Tem um sabor doce, crocante e muito suculento, entre a pera e a maçã, tem muitas propriedades medicinais, sendo um probiótico natural.
Já ouviu falar em yacon?
Se ainda não conhece, garanto que depois desta crónica ficará fã tal como eu. Conheci-o primeiro em xarope há uns anos como substituto do açúcar. É muito aconselhada a diabéticos, tanto que o seu nome popular no Brasil é batata-do-diabético.
Uns anos mais tarde descobri a planta com toda a sua graciosidade no Sul do Brasil, na fazenda da Dida. Um espaço muito bonito que integrava uma rede de agro-ecologia e turismo perto de Florianópolis.
Fomos com a nossa simpática anfitriã à horta/jardim que servia a cozinha. Entre as várias folhas; raízes; ervas silvestres; frutos e tubérculos que fomos colher para a confeção do almoço, estava então a protagonista desta história; grandes tubérculos ou melhor raízes tuberosas, na parte mais húmida da horta – adoram solos húmidos, soltos e ricos em potássio. Na sua composição encontra-se essencialmente água, cerca de 85%. Yacon é o seu nome (Smallanthus sonchifolius).
Descrição e habitat
Planta perene da família das Asteráceas, prima do tupinambo, do girassol, das calêndulas e das margaridas. Pode atingir mais de dois metros de altura. Tem folhas peludas, o que a torna resistente aos insetos predadores, e pequenas flores amarelas. Produz um rizoma perene ao qual estão ligadas as raízes tuberosas, suculentas e saborosas.
Tolera o frio mas não a geada em excesso. Ainda não é muito conhecida em Portugal, mas existem alguns pequenos e médios produtores. Encontrei em outubro um belo talhão na Ecoaldeia de Janas, perto de Sintra. Provei também da colheita de Carlos Neto, meu fornecedor de batata-doce biológica na Assafora, perto de Sintra. Cultiva-a por graça, como ele diz, pois este produto precisa de encontrar nichos de mercado e ser mais divulgado em Portugal.
Projeto Yacon Portugal
Conheci outro projeto de dois sócios, o Yacon Portugal, na Quinta Vale de Camba, no distrito de Coimbra, concelho de Tábua. Uma zona atingida pelos incêndios de outubro 2017. Neste momento, a produção concentra-se numa área de 2000 m2, sempre num respeito pelo meio ambiente circundante e pelos recursos existentes. O objetivo será sempre garantir uma sustentabilidade do espaço e promover a economia local.
O projeto do Yacon surgiu por experimentação, há cinco anos, entre outros produtos andinos menos conhecidos. Adaptou-se bem às condições de solo e ambiente existentes.
Em 2018, obtiveram a certificação em modo de produção biológico. A plantação inicia-se em março/abril e prolonga-se por sete a oito meses. Todos os anos se replanta o rizoma. Durante o inverno, depois da época da floração, faz-se a colheita a partir de novembro.
A raiz da yacon fresca está disponível a partir de novembro. A produção é na sua maioria vendida diretamente ao consumidor e ainda com distribuição por algumas lojas de produtos naturais.
História e origem do yacon
Originária da cordilheira dos Andes, desde a Colômbia até ao Norte da Argentina, passando pela Bolívia e Equador. No Peru, seria já muito apreciada pelas culturas pré-incas. Na cultura Moche, era utilizada em rituais religiosos e representada na afamada arte cerâmica deste povo. Tudo leva a crer que seria uma planta sagrada como aliás o eram muitas outras. Em quéchua, a palavra yacon deriva de yacun, que significa de água.
É conhecida como maçã-da-terra ou pêra-da-terra. É vendida nos mercados andinos como uma fruta e produzida em hortas familiares e de subsistência onde é também usada para controlar a erosão dos solos.
Na verdade, o seu sabor doce, crocante e muito suculento remete um pouco para a pêra ou a maçã. Este sabor doce deve-se a um dos compostos também presentes na énula-campana (Inula helenium). A inulina, que é um hidrato de carbono altamente fermentado pela flora intestinal, é um excelente regulador do intestino e um prebiótico natural. Apesar de ser doce, tem muito menos calorias do que a batata comum.
Benefícios do yacon
Têm-se feito inúmeros estudos sobre os potenciais alimentícios e farmacêuticos desde que os japoneses mostraram grande interesse pela planta e a consomem de modo diferente dos seus países de origem. É consumida pelos nipónicos em forma de pickle , polpa ou liofilizada. Esta raiz deve ser consumida de preferência crua e sempre descascada.
O seu interesse como planta medicinal para os diabéticos deve-se aos frutos oligossacarídeos; açúcares de absorção lenta que são libertados no sangue em baixas quantidades. Contém proteínas; gorduras; cálcio; fósforo; ferro; retinol; carotenos; niacina e riboflavina; triptofano; fibras e principalmente potássio, que dilata os vasos sanguíneos e protege o organismo contra problemas cardiovasculares. O seu consumo não deve ser feito em jejum, pois pode reduzir demasiado os níveis glicémicos.
Controla níveis de glicose no sangue e estimula a produção de insulina no pâncreas. É também aconselhada para baixar o mau colesterol (LDL). Recomendada em tratamentos de emagrecimento, pois causa sensação e saciedade e tem um baixo valor calórico.
Coloque uma ou meia “batata” num sumo dependendo do tamanho da mesma. Use ralada ou em pequenos pedaços adicionada a saladas. Têm-se feito alguns estudos sobre as propriedades anti-inflamatórias da folha e há quem a utilize em infusão, mas existem também outros estudos que apontam para a existência de substâncias tóxicas nas mesmas.
Anda à procura de novas plantas para o jardim, que sejam ornamentais, úteis e saborosas, que lhe ofereçam deliciosas raízes com tantas propriedades medicinais?Esta é uma boa sugestão, mas é bom lembrar que gosta de muita água, pelo que não será para toda a gente nem para todos os solos.
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