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Sim, há colmeias em Lisboa: um dia com o apicultor Artur Madeira

Esta é uma entrada no diário de bordo de Artur Madeira, um arquiteto tornado apicultor urbano. Deu-nos a conhecer de perto o trabalho essencial das abelhas na polinização e na biodiversidade. Entre connosco dentro deste apiário urbano em Monsanto, Lisboa, e perceba como a apicultura na cidade pode ajudar a proteger o futuro do mel, da alimentação e do equilíbrio ambiental.

“Hoje, na Europa, as áreas metropolitanas, os corredores das infra estruturas como auto estradas, caminhos de ferro, aeroportos ou as envolventes de grandes instalações industriais são imensos refúgios de biodiversidade porque durante anos não foram sujeitos ao regime de monocultura intensiva a que os espaços agrícolas e florestais frequentemente foram. A vegetação espontânea que aí surge é de grande importância para os insetos polinizadores.”


Uma manhã soalheira. O apicultor chega pelas 11 horas ao apiário no Parque Florestal de Monsanto. Talvez poucos lisboetas saibam da existência de apiários em plena cidade e também talvez não sejam muitos os que sabem o que é um apiário ou conheçam a atividade da apicultura e um pouco da vida das abelhas.

Associa-se a algo distante, que acontece na“Natureza”. Mas a Natureza está aqui ao lado, e a apicultura, que pode ter escalas gigantescas, também pode ser praticada de forma “amadora”. Obriga a um conhecimento da Natureza, da biologia da abelha e da vegetação que nos rodeia, e é a base de sustentação da abelha e de milhares de outros insetos polinizadores.

A proteção do apicultor

O apicultor, depois de chegado ao apiário, começa a equipar-se. Máscara de rede, luvas e botas protegem-no das certas ferroadas se não tomasse essas precauções. A nossa abelha, a Apis melifera iberiensis, é algo agressiva e a lei acautela os riscos inerentes, nomeadamente estipulando as distâncias de segurança que os apiários devem observar em relação a caminhos públicos e habitações.

A importância das abelhas e como distingui-la

Os espaços verdes são ecossistemas em que os insetos polinizadores têm um papel essencial, sendo as abelhas dos mais assíduos. Infelizmente, muitas vezes, temos receio destes insetos e confundimo-los com as vespas, atribuindo-lhes todas as picadas que vamos recebendo. É no entanto, fácil distingui-las, pois as abelhas fazem um zumbido característico de um som grave e voam de forma errática, parecendo um helicóptero em manobras.

A organização das abelhas

A abelha-melífera vive em colónias que podem conter cerca de 60.000 indivíduos, sendo a maioria obreiras, que realizam todo o trabalho de manutenção da colmeia. Existe uma rainha, que assegura a postura de ovos e a manutenção da ordem social na colmeia, e até 400 zangões, os machos, cuja função é fecundar a rainha durante o voo nupcial. A apicultura é a atividade de criação de abelhas, que, sendo considerada uma atividade pecuária, é a única que não necessita de terreno, pois o apicultor pode, com a concordância do proprietário, colocar as colmeias em terreno alheio.

Como começar a ser apicultor

A primeira coisa a fazer é aprender os rudimentos da matéria. Existem cursos mais ou menos extensos que ajudamna iniciação, disponibilizados por associações como a Sociedade dos Apicultores de Portugal, associação centenária sediada em Lisboa. Na apicultura, todavia, aprende-sesobretudo com a prática e acompanhando os colegas mais experientes.

A importância da“pastagem apícola

A existência de vegetação produtora de néctar e pólen no raio de ação do apiário, a “pastagem apícola”, é um fator essencial para a sua viabilidade. A diversidade das espécies, a quantidade de flores, a duração da floração e a sua distribuição ao longo do ano são muito importantes, o que torna a apicultura também uma atividade de observação e proteção da Natureza.

A função polinizadora das abelhas

A reprodução das plantas com flor baseia-se na união de um grão de pólen (masculino), com um óvulo (feminino),processo que é conhecido por polinização. A abelha, ao pousar nas flores à procura de néctar, roça nos estames e transporta numerosos grãos de pólen, depositando-os involuntariamente no órgão feminino de outra flor. Parte desse pólen é transportado pela abelha para a colmeia nas patas, em pelos adaptados.

Hoje, na Europa, as áreas metropolitanas, os corredores das infra estruturas como auto estradas, caminhos de ferro, aeroportos ou as envolventes de grandes instalações industriais são imensos refúgios de biodiversidade porque durante anos não foram sujeitos ao regime de monocultura intensiva a que os espaços agrícolas e florestais frequentemente foram. A vegetação espontânea que aí surge é de grande importância para os insetos polinizadores.

Cabe a cada um de nós interessar-se por esta questão tão importante para as gerações vindouras como para nós, que gostamos de sentir a sucessão das estações através das flores e das formas vegetais que em cada momento nos rodeiam. E, já agora, também útil para as nossas abelhas, cujo desaparecimento a todos preocupa.

Há um livro. E, em breve, os workshops!

O livro reúne capítulos técnicos com informação essencial sobre apicultura – desde os princípios básicos da atividade à vegetação com interesse apícola, passando pela calendarização das operações ao longo do ano – , com o objetivo de capacitar qualquer pessoa a iniciar-se na apicultura de forma amadora e desmistificar uma prática tão admirada quanto temida. Ao longo das páginas, textos em destaque revelam histórias pessoais reais que ilustram desafios, descobertas e momentos vividos por um apicultor amador. 

Muito em breve serão também lançadas visitas guiadas e workshops no apiário, para que todos possam aprender e experimentar esta atividade de perto. É possível ficar na lista de espera, contactando por instagram, aqui, ou enviando um email para lx.mel.de.lisboa@gmail.com.

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