Revista Jardins

Conheça os jardins de Boboli

Anfiteatro dos jardins de boboli, florença

 

Os Jardins de Boboli, parte integrante do Palácio Pitti, são um dos mais representativos em Florença por refletir os gostos e o poder da família Médici e dos subsequentes proprietários e pela composição e qualidade arquitetónica de todos os seus elementos.

 

A família Médici, mais propriamente a duquesa Leonor de Toledo, esposa do grão-duque Cosme I de Médici, adquiriu o palácio à família Pitti (rival dos Médici) em 1549, para sua residência. À data, a propriedade era constituída por um modesto horto e terrenos agrícolas nas traseiras do palácio. O jardim atual, na sua grandeza, resulta da união do “horto de Pitti” e os terrenos delimitados pela muralha que o seu marido construiu, durante a guerra contra Siena (1546-1548)e que se estendiam grosso modo até à Porta Romana a sudoeste do palácio.

Assim, o jardim passou a ocupar desde o século XVI uma área de45 mil metros quadrados que se mantém na atualidade, constituindo a maior zona verde de Florença; nos séculos XVI e XVII, já era considerado um exemplo de requinte nas cortes europeias e, hoje em dia, constitui uma referência no património arquitetónico e paisagístico de Florença, logo, na história de arte dos jardins italianos. Note-se como curiosidade que a sua abertura ao público data de 1766.

 

Anfiteatro

 

Os Jardins de Boboli (designação medieval do povoado na Rua Romana, devido às espécies florestais existentes na zona, supostamente carvalhos)f oram sendo adornados de estátuas antigas, renascentistas, cavernas, entre as quais a famosa gruta criada por Bernardo Buontalenti, além de majestosas fontes, como a de Neptuno, junto ao anfiteatro, e o Oceano, no centro do “lago com ilha”, a sul da propriedade. No parque, temos exemplos arquitetónicos notáveis, tais como o pavilhão setecentista – Kaffeehaus, estilo rococó tardio, e a Limonaia – Orangerie, construída por Zanobi del Rosso entre 1777 e 1778, além do Palacete do Cavaleiro (Museu das Porcelanas), do Relógio de Sol (Museu do Traje), e as grutas –Madama e a de Buontalenti.

 

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História

 

Fonte de Neptuno

 

Século XVI

Os trabalhos de requalificação do jardim iniciaram-se em 1549, sob o plano encomendado a Niccolò Pericoli (1500-1550), conhecido como Tribolo. Após a morte deste, em 1550, a direção das obras passa para Davide Fortini (genro de Tribolo), ao qual sucedeu Giorgio Vasari (de 1554 a 1661), Bartolomeo Ammannati (de 1560 a 1583) e, mais tarde, Bernardo Buontalenti, autor da Grande Gruta (1583-1593).

Inicialmente, a colina e o vale situados nas traseiras do palácio foram divididos em terraços e canteiros de forma regular e plantados com vinhas, oliveiras e carvalhos, além de bosquetes em espaldeira, na tradição toscana. Entre as primeiras intervenções importantes está a construção da Grotta di Madama, construída de 1553 a 1555, por Davide Fortini e Marco del Tasso. Entre 1583 e 1593, sob a direção de Bernardo Buontalenti, tomou forma a Grande Gruta, conhecida como Caverna Buontalenti. Seria concluída nesta data, em finais do século XVI, a primeira fase do jardim, na dinastia de Fernando I (1587-1609).

 

Kaffeehaus

 

Século XVII

Sob a dinastia do grão-duque Cosme II, o jardim expandiu-se até à Porta Romana, no extremo sul da propriedade. Os trabalhos foram dirigidos por Gherardo Mechini e Giulio Parigi.

