Revista Jardins

Inhame, descubra esta planta

inhame nos açores

 

Esta planta histórica muito difundida em todas as ilhas açorianas, onde era conhecida como comida dos pobres, é na verdade uma das culturas mais antigas do planeta, com registos arqueológicos da sua utilização nas ilhas Salomão de há mais de 28.000 anos.

 

Nome botânico: Calocasia escolenta (L.) Schott

Família: Arácea

 

Origem

A planta é oriunda do Sudeste Asiático com origem estimada há cerca de 50.000 anos. Difundiu-se por toda a Oceânia através das migrações populacionais. As técnicas de cultivo do inhame evoluíram e foram adaptadas às diferentes regiões adquirindo características específicas.

Relativamente à sua introdução nos Açores e na Madeira, esta terá acontecido nos séculos XV e XVI por altura do povoamento das ilhas. Fazia parte da alimentação do povo que não tinha posses para comprar pão, que era coisa de gente abastada.

Nas Furnas, em São Miguel, faz-se um cultivo de inhame em lameiros, junto às ribeiras nas águas quentes e sulfurosas, prática única no mundo. Estes tubérculos são muito mais saborosos, amanteigados e menos fibrosos, cozinhando-se em apenas meia hora. Fazem parte do famoso cozido das furnas e das premiadas queijadas de inhame. Além do cozido podem ser confecionados de muitas outras formas, mas isso ficará para um próximo artigo.

 

 

Encontra-se entre os 15 vegetais mais consumidos a nível mundial, sobretudo em África, América Central e do Sul e Ásia. Na Europa, o seu consumo é menor.

 

Cultura do inhame nos Açores

Tradicionalmente, nos Açores, o trabalho da colheita do inhame é realizado por homens; as mulheres, conhecidas por raspadoras de inhame, são as que limpam os tubérculos, trabalho sempre realizado com luvas pois o látex ou ácido de cálcio é corrosivo quando em contacto direto com a pele. A época de plantação nas Furnas é normalmente o inverno, sendo retirado da terra em outubro do ano seguinte, ficando muitas vezes na terra alagada durante cerca de 16 a 18 meses.

As águas quentes e sulfurosas são ricas em nutrientes e portanto as terras onde se cultiva o inhame ininterruptamente há mais de dois séculos não carecem de pouso nem de fertilizantes químicos de síntese, contrariamente à cultura do mesmo em terra seca.

Nos Açores, destacam-se ainda as ilhas de São Jorge e do Pico como produtores de inhame. Aqui o mais comum é a chamada cultura seca ou seja, sem alagamento. Este tipo de cultura resulta em inhames mais fibrosos e menos aveludados que requerem muito mais tempo de cozedura.

O inhame deve ser consumido sempre cozinhado. O teor proteico do inhame é geralmente superior ao de outras raízes tropicais como a mandioca ou a batata-doce.

Na Madeira, constitui um prato tradicional consumido durante a Semana Santa. O inhame branco come-se cozido, acompanhado de peixe, ou como sobremesa com mel de cana sacarina; também é usual o consumo do inhame frito. O inhame vermelho é utilizado em sopa, a qual leva também carne de porco, couve e feijão, e é muito procurada no Funchal. As folhas e os talos são usados para a alimentação dos porcos.

 

 

Frei Diogo das Chagas escreveu no seu livro Espelho Cristalino, em Jardim de Várias Flores (entre 1640 e 1646): «… tem boas e largas lavouras de inhames que se chamam cocos, o dízimo dos quais eu vi arrematar um ano em 120$000 reis e às vezes rende mais». Em 1661, no Livro de Correições da Câmara Municipal do Concelho de Vila Franca do Campo, na folha 147 diz-se: «… disseram também que havia muitas terras em que se podia plantar inhames, que é grande remédio para pobreza… mandei que cada pessoa fosse obrigada a plantar ao menos meio alqueire de terra de inhames…».

Na ilha de S. Jorge, dá-se, em 1694, o chamado motim da Calheta, que consistiu, essencialmente, na recusa dos inhameiros em pagarem o dízimo sobre a produção. Em 1830, ainda vigorava o dízimo sobre os inhames, pois, em 14 de dezembro desse ano, a Câmara Municipal do concelho de S. Sebastião da ilha Terceira escreve à rainha dizendo «… que abuso Senhora! o dízimo duma vaca parida, o dízimo do bezerro que ela cria (e pela estimativa) o dízimo da herva que ella come; o dízimo da ovelha, e da lã, o dízimo das cebollas, dos alhos, das abóboras, e dos bogangos, o dízimo dos inhames, plantados pelos regatos; e, finalmente, o dízimo das frutas e das madeiras…». As populações destas ilhas são, por vezes, apelidados de inhameiros.

Esta espécie de Colocasia é tão exigente em recursos hídricos que, segundo alguns autores terá sido uma das primeiras culturas de regadio do Oriente e que os icónicos arrozais asiáticos cultivados em “terraços” recorrendo a sofisticados sistemas de rega e alagamento das terras, terão sido construídos para garantir água ao inhame e não ao arroz como se julga.

Tanto os inhames do género Dioscorea (não tóxicos) como os do género Calocasia serviam, nos navios, de alimento da tripulação e dos escravos porque se conservavam muito tempo frescos e eram altamente nutritivos. A produção mundial de inhames está concentrada nos países africanos, sobretudo na Nigéria, que é o grande exportador mundial. Nos países de língua portuguesa, é também conhecida por matabala, coco, taro, falso inhame. Em inglês, é conhecido por yam, coco-yam ou taro. 

 

 

Valor nutritivo

O inhame é um alimento rico em hidratos de carbono. Estes têm como principal missão o fornecimento de energia ao organismo. Como tal, pode ser incluído na alimentação em substituição da batata, arroz ou massa. É rico em vitamina E, fonte de potássio e tem teores muito interessantes de vitaminas B1, B6 e C e de minerais como fósforo, o magnésio e o ferro.

O inhame apresenta um índice glicémico baixo, o que representa uma vantagem, pois não provoca um pico de açúcar no sangue (glicemia). É de fácil digestão e recomendado a pessoas convalescentes e com problemas digestivos. Ajuda no combate aos radicais livres devido ao elevado teor de vitaminas com ação antioxidante. Ajuda a melhorar a função cognitiva devido a presença de vitaminas do complexo B, que ajudam a estabelecer a comunicação entre neurónios.

 

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