Jardins & Viagens

Jardins de Portugal: Rota da Grande Lisboa

Os jardins que integram esta rota espelham três realidades geofísicas: Lisboa e o estuário, a serra de Sintra e a serra da Arrábida.

Nestes jardins, pode confirmar-se que estão presentes os quatro traços que marcam a identidade do jardim português − grande variedade de espécies, vistas longas, azulejos e grandes tanques decorados. Na diversidade de plantas exóticas, destacam-se as árvores subtropicais com florações excecionais, como os jacarandás e as tipuanas, que inundam de cor a cidade de Lisboa e os seus jardins. A vista dos jardins é sobre o rio Tejo ou sobre o oceano, e os miradouros ganham importância com os descobrimentos − os jardins e miradouros são locais preparados para aguardar o retorno das embarcações.

A decoração com azulejos e a presença de grandes tanques alimentados por sistemas de água fazem parte destes quatro traços de «carácter». Na construção de jardins, a partir do século XVI, com o retorno dos vice-reis da Índia, entrança-se a influência da Itália com a da Índia, fazendo nascer um estilo local que celebra as epopeias de cada herói: na quinta da Bacalhoa, em Azeitão, Afonso de Albuquerque; na Penha Verde, em Sintra, D. João de Castro; em Fronteira, já no século XVII; D. João de Mascarenhas, herói de 1640 e de toda a gesta portuguesa que restaurou a nacionalidade. Fronteira, em especial, constituiu inspiração para outros jardins dentro das quintas de veraneio que se vão instalando sobre as colinas em redor de Lisboa. Na encosta de Belém-Ajuda, aparecem, no século XVII, o palácio de Belém e, já no século XVIII, são emparcelados por D. João V os palácios e jardins que agora formam o Jardim Botânico Tropical e o Jardim Botânico da Ajuda. No Lumiar, a Quinta do Monteiro-Mor, do século XVIII; pela mesma altura, em Oeiras, a Quinta Modelo do Marquês de Pombal e os seus jardins; em Setúbal, a Quinta das Machadas. A família real constrói também nos arredores, seguindo o modelo de Versalhes, o palácio de Queluz e a Quinta Real de Caxias. Nestas quintas, os jardins servem de retiro e para se gozar a qualidade do ar, das águas, das vistas amplas e de maior frescura, fugindo ao calor do verão de Lisboa.

No século XIX o estímulo dado aos jardins pelo Rei D. Fernando é seguido por muitos e, em Sintra, depois da construção do romântico parque da Pena, seguem-se dezenas de jardins e palacetes como a Vila Sassetti, a Regaleira, Monserrate. Em Lisboa, o passeio público da Estrela e os squares do Príncipe Real e das Amoreiras são exemplo da requalificação urbana no trilho de Haussmann em Paris. Finalmente, no século XX, surgem os parques urbanos em que Setúbal precede, no Parque do Bonfim, o moderismo do jardim da Fundação Calouste Gulbenkian.

Jardins do Palácio de Belém

Foi mandado construir por D. Manuel de Portugal e situa-se sobre o complexo vulcânico de Lisboa, tendo resistido ao terramoto de 1755. O jardim fronteiro ao palácio tem bustos de mármore, um tanque e uma escada que liga ao jardim de baixo. Neste jardim, canteiros cortados por caminhos simétricos e três lagos centrais formam o parterre principal. Numa das zonas mais amenas do jardim e de onde se tem melhores vistas sobre o rio Tejo, encontra-se a Casa de Fresco, com uma fonte que lhe dá frescura. A varanda do palácio estende-se por toda a fachada sul e é ladeada por duas escadarias de pedra. Por baixo da varanda, uma gruta e uma fonte. A poente, o Pátio dos Bichos teve em tempos jaulas com animais. Logo acima, o Jardim da Cascata encontra-se sobre um terraço implantado a partir de um muro de suporte. Trata-se de um parterre com buxo, tanque e cascata.