Em 1631, Giulio Parigi, transformou o anfiteatro ainda plantado, dotando-o de seis bancadas empedra, com a mesma forma semielíptica, à semelhança dos hipódromos romanos, e colocando esculturas em todo o seu redor; um eixo desde o palácio até norte e ao Palacete do Cavaleiro, cortará o anfiteatro e, na primeira metade da década de 700, o obelisco egípcio (originário de Aswan, que data do século XIII a.C.) e a bacia de granito vermelho das Termas de Caracala em Roma serão aí colocados.

A montante do anfiteatro destaca-se a Estátua da Abundância(1636), iniciada por Giambologna e terminada por Pietro Tacca. Ela remata a impressionante perspetiva desde o palácio, que corre pelo eixo do anfiteatro, passando pela Fonte do Tridente e suas bancadas envolventes.

Por sua vez o eixo longitudinal do jardim transformar-se-ia na Alameda dos Ciprestes que nos conduz ao grande lago e ilha (1612-1620). Três labirintos serão construídos junto à alameda, e mais tarde destruídos (1834). Pequenas alamedas laterais serão cobertas com vegetação – carvalhos, loureiros, murta, criando os famosos túneis verdes, ainda hoje existentes – (Cherchiate grande e pequena).

 

Ilha com estátua O Oceano

 

Século XVIII

Na segunda metade da década de 700, sob o grão-ducado de Pedro Leopoldo de Lorena (1765-1790), foram feitas importantes encomendas a Zanobi del Rosso: o Kaff eehaus(1775) e a Limonaia – Orangerie (1777-1778), além do Palacete do Relógio de Sol (1776), de Niccolò Gaspero Paoletti.

São trazidas da Villa Médici de Roma inúmeras estátuas clássicas , bustos e o obelisco egípcio, que seria colocado no centro do anfiteatro em 1790, como anteriormente referido. Foram feitas alterações no Prado das Colunas, a sul da alameda dos ciprestes, e surgiu um jardim botânico – Jardim Botânico Inferior, e um horto, que é atualmente o Jardim Botânico Superior.

 

Séculos XIX e XX

Durante a ocupação napoleónica (1799-1814), o jardim conheceu uma fase de abandono. A tentativa da grã-duquesa Elionoro Bciocchi de transformar Boboli num jardim à inglesa fracassou por falta de investimento, conduzindo por sua vez à degradação das plantações, que constituem o elo mais fraco de qualquer jardim. Com o regresso da dinastia dos Lorena, o jardim recuperou o aspeto formal de antigamente. Foi construída a Porta Annalena, junto à Orangerie, com projeto de Giuseppe Cacialli (1815-1820). Em 1834, sob o comando do grão-duque Leopoldo II, o jardim sofreu grandes e perturbadoras alterações na sua composição com a destruição dos labirintos para a abertura de uma alameda para circulação de viaturas (da autoria de Pasquale Poccianti) e a transformação dos caminhos retilíneos, em percursos sinuosos a montante da Alameda dos Ciprestes. Após esta data 1850), o jardim não sofrerá alterações significativas.

 

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Sugestão de visita sequencial

Pátio Ammanati – Após vencermos a entrada principal do palácio, chegamos a um vasto pátio, com um tanque elíptico, atrás do qual sobressai uma gruta do século XVII, com a estátua de Moisés. À direita acede-se aos Jardins de Boboli.

Anfiteatro – Este é um espaço semielíptico, com seis bancadas em pedra construídas entre 1630 e1634, a partir do projeto de Giulio Parigi. Paralelamente corre uma balaustrada interrompida por 24 nichos com estátuas clássicas e vasos em terracota. Atrás deste conjunto, na boa tradição toscana, temos plantações frondosas de plátanos, carvalhos, oliveiras, ciprestes e abetos. No centro do anfiteatro surge o obelisco egípcio desde 1790 e, em 1840, será colocada a grande bacia antiga em granito.

