Revista Jardins

Quem não gosta de papoilas?

Papoilas vermelhas balançam com o vento.

São maravilhosas, estão por todo o lado e ensinam-nos como a vida é bela mas efémera.

Campos, taludes, baldios, separadores de autoestrada, bermas de caminhos, terrenos agrícolas, searas… Elas estão por todo o lado, alegram-nos o dia e ensinam-nos que a vida é efémera e que nesse curto espaço de tempo podemos sempre brilhar, fazer a diferença na vida uns dos outros, para melhor, claro está.

Combinam-se bem com o amarelo dos pampilhos ou das brássicas, o branco dos crisântemos, o lilás das malvas ou o azul das borragens e das fidalguinhas. Onde chegam, revitalizam a paisagem, a alma e o olhar de quem as comtempla, desfolhando-se devagar na brisa, dançando na beira de algum muro ou rasgando lentamente o verde da cápsula com as suas pétalas aveludadas, encolhidas, à espera de nascer, lembrando um pintainho dentro do ovo.

A importância das plantas silvestres

É difícil acreditar, mas há pessoas que não gostam de papoilas nem de nenhuma outra erva silvestre, quem são? São os técnicos de higiene e limpeza dos departamentos de ambiente de muitas câmaras municipais e juntas de freguesia.

É, de facto, uma grande contradição estes senhores não terem formação em biodiversidade e flora espontânea. Para eles a vegetação espontânea é LIXO, inimigo a abater. Eu enfureço-me e grito: AS PLANTAS NÃO SÃO LIXO, SÃO NOSSAS ALIADAS! A guerra afinal não é só entre ucranianos e russos, a guerra é também entre pessoas e plantas, todas as guerras são tristes e todas as guerras deixam apenas perdedores e rastos nefastos em ambas as partes.

É urgente criar-se uma estratégia de comunicação dando a conhecer ao cidadão comum, aquele que telefona e envia mails para as autarquias a pedir que venham cortar ou envenenar, o que é ainda mais grave, as ervas que crescem à sua porta e, que, muitas vezes, nem sempre, não incomodam nada a não ser um certo olhar formatado para a “limpeza” para o estéril, sem vida e sem bichos, ‘ai que horror, anda ali uma borboleta, uma abelha!’, ‘que medo, tirem-me daqui’… Educados (mal) a ver a NATUREZA como algo que está lá longe, separado de si, não sabem da grande importância da vegetação espontânea. 

É urgente mudar o paradigma e o conceito de estética de espaços públicos, pois estas flores silvestres que crescem sem intervenção humana ajudam a fixar taludes com as suas raízes, prevenindo a erosão, melhorando a qualidade da terra, fazendo bonitas coberturas de solos. São alimentos para aves, insetos e pessoas, alegram as árvores quando crescem nas suas caleiras, são abrigos para répteis e alguns mamíferos. E esteticamente são muito bonitas.

Devolver as papoilas aos campos

As pessoas não entendem, não valorizam, não apreciam. Basta treinar o olhar e começar a ler a paisagem como se ela vivesse em nós, como se ela fosse nós. A paisagem vegetal que nos rodeia veste-nos, aconchega-nos o corpo, a alma e o olhar, alimenta-nos e revitaliza-nos.

Talvez um dia, quem sabe, seja considerado crime envenenar aquilo que nos nutre, destruir com roçadeiras toda a primavera antes de ela ter tempo de cumprir o seu ciclo.

Por favor, deixem a PRIMAVERA em PAZ, deixem as papoilas livres nos campos, as serralhas nas beiras dos caminhos, os crisântemos e as malvas, os trevos e as margaridas a alegrar os dias cinzentos.

Deixem que a Paz e o bom senso gritem mais alto do que a estupidez dos homens.

Viva a PAZ e os campos de PAPOILAS!

Que o vermelho derramado na terra seja sempre o das flores e nunca o do sangue!

 

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