Jardim do Miradouro de Santa Catarina

Construído num local privilegiado, fica alto, mas próximo do Tejo e cai a pique sobre os telhados das casas, oferecendo uma vista sobre a extensão verde e azul do rio Tejo e a margem Sul. Para apreciar a vista, sentamo-nos sob a copa das árvores; são Celtis astraulis e jacarandás, e criam a sombra confortável de que precisamos para apreciar o Tejo a partir das mesas do quiosque ou dos bancos. Relembrando a grande conquista dos mares pelos portugueses, a chegada das caravelas vencedoras dos oceanos, foi colocada uma estátua do Adamastor (por Júlio Vaz) que alude aos milhares de aventuras que se iniciaram no Tejo, ligando a Europa ao mundo através dos oceanos por esta faixa azul à nossa frente.

Jardim da Torre de Belém

Foi erguida em 1500 na desembocadura do rio para defender a entrada do porto. Viana Barreto, nos anos 1960, ao projetar a envolvente da torre, deu-lhe o papel principal como guardião da entrada do Tejo, mantendo a expressão moderna discreta e funcional. A força do desenho de Viana Barreto reside numa simples linha curva que circunda a torre, recuada e criando um anfiteatro de degraus largos que liga a terra à água, em magnífico diálogo com o rio. O desenho enfatiza o eixo visual em direção à terra, dirigindo o olhar para a Capela de São Jerónimo, cuja envolvente é projeto de Ribeiro Telles. A intenção forte deste eixo verde moderno é demonstrar a antiga ligação entre os dois monumentos. O processo natural do movimento das marés é aproveitado numa subtil solução em que a água é retida à volta da base da torre, mesmo na maré baixa, e a torre reflete-se no espelho de água. Um simples relvado completa o desenho com grupos de pinheiros-mansos à sua volta que abrem o espaço ao eixo.

Jardim da Ermida de São Jerónimo do Restelo

Na colina mais alta do Restelo, foi construída, por ordem de D. Manuel, em 1500, uma capelinha, pertencente ao Mosteiro dos Jerónimos. A motivação era o agradecimento pelo retorno bem-sucedido das caravelas da armada de Vasco da Gama da Índia. Da Capela de São Jerónimo via-se o mar até ao infinito, por nela haver um terraço, funcionando como torre de vigia. Dali se rezava e se pedia para que as viagens terminassem bem e trouxessem os homens são e salvos. A Capela de São Jerónimo é um exemplar notável da arquitetura de quinhentos, atribuída a Mestre Boytac, também construtor do Mosteiro de Belém. A decoração alusiva ao mar − as cordas e cabos da navegação − e aos Descobrimentos − a esfera armilar e a cruz de Cristo − marcam o estilo manuelino. Nos anos 60, do século XX, Gonçalo Ribeiro Telles traçou aí um jardim, protegendo a capela com pinheiros-mansos e envolvendo-a em vegetação da região, mas deixando ampla a vista para o oceano.

Miradouro da Graça

Com vista para o castelo de São Jorge, a Mouraria e o rio Tejo, é um dos mais emblemáticos miradouros da cidade, com o enquadramento ideal para quem quer admirar Lisboa a partir da colina de Santo André. Desde 2009 que este pequeno miradouro, revestido de pinheiros-mansos, passou a chamar-se Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, em homenagem à poetisa maior que morou ali perto e o frequentava. O busto de Sophia, erguido neste local cinco anos após a sua morte, é da autoria de António Duarte. A enquadrar este miradouro está o mosteiro agostiniano, fundado em 1271 e reconstruído depois do terramoto, e a igreja de Nossa Senhora da Graça, com o seu pequeno adro que se agiganta com a vista que daqui se desfruta.

