem no geral, mas a minha grande paixão são mesmo as flores e portanto arranjo sempre forma de plantar mais flores e ter canteiros novos espalhados por toda a parte.

Nesta área tenho optado por vasos de flores que emolduram os acessos à rua e ajudam a segmentar espaços. Tenho um carrinho de mão de madeira antigo, que comprei numa feira de velharias em Azeitão, cheio de vasos de plantas e flores que vou trocando nas várias estações e de acordo com as cores que me apetece em dado momento ter nesta área.

Por cima da mesa, uma pérgula segura as trepadeiras hera e glicínia que nos trazem sombra e uma área mais fresca no verão. Esta zona de refeições dá para o jardim relvado e para um pequeno canteiro de catos e arbustos perenes.

Flores em vasos:

Sardinheiras (Perlargonium)
Hortênsias
Espargos
Rododendtros
Glicínia

 

Jardim, piscina e lounge exterior

 

 

Foi nesta zona onde plantei relva e também desenvolvi alguns canteiros circundantes. Tenho o “canteiro das cores”, onde combino as minhas primeiras roseiras David Austin, em flor de março a novembro, com plantas arbustivas de várias tonalidades de verde, Achilleas rosa e violeta, dália… Este é o canteiro de que eu mais gosto porque já tem alguns anos e isso permite ter as roseiras mais robustas e cheias de rosas, assim como os arbustos já mais desenvolvidos e frondosos. 

Na primavera, é um canteiro muito colorido entre os vários verdes dos arbustos, os vários tons de rosa e brancos das rosas e os púrpuras e amarelos das Achilleas. No verão, enche-se de dálias, que dão flor até outubro.

Neste canteiro tenho ainda que destacar a minha árvore preferida, já plantada por mim: uma magnólia com flores que, embora muito efémeras, são de um rosa maravilhoso. Espero ansiosamente pelo momento em que esta árvore já esteja tão grande que eu possa podar alguns ramos e usá-los nos meus arranjos!

Num outro canteiro, do outro lado da relva, optei por plantar várias sálvias roxas que combinei este ano com várias Eryngium azuis que hão de crescer e acrescentar o tom azul intenso. Aqui intercalei também alguns viburnos brancos que, apesar de todas as primaveras já me presentearem com várias flores em forma de bolas brancas, ainda estão longe do seu potencial.

Nesta área tenho alguns elementos que complementam a Natureza e nos enriquecem o jardim e a vivência nele. Tenho um pote de terracota antigo (de azeite) de grande dimensão que se impõe no meio das flores e uma lareira exterior no meio da relva e ladeada por várias alfazemas. Aproveitamos muito a lareira exterior no inverno; podemos estar com amigos ao final da tarde e noite à volta da lareira e no meio do jardim, apesar das baixas temperaturas.

No outro extremo do relvado fica a piscina onde tenho alguns vasos com as românticas dipladénias rosa e um minicanteiro com duas roseiras e alguns bolbos que dão flor todas as primaveras.

No caminho de entrada da casa, tenho várias trepadeiras e aqui distingo uma Hardenbergia de flor roxa que está no seu esplendor em janeiro e fevereiro, jasmim, que perfuma a casa e dá flor em março e abril, e uma roseira, que dá cor nos restantes meses de primavera e verão.

Em resumo, diria que tenho um jardim variado, com muitas espécies de árvores, arbustos e flores com cores que andam pelas várias tonalidades de verde, rosa e violeta, por vezes com umas algumas pinceladas de branco, amarelo ou encarnado.

 

Pomar

 

 

Inicialmente o pomar era constituído na sua maioria por árvores de citrinos e algumas pereiras e macieiras. Entretanto, diversifiquei bastante e hoje tenho também vários pessegueiros e ameixeiras, figueiras, abacateiros, diospireiros e romãzeiras. Árvores de frutos secos tenho uma nogueira, uma aveleira e amendoeira.

O pomar é um desafio constante, ora porque temos as árvores para podar, ora pelas constantes pragas que vão surgindo, obrigando a encontrar formas criativas e biológicas para as controlar. Poder comer fruta do meu pomar é motivo de grande orgulho e satisfação não apenas para mim mas para toda a família!

À volta do pomar e no caminho que o dividem ao meio, tenho muitas flores que dão um ar alegre e leve ao amontoado de árvores: rosas, peónias, narcisos e arbustos verdes como Alchemilla Mollis. Uma particularidade de que gosto especialmente na quinta é que da casa e da piscina vemos o pomar, o que faz dele parte integrante da quinta.

