É importante mudarmos de paradigma em relação às plantas que nos rodeiam e que tantos odeiam e apelidam de infestantes, daninhas, indesejadas.

Para o ano de 2020 que está já aí no virar da esquina, a escolha do tema da minha agenda está estreitamente relacionada com o movimento que integro, Sintra Sem Herbicidas, e que tem vindo a exercer alguma pressão junto dos políticos responsáveis pelo uso e abuso de agrotóxicos bastante danosos para a saúde humana e planetária como é assim sabido.
Reconhecer a flora silvestre e a urgência da sua conservação é o fio condutor deste trabalho que teimosamente tenho vindo a desenvolver há já 11 anos.
Enfatizo assim a urgência de mudarmos de paradigma em relação às plantas que nos rodeiam e que tantos odeiam e apelidam de infestantes, daninhas, indesejadas.
Ora, essas plantas que iremos descobrindo, semana a semana, ao longo desta agenda têm uma tremenda importância na perseveração da biodiversidade, na nossa alimentação e na nossa saúde.
A utilidade destas plantas silvestres
Sempre estiveram acessíveis ao comum dos cidadãos que as reconhecia, respeitava e utilizava no seu dia a dia.
Com a vulgarização da comida processada e dos medicamentos sintéticos, as pessoas foram-se acomodando à rapidez e ao tempo que estes produtos lhes poupavam — ganhava-se tempo e perdia-se saúde.
Perdia-se e perde-se saúde em modo acelerado, muito acelerado, diria mesmo que epidémico, senão veja-se a quantidade de pessoas a morrerem de cancro, o elevado número de obesos, autistas, bipolares e outras doenças mentais.
Portugal é o país da Europa onde o consumo de psicofármacos é mais elevado.
Direta e indiretamente, esse grande estigma social está relacionado com o rápido distanciamento da Natureza. Dos passeios ao ar livre, à beira-mar ou no meio das serras, respirando ar puro e interagindo de forma saudável com rios, árvores, flores, pássaros e insetos.
Pouco a pouco foi-se esquecendo este verdadeiro tesouro que constitui a nossa flora silvestre. Esqueceram-se os nomes das plantas e vão-se esquecendo os seus usos medicinais e culinários numa espécie de fitofobia instalada.
Um síndrome que é da responsabilidade de uma certa indústria que vai tirando proveito (e ó que proveito) deste medo; da desconfiança que as pessoas têm das plantas para tratar e prevenir muitos problemas de saúde.
É de lamentar, de facto. Tenho esperança na mudança. Acredito num retorno às coisas que nos fazem bem, que nos dão saúde e alegria.
Citarei aqui alguns exemplos dessas tão comuns ervas daninhas:
CALAMINTA – CALAMINTHA NEPETA

Também conhecida por erva-das-azeitonas ou nêveda, esta planta de aroma mentolado e fresco é comum nas orlas de sobreirais, soutos, carrascais, olivais e pinhais e também em alguns prados.
Tem usos culinários e medicinais como planta digestiva e antitússica. Na Madeira, usam-na também para tratar a rouquidão e as dores de dentes e dão-lhe o nome de lêveda ou poejo-da-serra.
ACELGA BRAVA – BETA MARITIMA

Uma Amaranthaceae muito comum em orlas marítimas; já a vi crescer na praia em plena areia. Esta planta é muito rica em clorofila, vitamina C, ferro e outros sais minerais.
Provavelmente, o antepassado silvestre da beterraba. As folhas cruas ou cozinhadas têm uma textura crocante e muitas vezes salgada, sendo excelente em sopas, saladas e sumos verdes.
ALHO-BRAVO – ALLIUM SPP.

Existem vários Allium silvestres, uns parecidos com alho-porro, outros com alho, outros ainda mais semelhantes a cebolinho.
Em comum têm o inconfundível cheiro dos seus compostos sulfurosos que lhe conferem propriedades antibióticas, fluidificantes do sangue, desparasitantes e estimulantes do aparelho digestivo.
Podem usar-se flores, folhas, raízes e sementes cruas ou cozinhadas na alimentação.
ANSARINA-BRANCA – CHENOPODIUM ALBUM

Também conhecida por erva-couvinha ou catassol, cresce um pouco por todo o lado e é uma planta usada para fins medicinais e culinários.
As folhas são polvorentas na margem inferior. O sabor e textura das folhas são muito semelhantes ao espinafre. Muito rica em vitaminas e sais minerais.
Tal como a maioria dos vegetais verdes, tem uma considerável percentagem de ómega-3 agindo como anti-inflamatório, fortalecendo os ossos e prevenindo contra o risco de diabetes.
CHICÓRIA – CHICHORIUM INTYBUS

Rica em vitaminas e sais minerais, esta é uma planta cujas folhas tenras e flores não dispenso. Uso-as em saladas e quando ficam mais rijas cozinho-as em sopas e estufados.
Excelente tónico amargo, hepatoprotetora e estimulante da vesícula. As suas belíssimas flores azuis são ligeiramente doces e um chamariz para vários tipos de insetos. Gosta de solos secos e compactos e é muito comum na nossa flora silvestre.
CHAGAS – TROPAEOLUM MAJUS

Esta planta, também conhecida por capuchinhas ou bicos-de-papagaio nos Açores, é uma das mais versáteis e procuradas pelos chefs de cozinha: as suas sementes em vinagre fazem um fantástico pickle, as folhas usam-se cozinhadas ou cruas.
As maiores ficam muito bem em rolinhos recheados com arroz, millet ou outros cereais, as flores de tons alaranjados são ricas em betacarotenos.
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