Avenida da Liberdade

Localizado em pleno coração de Lisboa, o antigo Passeio Público da cidade de Lisboa liga a Praça dos Restauradores à Praça do Marquês de Pombal. Com cerca de 90 metros de largura e 1100 metros de comprimento, a avenida conta com cerca de 45 mil metros quadrados ajardinados, tudo isto debaixo do mais frondoso túnel de plátanos que cobre de sombra toda a avenida e onde figuram vários quiosques que se tornaram famosos pelas suas esplanadas ao ar livre. Os amplos passeios centrais são empedrados com calçada portuguesa, em motivos pretos sobre branco de grande qualidade, e incluem canteiros ajardinados, lagos e esculturas e os bustos de figuras ilustres do século XIX. A avenida torna-se no eixo central das melhores lojas de luxo de Lisboa.

Tapada da Ajuda

A Tapada da Ajuda, localizada entre o Parque Florestal de Monsanto e o vale de Alcântara, encerra nos seus 100 hectares murados, um extenso património natural, histórico, arqueológico e arquitetónico. Foram descobertos neste lugar vestígios de uma jazida da Idade do Bronze Final e de uma Necrópole Romana, há uma rede de minas de água, um pombal de arquitetura renascentista, um Pavilhão de Exposições construído em 1884 para a III Exposição Agrícola de Lisboa, uma vacaria e abegoaria com relógio no tímpano e campanário, e uma abegoaria, vestígios de uma granja modelo. Na Tapada encontram-se, também, o Observatório Astronómico de Lisboa e o Instituto Superior de Agronomia com toda a atividade Universitária que comporta incluindo os laboratórios e centros de investigação. O património natural existente é rico e destacam-se uma Reserva Botânica, arboretos diversos, viveiros florestais, terrenos de cultura (pomares, vinhas, prados, culturas arvenses e hortícolas), variadas espécies domésticas e silvestres e jardins. No extremo Sul da Tapada, encontra-se um Anfiteatro de Pedra, da autoria do Arquiteto Paisagista Francisco Caldeira Cabral e no seu ponto mais alto, junto ao marco geodésico a 134 metros de altitude, existe um miradouro com vista panorâmica sobre Lisboa e o estuário do Tejo.

Jardim das Amoreiras

É um local inesquecível por nele terminar o Aqueduto das Águas Livres, sonhado desde 1571, autorizado para construção em 1731 e que começou a entregar água a Lisboa em 1748. Resistiu ao terramoto e traz a água para distribuir a Lisboa, despejando-a na Mãe-d’água, junto à qual se encontra o Jardim das Amoreiras, rodeado de arcos e onde o Marquês de Pombal mandou construir uma fábrica de sedas e plantar a colina de amoreiras. O jardim fazia parte da fábrica e foi plantado de amoreiras que alimentavam os bichos-da-seda, que produziam casulos, que eram tratados na fábrica. A fábrica é reabilitada para ser o Museu Arpad Szenes − Vieira da Silva, que abriu ao público em 1994, tendo muitas das amoreiras sido substituídas por tílias, Gingko bilobas e castanheiros-da-índia, que, hoje, em plena maturidade, criam um ambiente de grande conforto para a esplanada, o parque infantil e os passeios sempre com uso intenso.

Parque Eduardo VII e Estufa Fria

Construído na primeira metade do século XX, estende-se por 25 hectares e foi projetado pelo arquiteto Francisco Keil do Amaral. A sua faixa central, coberta de relva e buxo, é ladeada por passeios de calçada portuguesa e zonas verdes arborizadas. No canto noroeste do parque, no local de uma antiga pedreira de basalto, encontra-se a Estufa Fria, constituída por três áreas: a Estufa Fria, a Estufa Quente e a Estufa Doce, abertas ao público em 1933 e preparadas para se visitar através de caminhos sinuosos, com lagos, cascatas, regatos, estatuária, bancos e uma coleção de centenas de espécies de plantas exóticas oriundas de todo o mundo. Perto das estufas há um grande lago e um parque infantil. No lado leste, encontra-se o Pavilhão Carlos Lopes, a estrutura portuguesa utilizada na Exposição Internacional do Rio de Janeiro em 1922. No topo norte do parque, de onde se tem uma belíssima vista sobre a Baixa de Lisboa e o rio Tejo, há um miradouro onde foi erigido o Monumento ao 25 de Abril, da autoria de João Cutileiro, atrás do qual se desenvolve e o Jardim Amália Rodrigues.

