Quintas de recreio e proprietários notáveis… estórias a descobrir e conhecer.
O próximo artigo irá marcar a estreia de uma série de visitas onde propomos uma calma leitura de prazer, de descoberta e visita às quintas de recreio, assim como um breve convívio com as origens e estórias dos seus proprietários. Em março, vamos visitar os O’Neill, Hugo e Carmen, que aliam ao facto de serem príncipes de Clanaboy e legítimos herdeiros ao trono da Irlanda uma inesgotável energia e uma paixão e sensibilidade sem limites na defesa e preservação da alma, da sua Quinta das Machadas em Setúbal, onde sempre habitaram várias gerações de O’Neill.
A paixão pelos jardins históricos e pelas quintas de recreio, construídas ao longo de séculos na periferia das grandes cidades portuguesas, particularmente em Lisboa e estuário do Tejo, levou-me nas últimas décadas por um périplo de visitas a este património e ao seu legado sociocultural monumental. Durante estes últimos anos, percorremos as margens, as serras e os campos do estuário do Tejo, alargando os percursos até à Arrábida, Palmela e península de Setúbal, partilhada com os dois estuários do Tejo e do Sado. Aqui descobrimos um imenso território de Quintas de recreio, maioritariamente na Área Metropolitana de Lisboa e, mais a montante, no Montejunto em Alenquer e Merceana ou já no Alto Estuário, na Azambuja, Salvaterra de Magos e Muge, e no Mar da Palha, as Quintas da Outra Banda e da Borda de Água, ou já perto da Barra oceânica, as de Oeiras e Cascais.
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Temos dado a conhecer este extraordinário património acompanhados por grupos de curiosos, por técnicos e letrados ou simplesmente por profundos amantes das paisagens e da História e estórias dessas propriedades, e dos que as sonharam, construíram e mantêm até hoje, os quais aqui iremos partilhar e conhecer. Nestes percursos com ciclos por vezes mensais apercebemo-nos do papel dos proprietários, dos zeladores e dos cuidadores dos jardins e das quintas de recreio, da diversidade de soluções na génese do imaginário presente nos projetos seculares, no investimento na sua construção, da sua interligação com a história familiar e das suas estórias. Mas também da sua luta ao longo os anos e, principalmente, nestes últimos tempos para preservar este património vivo, difícil de manter e de reabilitar, e da diversidade de soluções encontradas para a sua sobrevivência, por vezes bastante difícil dada a carestia de produtos, materiais e mão-de-obra, além das tentações das propostas de compra pelos promotores imobiliários dos avanços urbanístico da grande cidade.
Vamos ao mesmo tempo deliciarmo-nos com as imagens destas quintas que nos encantam pela sua beleza paisagística e artística e pelas mensagens que encerram. Pela sua forma de desenhar o espaço rural e de como tiram partido, influenciando, por sua vez, as fantásticas paisagens que por vezes as rodeiam. Como são construídas sabiamente para o prazer dos sentidos, além da sua função produtiva de pomar, de horta ou de mata ou olival, chamam-nos para o passeio, para a contemplação da paisagem envolvente e para os espaços de chegada de descanso com acontecimentos que nos emocionam através dos conjuntos escultóricos, dos azulejos ou simplesmente pelas proporções tudo pensado para o máximo conforto e para o recreio do intelecto. Há muito a desvendar nessas quintas e nos seus projetos seculares, que tanto têm que ver com as preocupações e as necessidades atuais, ligadas ao ambiente à sustentabilidade e ao bem-estar das metrópoles deste século XXI.
Vamos entrar nesses espaços sonhados e construídos sob a influência das famílias, compreendendo-os melhor através das estórias que estão por detrás dos projetos e das obras que explicam muito do seu desenho e grandiosidade atual.
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