Revista Jardins

Ivo Meco

Vale a pena conhecer este biólogo apaixonado por plantas e por botânica que é também autor do livro Jardins de Lisboa: Histórias de Espaços, Plantas e Pessoas. Pelas suas palavras podemos perceber o fascínio que as plantas e a Natureza podem exercer sobre as pessoas e tudo o que podemos aprender com elas.

Ivo_Meco

Ivo Meco é de Sines e vive em Almada. É professor de Biologia e Geologia e ao longo do seu percurso, conta-se o curso de guias do Jardim Botânico de Lisboa, ter sido sócio fundador da Sociedade Portuguesa de Botânica, convidado-residente no programa Paraíso, autor do livro Jardins de Lisboa: Histórias de Espaços, Plantas e Pessoas e colaborador no festival Jardins Abertos. Um apaixonado pela botânica e jardineiro amador, orgulhoso da sua coleção de plantas.

Quando é que percebeu que a sua vida seria ligada à botânica e ao mundo das plantas? Como nasceu essa paixão?

Esse percurso não foi consciente, mas a paixão é a preciosa herança da minha avó. Pude partilhar com ela a minha infância e aprendi muito enquanto a ajudava a regar as plantas do quintal. Os nomes, os cuidados de que precisavam, como se propagavam são tudo lições e memórias de tardes saudosas.

O que mais o fascina no reino vegetal?

Fascina-me a diversidade de formas, as cores, as texturas, as adaptações e estratégias extraordinárias que estes seres têm. E há qualquer coisa no tempo e no ritmo em que vivem que me encanta. São tão diferentes dos nossos!

O que podemos aprender com as plantas? Qual a importância de saber botânica e de se visitarem jardins?

Há tanto que podemos aprender, compreender e agradecer-lhes. Estudar um pouco de botânica é fundamental para compreender que as plantas são fundamentais para a nossa sobrevivência: são elas que nos dão oxigénio, que transformam o ar que expiramos em alimento, que regulam fenómenos meteorológicos, que produzem substâncias medicinais, que nos fornecem materiais de construção e fibras para vestuário, que afetam o nosso humor… a lista é extensa!

As plantas fazem parte do seu dia a dia profissional, em casa as plantas também ocupam o seu espaço e o seu tempo?

Ocupam, claro! Não me imagino a viver numa casa em que não estivesse rodeado de plantas. Tenho plantas dentro de casa e no pátio, onde também já comecei a criar um jardim vertical, com plantas epífitas. Não penso no tempo que me ocupa… jardinar é uma necessidade básica.

Como surgiu a ideia de escrever o livro que lançou em 2019, Jardins de Lisboa: Histórias de Espaços, Plantas e Pessoas?

Em 2017, tive a felicidade de ser convidado pela Joana Cunha Ferreira e pela Graça Castanheira para participar como convidado-residente no programa Paraíso, na RTP2. Depois de o programa terminar, uma amiga minha, a Joana Neves, desafiou-me a escrever um livro nessa mesma linha: contar histórias sobre jardins, plantas, dirigindo o olhar do leitor para curiosidades botânicas.

Como selecionou os jardins sobre os quais escreveu? Se tiver de aconselhar alguém que só tenha tempo de ver um jardim em Lisboa, qual aconselharia e porquê?

Os seis jardins sobre os quais escrevi são, para mim, emblemáticos e as suas histórias entrelaçam-se com o meu percurso pessoal e na História do nosso País. São testemunhas de tantas histórias…

A não perder, sem dúvida, a Estufa Fria de Lisboa. É extraordinário quando se entra pelo portão da estufa e ficamos envolvidos pela exuberância daquela vegetação e pela atmosfera tropical em plena Lisboa. 

Qual o seu jardim favorito em Lisboa, em Portugal e no mundo?

A pergunta difícil…! Em Lisboa, gosto muito da Estufa Fria, do Jardim Botânico ou do Jardim da Estrela… ou o Jardim das Marias e os jardins privados do Nuno Prates (com quem aprendo muito sobre botânica). Em Portugal, o Jardim Botânico José do Canto ou o Parque Terranostra, em São Miguel. Fora de Portugal, o último jardim que visitei foi o Palmetum, em Santa Cruz de Tenerife, nas Canárias. Vi pela primeira vez, ao ar livre, exemplares gigantescos de árvore-do-viajante (Ravenala madascariensis) e de palmeira-talipot (Corypha umbraculifera).

Neste ano de 2020, grande parte das pessoas esteve mais tempo em casa e muitas começaram a cultivar plantas, no jardim, na varanda ou mesmo em casa. As vendas de plantas e de material de jardinagem aumentaram em grande escala, pensa que isto pode ser o princípio para que finalmente as pessoas em geral comecem a dar mais valor às plantas e a tudo o que elas representam?

É bom este regresso ao verde e (re)ligação à Natureza! Que haja um movimento verde, mas provido de sentido, com consciência e conhecimento. Convém não esquecer que se trata de seres vivos e não meros objetos decorativos…

Dá aulas de Biologia e imagino que tente que os seus alunos se interessem de forma natural por plantas e pela Natureza, acha que estas novas gerações têm mais afinidades por estes temas? Podemos acreditar que os mais novos se preocupam em cuidar das plantas e com a Natureza?

Uma das coisas que tomei consciência enquanto professor (e que reconheci em alguns professores que tive) é a importância e o impacto do entusiasmo genuíno que alguém demonstra quando está a ensinar qualquer coisa. O conhecimento é muito mais que uma nota ou uma média – a paixão não se ensina; partilha-se. Nas aulas, organizamos herbários, identificamos plantas silvestres e fazemos propagação de plantas (com estacarias caulinares e foliares). Se resulta? Tenho ex-alunos que ainda me enviam emails a perguntar dúvidas sobre plantas que adquiriram ou que enviam fotos de jardins a dizer “lembrei-me de si”.

Quer deixar alguma mensagem ou desafio aos leitores da Jardins, todos eles amantes de plantas e de jardinagem?

Que cada um de nós seja um agente de mudança no nosso mundo: que se partilhe conhecimento e paixão; que se encham as varandas de plantas e que, nas caldeiras das árvores dos passeios, se façam pequenos jardins; que tenhamos uma voz ativa e sejamos exigentes com os poderes autárquicos na instalação, manutenção e respeito pelos espaços verdes, sejam eles naturais ou não!

 

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