 

Estufa

 

 

A estufa é a menina dos meus olhos. A minha greenhouse, como dizem os ingleses é realmente a minha casa verde. Foi adquirida e construída mais tarde e foi um sonho tornado realidade. É onde passo os dias de inverno a tratar das hortícolas que passo para o interior nesta altura do ano e das minhas flores e propagações. Faço várias composições em vasos que depois ofereço aos amigos em ocasiões especiais ou vendo a clientes que assim conseguem ter vasos totalmente personalizados e únicos.

É uma estrutura de metal branca que assenta num muro de tijolo, em forma de casa clássica inglesa, é toda envidraçada e fica localizada num extremo da quinta junto ao pomar. É lá que guardo os meus cadernos de jardinagem onde faço as minhas anotações, muitos vasos, utensílios de jardinagem e material para as sementeiras.

Se é indispensável ter uma estufa? Não, mas amplia muito o que podemos fazer em jardinagem. Tirar partido da temperatura quente que mantém no inverno permite-nos iniciar as sementeiras e a propagação de plantas muito mais cedo. Além disso, é onde planto as hortícolas mais sensíveis ao frio, como, por exemplo, as alfaces, durante os meses de inverno. Desenvolvem-se mais rapidamente no interior e não sofrem com a geada. Para mim a estufa é como uma casinha de bonecas para as crianças, só que em vez de bonecas está repleta de plantas. 

Preocupo-me em mantê-la limpa e bonita, e toda a zona envolvente esta cheia de vasos de flores e canteiros para as flores anuais que planto todos os anos. A área à volta da estufa funciona como uma extensão, é como uma zona especial para o hobby jardinagem em oposição às outras áreas funcionais de horta, pomar e jardim. No verão, é impossível estar dentro da estufa dadas as temperaturas extremamente elevadas que atinge e, nessa altura, tiro todas as plantas para o exterior e aproveito para uma limpeza profunda.

 

Horta

 

 

Apesar de na altura em que foi pensada não ter grandes noções de qual seria a dimensão apropriada à minha família, hoje penso que resultou bem, todas as semanas levo para a minha casa de Lisboa cestas de legumes e hortícolas.

A horta é composta por nove canteiros, cada um com um metro de largura e aproximadamente cinco de comprimento. Duas vezes por ano, acrescento uma boa camada de composto e recorrentemente vou adicionando húmus. Estão sempre cheios e há hortícolas presentes durante todo o ano: alfaces, couves, brócolos, beterrabas, espinafres, rúcula… Também planto alho e alho-francês, cebola e batata-doce e, no verão, entram os pepinos, feijão-verde, curgetes, abóboras, melões, meloas e melancias, pimentos, beringelas e tomate!

Tento que a disposição de legumes seja relativamente organizada, mas sempre tentando alguma proximidade e alternâncias tendo em conta as consociações.

Não dispenso na horta a plantação e sementeira de flores! Os amores-perfeitos dão cor durante o inverno e, na primavera e verão, entram as ervilhas-de-cheiro, os cosmos e as dálias. Além de tornarem a horta alegre e bonita, ajudam a atrair abelhas e insetos que ajudam a dominar as pragas mais frequentes.

Por causa dos dois cães que temos na quinta, tivemos de fazer uma cerca que também é aproveitada para amparar o crescimento do chuchu.

De cada um dos lados da horta construí, há cerca de dois anos, um canteiro comprido onde dispus muitas hortênsias brancas que todas as primaveras emolduram a horta. Tenho uma grande preocupação estética com o jardim porque acredito que um jardim bonito torna ainda mais apetecível o trabalho de jardinagem, mesmo o mais rotineiro e cansativo.

Ainda na horta, vive a Maria Luísa, o espantalho da família. Foi o nosso projeto da quarentena e deu um ar divertido à horta. Imagino que também afugente alguns pássaros mais distraídos porque os mais atentos já perceberam que a Maria Luísa não é perigosa!

A Quinta das Flores é uma quinta familiar com o propósito de proporcionar bons momentos em família. É minha ambição deixar um legado de um jardim especial, totalmente personalizado e feito à minha medida para que os meus filhos um dia possam reconhecer no jardim as flores que viam nas jarras em casa, continuar a cuidar das minhas rosas e assegurar todo o trabalho de um jardim que terá passado para as gerações futuras.

 

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