Nesta conversa com Pedro Martins Pereira, celebramos uma marca nacional histórica, ligada à indústria metalúrgica, que se uniu à Larus, uma marca especializada em mobiliário urbano, para que juntas possam complementar-se e crescer. Recordamos ainda o comendador Augusto Martins Pereira, fundador da Alba, que, além da marca, nos deixou um grande legado social.
Quem foi o comendador Augusto Martins Pereira?
Augusto Martins Pereira nasceu, em 1895, em Sever do Vouga, onde o pai possuiu uma fundição. Com 10 anos, segue com o pai para trabalhar na fundição da Companhia das Águas de Lisboa, onde um tio era mestre fundidor, deslocando-se posteriormente para a Covilhã, para a instalação de uma nova fundição.
Em 1901, regressam a Sever do Vouga, trabalhando nas minas do Braçal e, depois, nas minas de São Brás de Alportel. Embarca no ano seguinte para os Açores, onde trabalha numa fundição.
Em 1905, com 19 anos, segue para Boston, EUA, onde trabalhou em duas fundições, tirando um curso noturno nesta área. Regressa mais tarde a Ponta Delgada, onde instala uma fundição de sinos e uma de ferro, alugando ainda outras duas. Em 1921, vende as empresas e regressa ao continente, instalando-se, por questões de localização e de acesso a matérias-primas, em Albergaria-a-Velha, onde cria a Fundição Lisbonense, denominação entretanto alterada para Fundição Albergariense, produzindo equipamento doméstico, agrícola e industrial, em ferro fundido, alumínio e bronze.
Em 1928, cria a marca Alba, reconhecida pela sua elevada qualidade e criatividade, o que permitia o crescente lançamento de novos produtos, como colunas de iluminação pública, mobiliário urbano, acessórios para águas e saneamento ou equipamento de combate a incêndio, fornecendo o Continente, as Ilhas e o Ultramar,
exportando ainda para os Estados Unidos. Obteve a Medalha de Ouro na Exposição Industrial Portuguesa de 1934, sendo agraciado com a Comenda de Mérito Industrial em 1943.
Percorreu vários países europeus em viagens de negócios, contactando com as mais recentes tendências.
Construiu um enorme legado social, cultural e desportivo:
- Em Albergaria-a-Velha, a Cozinha e Sopa dos Pobres, o Hospital, um bairro social com 50 moradias, a Casa da Criança (para crianças dos 6 meses aos 6 anos, incluindo alimentação, roupa e assistência médica), o Clube Alba (ainda referência da cidade), com Parque de Recreio e Desporto, incluindo instalações para diversas modalidades e ofereceu o terreno para a escola secundária. Construiu um Cineteatro, hoje Centro Cultural, a Banda Alba e um bairro para os funcionários da empresa.
- Em Sever do Vouga, construiu a Cozinha e Casa dos Pobres, o Asilo, o Posto Hospitalar e o Cineteatro, hoje Centro Cultural da vila.
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Que peças considera as mais icónicas da marca?
Fazem parte da nossa memória coletiva, por exemplo, o banco de jardim n.º 1, as colunas de iluminação e os marcos de incêndio, que incorporam o logótipo da marca.
Que desafios enfrentam para manter atual uma marca tão antiga?
A marca constitui o maior valor de uma organização. Alicerçar a imagem de marca num valioso património histórico, industrial e social constitui uma séria vantagem, se se respeitar esse passado de inovação, qualidade e sentido de responsabilidade social.
Porquê a união com a Larus?
São sobretudo razões familiares. [Eu sou] o fundador da Larus, bisneto do comendador Martins Pereira e engenheiro metalúrgico, fui chefe do departamento de fundição da Alba e posteriormente seu diretor técnico.
Que resultados surgiram dessa união, inclusive no que respeita novos produtos?
A Larus dedica-se particularmente ao desenvolvimento de equipamentos para a área pública. A Alba foi reconhecida na produção de equipamentos destinados ao mercado particular. Foram os casos da loiça em alumínio e em ferro fundido, os fogões a lenha e a gás, as salamandras, ou acessórios domésticos. Esta associação permite uma entrada no mercado privado, como o recente desenvolvimento de fire pits.
A experiência da Alba na área da fundição e o seu prestígio são atributos suficientes para encontrar virtudes nesta união.
Atualmente, a marca tem muito presente o conceito de economia circular. Como o aplicam?
No desenvolvimento de novos produtos, procura-se a utilização integral das matérias-primas, evitando a produção de excedentes. A arte está em conseguir que esse condicionamento não desvalorize o desenho final. A fundição recupera igualmente na sua produção componentes não utilizáveis.
Os processos de fabrico evoluíram desde o início da Alba, em 1928. Isso foi um problema nesta fase de reflorescimento?
A marca Alba foi criada em 1928, aplicada à firma que nasceu em 1921. Não foi disruptiva a evolução nos processos de fabrico nesta área, nem constitui uma condicionante, antes um desafio para encontrar novas soluções.
Como exemplo, o aço corten só há cerca de 60 anos começou timidamente a ser reconhecido pelas suas caraterísticas anticorrosivas. E hoje desenvolvemos os fire pits utilizando esta matéria-prima.
Qual a visão da Alba para o futuro?
A Alba tem todos os condicionantes para reviver o sucesso que manteve ao longo de várias décadas. Uma história de prestígio, alicerçada na qualidade e inovação e num elevado sentido de responsabilidade social. Características a serem naturalmente mantidas.
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