Jardim Botânico Tropical

Classificado como Monumento Nacional em 2007, o Parque Botânico, criado em 1906, ocupa uma área de cinco hectares e está aberto ao público, desenvolvendo atividades de carácter científico, educativo, cultural e de lazer, no âmbito da preservação e valorização do património e da difusão da cultura científica sobre a ciência tropical. Refira-se a importante coleção de plantas com interesse económico, fruteiras, especiarias e plantas produtoras de fibras, e a sua notável coleção de Cicadáceas e a alameda de palmeiras.

Os edifícios em destaque são a Casa do Fresco ou Casa do Veado, do século XVII, o Palácio Calheta, que pertenceu aos condes da Calheta até ser adquirido por D. João V, em 1726. Deste período subsiste a estatuária em mármore de Carrara de Bernardino Ludovici e Giuseppe Mazzuoli. Do período inicial do Jardim Colonial, ficou a Estufa Principal, edificada em ferro, em 1914; o jardim inaugurou, em 2020, um restauro que muito o valoriza.

Jardim da Estrela

É um jardim público situado na freguesia da Estrela, com 4,3 hectares, construído em meados do século XIX como passeio público, ao estilo dos jardins ingleses e de inspiração romântica.

O jardim foi delineado e plantado pelo jardineiro Jean-Baptiste Bonnard e o jardineiro paisagista João Francisco da Silva entre 1842 e 1852.

Os vários caminhos que saem dos portões de entrada vão confluir no largo do coreto, projetado por Soares de Lima, em 1850. Na zona mais baixa do jardim, existem dois grandes lagos de formas naturais e, a descer do ponto mais alto do jardim, mais três pequenos lagos que estão ligados por cascatas. Na parte mais baixa do jardim, acentuou-se a topografia natural com a construção de uma gruta em rocailles com uma colina artificial que serve de miradouro, que abria vistas sobre o Tejo.

Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian

Construído na década de 1960 para envolver o edifício da Fundação Calouste Gulbenkian é projeto dos arquitetos paisagistas

António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles, constituindo uma afirmação do modernismo, representando o despertar da arquitetura paisagista em Portugal. Mais tarde, é construído o Centro de Arte Moderna (CAM), que remata o jardim a norte, e para qual é chamado o arquiteto paisagista Edgar Sampaio Fontes, que introduziu as plantações em terraços da envolvente do CAM.

Os espaços e ambientes celebram a paisagem portuguesa através da flora autóctone. A drenagem do jardim é feita por uma linha de água que contém várias cascatas. O lago forma o centro e em seu redor tudo se organiza em linhas ondulantes e suaves. Ao longo da periferia, foi plantada uma cortina de árvores, para proteger o jardim da cidade, e uma orla de arbustos virada para o exterior, criando o perímetro essencial à sua proteção. Do lado de dentro, a mesma cortina tem outra orla, mais recortada e larga, com bancos, recantos e estadias, virada para a grande clareira relvada junto ao lago.

Jardins dos Marqueses de Fronteira

Situado no sopé da serra de Monsanto, foi mandado construir por D. João de Mascarenhas, futuro marquês da Fronteira, em 1668. Inicialmente, era composto por um edifício de planta quadrangular que se ergueu junto a uma capela perto do convento de São Domingos de Benfica. Depois do terramoto de 1755, com a ocupação pela família para residência, o palácio. Trata-se de um jardim de vice-reis, sendo nos jardins que melhor se identifica esta influência: na abóbada da casa de fresco azulejada, no grande lago de azulejos e no lago do S, cuja pedra de rebordo ecoa os rebordos trabalhados da arquitetura mogol.

