Revista Jardins

Welwitschia mirabilis

Welwitschia mirabilis

 

Uma relíquia viva descoberta no deserto da Namíbia.

 

Viaje até às paisagens do deserto do Namibe e fique a conhecer um enigma da Natureza, a Welwitschia mirabilis, desde a sua descoberta pelo botânico austríaco Friedrich Welwitsch, em 1859, até às suas extraordinárias adaptações que lhe permitem viver nas adversidades do deserto.

 

Esta fascinante planta, nativa do deserto da Namíbia e do sul de Angola, foi descoberta em 1859 no deserto de Moçâmedes por Friedrich Welwitsch*, que a classificou como Tumboa devido à sua denominação pelas tribos locais de Ntumbo. No entanto, o nome científico porque a conhecemos hoje foi-lhe atribuído por Joseph Dalton Hooker, naturalista inglês que, em homenagem a Welwitsch, a classificou como Welwitschia mirabilis. O epíteto “mirabilis” ficou a dever-se à conhecida reação de Welwitsch que, em pleno deserto, sob clima tórrido, ao avistar tão singular planta, pensou tratar-se de uma miragem.

 

FRIEDRICH WELWITSCH (1806-1872) Welwitschia no deserto do Kalahari, África do Sul, ilustração da The People’s Encyclopedia, Moscovo. Rússia, 1911

 

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Alguns indivíduos podem ter uma vida útil muito longa, chegando a ultrapassar dois mil anos, sendo, por isso, considerada uma verdadeira relíquia viva. Esta planta de aspeto singular encontra-se representada no brasão de armas nacional da Namíbia, sublinhando a sua importância para o país.

 

Emissão de selos comemorativos do 1.º centenário da descoberta da Welwitschia mirabilis, em 1959, pelos CTT de Angola, com ilustração de Neves e Sousa

 

Encontrada com maior densidade no deserto do Namibe, que se estende do sul de Angola ao norte da Namíbia, a Welwitschia é uma planta dioica, acaule, cujo tronco vai alargando com a idade. A sua floração ocorre anualmente, geralmente a partir dos seus 20 anos. A adaptação das suas estruturas ao ambiente desértico é evidente. Sendo a chuva uma raridade na região, a capacidade de absorção do orvalho torna-se imprescindível à sua sobrevivência. As suas raízes, muito próximas da superfície, podem atingir os 30 metros de diâmetro, e a sua raiz principal tem a capacidade de alcançar águas subterrâneas, sendo a água absorvida pela fina rede de raízes, sobretudo sob a forma de orvalho. Também a disposição das suas folhas é eficiente no que diz respeito ao armazenamento de água, permitindo à planta enfrentar os períodos de escassez. Caracteriza-se por ter apenas duas folhas coriáceas e opostas, que se “rasgam” com o tempo e devido à ação dos ventos, criando a ilusão de possuir várias folhas, e crescem indefinidamente em comprimento e largura a partir do colo, ano após ano. Devido à formação lenta de raízes, a germinação das sementes de Welwitschia é uma tarefa desafiante, rondando cerca de 0,1% a taxa de germinação das suas sementes.

Esta espécie está assinalada como em vias de extinção, encontrando-se protegida pela Convenção Internacional para a Proteção da Fauna e Flora desde 1933. Em 2010, celebraram-se os 151 anos desde que a Welwitschia mirabilis passou a fazer parte integrante da flora mundial.

 

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Referências bibliográficas

Dolezal, H. (1974). Friedrich Welwitsch: Vida e obra. Lisboa, Portugal: Junta de Investigações Científicas do Ultramar.

Viterbo, S. (1906). A jardinagem em Portugal: Apontamentos para a sua história. Coimbra: Imp. da Universidade.

 

Artigo feito com a colaboração de Ana Luísa Soares e Maria Manuel Romeiras (Bióloga, Professora no Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa).

 

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