Revista Jardins

Verde (e) sustentável

Mais que bonito, um jardim funcional!

A cor verde surge múltiplas vezes como sinónimo para sustentabilidade, mas será mesmo assim? Ter um espaço verde sem recorrer a pesticidas ou herbicidas significará ter um jardim sustentável? A resposta é não! Mas há que começar por algum lado, certo?! Ao pensarmos num jardim sustentável, a principal premissa terá de ser sempre a criação de um espaço aprazível cuja construção e manutenção não comprometa as necessidades das gerações futuras e que, portanto, proteja o ambiente e conserve os seus recursos.

Isto não significa que precisemos de abolir o jardim e deixar as plantas espontâneas dominar, mas podemos pensar nele de forma a que tenha o menor impacto possível no ambiente – ter baixa manutenção, reutilizar recursos, utilizar métodos sustentáveis de irrigação e, claro, contemplar plantas pouco exigentes com múltiplos usos além do ornamental! Se é verdade que as plantas autóctones são promotoras de um jardim sustentável, é também verdade que muitas espécies que se encontram nos nossos jardins já se adaptaram e aclimatizaram, razão pela qual a sua utilização não requer, necessariamente, um maior uso de recursos.

O segredo está em conseguir um espaço equilibrado que promova a biodiversidade e resiliente às consequências das alterações climáticas. E como fazemos para ter um espaço ecologicamente sustentável? Planeando o jardim ou terraço com plantas cuja funcionalidade ultrapasse a sua vertente ornamental: sebes protetoras cujas bagas são comestíveis, canteiros com flores sublimes que também são saborosas, cantinhos capazes de garantir sumos deliciosos e, visualmente apelativos, etc.

O conceito não é novo, já na Idade Média os monges beneditinos mantinham nos claustros dos mosteiros uma grande variedade de plantas aromáticas e medicinais cuidadosamente conjugadas com hortícolas. Esta combinação garantia espaços diversos, com plantas variadas para subsistência, mas também para condimentar pratos e para tratamentos de doenças e ferimentos. Se, nos mosteiros, estas plantas eram cultivadas em estruturas rígidas, na nossa realidade, podemos aplicar estrategicamente os legumes e plantas aromáticas de forma a criar um espaço estético e sensorialmente aprazível.

Por que razão não pensarmos no loureiro (Laurus nobilis) como uma planta que pode compartimentar o nosso jardim e simultaneamente dar aroma e sabor aos nossos cozinhados? Por que motivo não ter uma sálvia (Salvia officinalis) que nos brinde com uma imensa floração lilás que atrai polinizadores e nos permite fazer chás com propriedades digestivas? Por que não garantir fruta biológica acabada de colher de uma árvore de sombra onde se pode pendurar um balouço para os mais pequenos? A imaginação é o limite quando vivemos num país de clima mediterrânico rico em plantas com cor, cheiro e aroma! Eis alguns exemplos de plantas que podemos coordenar de forma a termos canteiros bonitos, funcionais e sustentáveis:

Zimbro (Juniperus communis)

Arbusto resistente a condições climatéricas adversas, pragas e doenças, muito utilizado como maciço ornamental. O seu fruto (um gálbulo) dá origem ao gin pelo que, quando colocado no jardim, estas bagas podem ser recolhidas para aromatizar o mesmo ou temperar pratos de carne.

Alecrim (Rosmarinus officinalis)

O alecrim é indispensável em qualquer jardim soalheiro, seja como planta única ou como sebe de compartimentação de espaço. Os usos do alecrim não são desconhecidos para a maior parte das pessoas: temperos, chás, óleos essenciais, propriedades anti-inflamatórias e digestivas.

Alfazema (Lavandula anguslifolia)

Com um crescimento até aos 80 cm, as alfazemas atingem o seu esplendor na floração. O contraste das suas flores roxas com o verde-glauco não deixa ninguém indiferente, sobretudo quando se associa o cheiro. Com propriedades relaxantes, esta planta é ideal para quem não prescinde de qualidade cénica, aliada à sustentabilidade e funcionalidade.

Tomilhos (Thymus vulgaris)

Perfeitos como tapizante/revestimento de solo, os tomilhos encantam não só pela sua resiliência, mas pelo cheiro e potencialidade cénica. Como existem várias cultivares de diferentes tons e aromas, acabam por ser uma solução interessante para mosaicos.

Sabugueiro (Sambucus nigra)

Arbusto ou pequena árvore de folha caduca cuja floração aromática e melífera surge na primavera. As flores e bagas são ingredientes ideais para fazer compotas e xaropes concentrados, com os quais se pode confecionar um sem-número de receitas, desde bebidas a molhos para pratos salgados e recheios ou coberturas para doces. Nunca é demais reforçar que o primeiro ponto para planear qualquer jardim é compreender as suas condições e necessidades e, a partir daí, organizar as plantas desejadas de forma a criar um efeito cénico apelativo, contado com plantas boas companheiras entre si (que confundam ou repilam pragas/atraiam insetos benéficos) e que garantam um equilibrado uso dos recursos existentes!

É em 2022 que vamos dar mais um passo para a sustentabilidade no jardim?!

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