Revista Jardins

S. Miguel, uma paisagem para sonhar

Lagoa das Sete Cidades

Desta vez estive apenas na ilha de S. Miguel, e, ao longo  da semana que lá passei, resolvi percorrer toda a ilha e esquecer Ponta Delgada, já conhecida e mais visitada por razões turísticas e profissionais. Nem lá fiquei a dormir, e escolhi as Furnas para recolher à noite.

Em S. Miguel é indispensável ter um carro alugado se queremos ir um pouco à aventura e ao sabor dos caprichos climatéricos. Agora, o  site spotazores.com oferece imagens ao momento de várias webcam colocadas em todos os pontos mais importantes do arquipélago e podemos escolher os nossos destinos sem incorrer na frustração de não encontrar condições de visibilidade para usufruir da paisagem. Por várias vezes, no passado percorri horas de estrada até à Lagoa das Sete Cidades para me deparar com uma visão cinzenta e opaca como um ecrã sem imagem.

Lagoa do Fogo

Graças ao spotazores.com, mal aterrei em Ponta Delgada, sem sequer descarregar as malas do carro, fui a correr para a Lagoa do Fogo, nessa tarde com visibilidade perfeita. Como eu, centenas de turistas e locais, aproveitaram as condições excecionais de visibilidade para olhar, admirar e fotografar esta lindíssima  Lagoa restos de um vulcão que fazia parte do maciço da Serra de Pau, e inativo há cerca de 500 anos. Poucos se atrevem a descer a pé a encosta  muito íngreme, de mau piso e com uma subida de pesadelo, mas a verdade é que, para se gozar a beleza do Fogo em pleno e apreciar a abundante vegetação endémica, há que ir até lá abaixo e admirar a paisagem da Lagoa de vários pontos e não apenas da estrada.

Depois, se o tempo o permitir, dá-se um mergulho retemperador nas suas águas para ganhar forças para a subida. No dia seguinte, por curiosidade, fui às webcams e, do Fogo, já nada se via. A nebulosidade habitual dos Açores já tinha reclamado a Lagoa só para si. Mas eu acho que isto mesmo faz com que poder vê-las se torna tão especial. A imprevisibilidade das condições atmosféricas ao longo de um mesmo dia (podemos experimentar o clima das 4 estações) fazem com que uma estadia nestas ilhas nunca seja monótona, e, para quem gosta de apreciar a Natureza, há a oportunidade de a admirar em várias declinações de luz, de brilhos e de cheiros.

Porto Formoso

Locais a não perder

De propósito, também desta vez decidi não visitar os vários jardins de S. Miguel (António Borges, José do Canto, a mata-jardim das Furnas) e optei por simplesmente percorrer toda a ilha. Nos dias em que as Lagoas não tinham visibilidade fui estrada fora até aos cantinhos mais paisagísticos da ilha.

Assim descobri a Maia, Porto Formoso, Calhetas, Mosteiros, tudo locais tranquilos, limpos, onde apetece ficar. Nestas andanças também descobri, com surpresa, que nem só de paisagem vive a ilha de S. Miguel. Para além das (agora) excelentes estruturas hoteleiras das Furnas, há pela ilha restaurantes surpreendentes e a não perder, como o da Associação Agrícola de S. Miguel, em Rabo de Peixe.

Lagoa Azul vista da margem
Cultura

Outro local inesperado é o novíssimo “Arquipélago”, o Centro de Artes Contemporâneas localizado na Ribeira Grande, uma antiga fábrica de álcool e tabaco, cuja recuperação mereceu o prémio de Arquitetura Contemporânea Europeia Mies van der Rohe, em 2015.

A Lagoa das Sete Cidades

Ao fim de 3 dias de consulta desenfreada das webcams, lá vi uma promissora imagem da Lagoa das Sete Cidades e para lá me dirigi. A estrada para se chegar às Sete Cidades pelo Sul da Ilha, é, já em si, uma glória. As hortênsias estavam no seu esplendor e pensei várias vezes porque chamam a S. Miguel a “Ilha Verde”, quando cor não lhe falta, cor essa cuja predominância de tons varia de estação para estação. No verão é o azul.

As Sete Cidades são uma emoção. A visão da Lagoa – que afinal são duas: a azul e a verde – a partir  do local onde se construiu em tempos um hotel, agora totalmente abandonado, é um verdadeiro esplendor. Os turistas mais corajosos trepavam pelo edificado acima para usufruir o cenário de um ponto ainda mais alto. Fui até lá baixo, às Sete Cidades propriamente ditas, disposta a passar o dia a passear pelas margens e retardar o máximo possível o regresso às Furnas.

Lagoa Verde

Com cerca de 4,2 kms de comprido por 2 kms de largura, as Lagoas são tão bonitas vistas de cima como apreciadas de baixo. Belas criptomérias e uma cobertura de plantas endémicas fazem uma moldura perfeita para o cenário das águas e um refúgio para as aves migratórias.

O dia estava tão bonito que, ao almoço, troquei a gastronomia da excelente tasquinha “Lagoa Azul” localizada no casario das Sete Cidades, pelo menos bom mas mais arejado “Green Love”, mesmo à beira da Lagoa.

Foi uma semana inteira para meditar no privilégio que é termos uma paisagem natural daquelas na nossa própria terra.

Fotos: Vera Nobre da Costa

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