Fonte de Neptuno – Este tanque resulta da transformação do antigo tanque retangular – depósito de águas do aqueduto para a rega dos jardins – numa imponente fonte circular, com a estátua de Neptuno ao centro, cuja autoria é de Stoldo Lorenzi (1571). Os terraços do hemiciclo que envolvem esta fonte foram executados no século XVII.

Forte do Belvedere – Este forte possui uma monumental muralha e constitui um miradouro sobre o Palácio Pitti e com Florença em pano de fundo.

Estátua da Abundância – Esta representação de Joana d’Áustria, mulher de Francisco I, estava destinada a encimar uma coluna na Praça de São Marcos, mas foi transferida para Boboli, no sentido de testemunhar a prosperidade da Toscânia, simbolizada pelas espigas de ouro na mão esquerda desta figura feminina.

 

Lago e Ilha central

 

Jardim e Pavilhão do Cavaleiro – Seguidamente, deparamo-nos com o Pavilhão do Cavaleiro e os seus jardins dos simples, isto é, composto por canteiros com plantas aromáticas e medicinais. Este pavilhão teria a função de abrigar os vasos de citrinos no inverno, além de ser palco de conferências em ciências e letras. Presentemente é o Museu das Porcelanas.

Kaffeehaus – Junto ao Forte do Belvedere, deparamo-nos com o designado Kaffeehaus, um dos edifícios marcantes nos Jardins de Boboli, encomendado pelo grão-duque Pedro Leopoldo de Lorena entre 1774 e 1785 a Zanobi Del Rosso. Este pavilhão tem uma forma circular, dividindo-se em três níveis; no último terraço-miradouro, o envidraçado é encimado por uma cúpula de cebola com um cata-ventos no topo.

Alameda dos Ciprestes – Viottolone No Kaffeehause na Fonte do Tridente, tem início o importante eixo longitudinal dos Jardins de Boboli. Está ladeado por ciprestes, plantados em 1612, na mesma época dos labirintos, tendo estes últimos sido destruídos em 1834, aquando da construção dos caminhos para viaturas. Ao longo da alameda estão dispostas esculturas clássicas, tais como Mercúrio, Baco e Nero; o Outono e o Verão, de Pietro de Francavilla (finais do séc. XVI) representam um grupo escultórico de grande qualidade que enobrece um dos locais mais especiais do jardim – o cruzamento da Alameda dos Ciprestes com a grande Cherchiate – túnel de vegetação.

Jardim Botânico Superior – Foi construído, entre 1841 e 1850, por Filipo Parlatoro, no local do antigo horto. Possui um jardim de água com plantas aquáticas.

Fonte de Mostaccini – Situa-se junto ao limite nascente da propriedade. A ala que desce até à Alameda dos Ciprestes está rodeada por muros do século XIV, em socalcos, com gárgulas que os acompanham. Atrás destes, temos imponentes sebes que marcam este percurso desde há vários séculos. A fonte foi executada, entre 1619 e 1621, por Romolo Ferrucci del Tadda, e a água é lançada por seis gárgulas monstruosas (mostaccini), que dão o nome à fonte. À esquerda destaca-se o imponente Busto de Júpiter de Jean Bologne (Giambologna).

 

Limonaia

 

Lago e ilha central – No final da Alameda dos Ciprestes –Viottolone, temos o grande lago, em cuja periferia se localizam esculturas – à esquerda, representando o Jogo do Saccomazzone, e à direita, o Jogo da Pentolaccia (século XVIII). Este grande lago apresenta uma ilha ao centro de forma ovalada, com tem vasos com citrinos e conjuntos escultóricos do século XVII.

Os caminhos de acesso à ilha terminam com dois portões ladeados por colunas em pedra, encimadas por capricórnios em mármore, simbolizando Cosme Ide Médici. Dentro de água emerge a figura de Perseu, restaurada por Giovan Battista Pieratti e Andrómedado mesmo escultor.

