Revista Jardins

4 mitos na agricultura

Neste artigo, vamos desmitificar alguns daqueles que são mitos, muitos deles antigos, ligados a tarefas agrícolas e de jardinagem.

1. A poda faz bem às árvores

As fruteiras para se desenvolverem bem, como é comum referir-se, precisam de ser podadas. Na verdade, esta afirmação, não sendo de todo incorreta, carece de algum esclarecimento.

As razões para se podar uma planta podem ser variadas, mas estão todas mais relacionadas com a necessidade que temos de condicionar o desenvolvimento destas plantas, por motivos de frutificação mais abundante, por motivos sanitários, etc., do que com as necessidades da planta, que pode perfeitamente sobreviver, crescer e reproduzir-se sem intervenção do Homem.

Sempre que se efetua uma poda, está-se a desequilibrar os fluxos energéticos que a planta criou e com os quais está a contar para o seguinte período vegetativo. Cumulativamente, reduz-se ainda a capacidade fotossintética da árvore por supressão da área folear disponível.

Efetivamente, do ponto de vista da árvore, pode-se afirmar que haverá apenas vantagem na execução da poda em situações nas quais a planta esteja debilitada por questões fitossanitárias. A título de exemplo, pode-se referir a poda sanitária executada em ramos apodrecidos ou mortos que alastrariam a patologia à restante estrutura vegetal. Também a poda de rejuvenescimento poderá ser importante em situações em que a árvore apresente uma debilidade generalizada ao longo da copa, o que poderá ser indicador de que o sistema radicular não tem capacidade de suprir as necessidades energéticas da estrutura aérea, tornando-se benéfica a redução da copa de forma a equilibrar as capacidades da raiz com a dimensão da copa.

2. Caiar os troncos de branco

Esta técnica, utilizada há já mais de 400 anos, de proteger com cal o tronco das árvores de fruto era aplicada inicialmente com o intuito de promover a cicatrização de feridas de corte. Atualmente, esta técnica cultural é ainda utilizada para o controlo de pragas e de doenças nas árvores de fruto.

Contudo, outros entendimentos são possíveis e atualmente sabe-se que esta técnica implica mais desvantagens do que benefícios. O hidróxido de cálcio, vulgarmente designado por cal, é uma substância alcalina que corrói a parte externa da árvore, a casca, portanto, eliminando não só os fungos nocivos, mas comprometendo também outros microrganismos essenciais para a planta. Outro argumento prende-se com o facto de as árvores realizarem trocas gasosas através de estruturas presentes nos caules, pelo que a caiação, pela impermeabilização da casca, limitará ou impedirá na totalidade estas trocas gasosas, comprometendo assim a sanidade da árvore.

É importante saber que é completamente inútil, custa tempo e dinheiro e, além de não beneficiar em nada a árvore, ainda a priva de todo um conjunto de processos fisiológicos.

3. As formigas alimentam-se das folhas das árvores

As formigas são insetos que colonizam algumas espécies vegetais, mas, antes de eliminar as formigas nas fruteiras, é importante conhecer alguns benefícios que elas podem providenciar.

As formigas trazem alguns benefícios para o ecossistema, pois são responsáveis por limpar grande parte do lixo residual das cidades; nas hortas, as formigas têm um importante papel no arejamento do solo e são predadoras para outras pragas agrícolas. Por estes motivos, o controlo de formigas deverá ser bem equacionado.

Durante a primavera e verão, aquando da subida às árvores, as formigas procuram sobretudo para a sua alimentação as meladas açucaradas segregadas pelas cochonilhas e pelos afídios, afastando ainda a fauna auxiliar de forma a proteger a espécie (praga) que lhes garanta alimento. De forma mais esporádica poderão adquirir comportamentos fitófagos.

Assim sendo, o controlo das formigas deverá assentar em dois pressupostos: o controlo inicial de cochonilhas e de afídios pela segregação de substâncias açucaradas e, em caso de necessidade, a instalação no tronco de faixas viscosas.

4. Armadilhas com água de bacalhau

A mosca-do-mediterrâneo é uma pequena mosca, cujas larvas se alimentam da polpa das frutas, provocando a sua decomposição e queda, é das mais preocupantes pragas em fruticultura.

No sentido de a controlar, foi-se implementando na agricultura familiar o conceito do uso de garrafas ou mesmo de garrafões com água de bacalhau. Esta técnica utiliza vasilhame plástico perfurado no interior dos quais existe uma mescla de água com restos de bacalhau, na sua maioria rabos e barbatanas. Esta metodologia ganhou inúmeros adeptos por três razões: a facilidade de execução, o seu reduzido custo e a grande quantidade de moscas capturadas.

Convém ter em atenção que elevadas capturas de moscas não são sinónimo de capturas massivas de mosca-do-mediterrâneo. Estas armadilhas capturam de facto uma grande variedade de moscas e de insetos no geral, sendo que muitos deles não só não possuem carácter
de praga como ainda desempenham um papel muito importante no equilíbrio biológico no controlo de muitas outras espécies de entomofauna. Na verdade, a quantidade de mosca-do-mediterrâneo capturada é manifestamente reduzida quando comparada com as restantes capturas, motivo pelo qual o uso deste tipo de armadilha artesanal é desaconselhado.

A comunidade científica tem ao longo dos últimos anos desenvolvido diversas soluções, recomendando nomeadamente a instalação de garrafas armadilhas tipo Mc Phail ou Tephritrap à razão de uma para cada três árvores com atrativo alimentar (proteína hidrolisada ou fosfato biamónico) sendo esta técnica muito mais seletiva para a mosca-do-mediterrâneo e menos danosa para os insetos em geral.

 

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