Ocupando o centro da ilha temos a Fonte do Oceano, executada em 1576 por Giambologna, inicialmente colocada no anfiteatro, sendo deslocada para aqui em 1636.

O colossal oceano eleva-se de um pedestal, à volta do qual estão representados três rios – o Nilo, o Ganges e o Eufrates. No mesmo pedestal estão esculpidas as seguintes cenas mitológicas: O Rapto da Europa, O Banho de Diana e O Triunfo de Neptuno. Em seu redor dispõem-se 200 vasos com citrinos e foram reconstituídos os canteiros com rosas antigas; nos talhões periféricos, foram plantadas variedades antigas de túlipas dos séculos XV e XVI.

Prado das Colunas – Um vasto hemiciclo com prado ladeado por duas colunas surge a sul, rematando o jardim, junto ao grande lago e ilha e à Porta Romana. As colunas em granito vermelho foram aqui colocadas entre 1775 e 1779. Ao longo da sebe que delimita o prado estão dispostos 12 bustos de grandes dimensões. Na alameda que nos conduz à Porta Romana foi colocado um grupo de figuras grotescas (1617-1621).

Limonaia – Orangerie – Entre os anos de 1777 e 1778 a Limonaia – Orangerie (Casa de Limão), foi construída no local onde Cosme III havia construído, em 1677, um zoo para animais e aves exóticas. Esta estufa (106 x 8metros) foi usada como abrigo de laranjeiras e limoeiros. Um jardim formal desenvolve-se no exterior, respeitando integralmente o projeto do século XVI, constituído por canteiros delineados a sebes de buxo e plantados no seu interior com rosas antigas, camélias e túlipas.

Palácio do Relógio de Sol – Continuando pelo caminho da estufa em direção ao palácio, deparamo-nos com o Pavilhão Relógio de Sol, atualmente Museu do Traje, mandado construir por Pedro Leopoldo de Lorena para dotar o palácio de aposentos mais confortáveis. Em frente, temos a estátua com o cavalo alado –Pégaso, de autor desconhecido.

Gruta Buontalenti ou gruta grande – À esquerda do Palácio temos a gruta grande, resultado da transformação de um viveiro de peixes, entre 1583 e 1587, e da autoria de Bernardo Buontalenti. A fachada, da autoria de Giovan Battista del Tadda (1587), é adornada pelo brasão de armas dos Médici, um mosaico representando a Paz e um outro a Justiça. Ladeando a entrada, está um nicho com estátuas de Apoloe de Ceres, ambas esculpidas por Baccio Bandinelli (1552-1556). A gruta possui três câmaras com grande profusão de estátuas e frescos nas paredes e abóbodas.

A pequena gruta de Madame – Abandonando a Gruta de Buon-talenti, à esquerda, temos a pequena gruta, cuja fachada foi feita de rocha artificial. É a mais antiga gruta dos Jardins de Boboli, sendo mandada construir por Leonor de Toledo entre 1553 e 1555, sob a direção de David Fortini. O seu interior apresenta paredes com textura esponjosa e estalactites. Possui igualmente grande profusão de estátuas e frescos nas abóbadas, estes últimos de Francesco Ubertini-Bachiacca (1554-1555).

Vegetação – Boboli são jardins à italiana, sendo que a utilização da vegetação em muito contribui para estaclassificação. Assim, nas sebes altas a norte do jardim predomina o Quercus ilex (azevinho) e a sul temos espécies mediterrânicas, como o folhado, loureiro e murta. Os carvalhos constituem a principal árvore dos bosquetes; destacam-se dois importantes alinhamentos de plátanos – junto à Fonte do Tridente, a norte do anfiteatro, e a sul, no hemiciclo do Prado das Colunas; temos exemplares de cedros de odara e do Líbano, este último no Jardim Botânico Inferior. Destaque para a importante coleção de citrinos e de rosas antigas nos jardins botânicos, na Orangeriee na ilha a sul do jardim.

 

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