A sul e a nascente do palácio, encontram-se os terraços ajardinados de influência italiana e parterre de buxo com cinco fontes com repuxos A sul, destaca-se o Tanque dos Cavaleiros, um enorme espelho de água que reflete a Galeria dos Reis, com dez metros de altura, forrada a azulejos que representam 12 cavaleiros. A Galeria dos Reis é revestida e decorada com azulejos e tem a representação em bustos de todos os reis portugueses até D. Pedro II, excluindo os Filipes. O jardim celebra a restauração Portuguesa de 1640.

Jardim Botânico da Ajuda

Situado na encosta sul da serra de Monsanto, o jardim surge pouco depois do terramoto de Lisboa, perto da ‘Real Barraca’ para onde veio viver o rei D. José. Desenhado, em 1768, pelo arquiteto da Casa Real Manuel Caetano de Sousa e plantado por Domingos Vandelli, tinha como principal propósito a instrução dos príncipes e o recreio da família real; mais tarde, foi dirigido e completado por Félix de Avelar Brotero, que aumentou a coleção de plantas. Desde 1918 que o jardim se encontra sob a tutela do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa.

Este espaço de traçado geométrico é dividido em dois terraços que se adaptam com harmonia ao terreno. No terraço superior, encontra-se a coleção botânica, plantada segundo a quadrícula original e organizada por oito áreas geográficas, resultado de um projeto de restauro (1994-97), no qual também se restauraram os sistemas de água e a coleção botânica. Junto ao limite norte, estão alinhadas quatro estufas que foram construídas para as plantas vindas das regiões quentes. Os canteiros de buxos do terraço inferior são da autoria de Caldeira Cabral. Também durante o restauro, foi criado um jardim de plantas aromáticas.

Jardim Botânico da Faculdade de Ciências

É parte integrante do Museu de História Natural. Foi criado, em 1873, por Francisco de Mello Breyner, conde de Ficalho. A coleção do jardim botânico atingiu 10.900 exemplares de plantas, recebendo sementes e estacarias de variadíssimos jardins da Europa. Hoje, é constituído por uma coleção de espécies que apresenta exemplares das regiões temperadas até às subtropicais.

As palmeiras e árvores subtropicais, as trepadeiras raras e os arbustos de florações vibrantes foram obtidos e plantados no jardim por Ficalho e por Edmond Goeze, chefe jardineiro vindo da Alemanha. A entrada faz-se por uma extensa alameda de Washingtonias, e o jardim desce em patamares ligados por escadarias. No terraço de cima, estão representadas as principais famílias de Dicotiledóneas, dispostas à volta de um lago central. Em baixo e à esquerda, numa área de grande declive, temos o “Arboreto”. À direita, surge a coleção de catos e suculentas, uma coleção de palmeiras que nos acompanha até ao limite sul do jardim. O jardim é rematado em baixo por um grande lago que recebe toda a água de drenagem.

Parque do Monteiro-Mor

Situado no Lumiar, a seis quilómetros do centro, é atualmente um jardim público onde os palácios foram adaptados para servir de Museu Nacional do Traje e Museu Nacional do Teatro. O jardim, com uma área de cerca de 11 hectares, data do século XVIII, tendo sido organizado pelo botânico Domingos Vandelli e desenvolve-se em vários patamares, sendo a zona superior ocupada por árvores altas e frondosas, e a zona inferior, por árvores ainda jovens, relvados e uma zona de hortas.

A partir do portão de entrada, o ambiente muda e parece que o tempo recua para o século XVIII, para o jardim ordenado pelo marquês de Angeja, grande naturalista que aí criou a sua coleção botânica. Desta época se reconhecem os terraços, as escadarias, as balaustradas de pedra e os grandes lagos que armazenam as águas vindas das minas. Já no século XIX e sem destruir os elementos barrocos, este jardim estende-se num traçado naturalista, pitoresco, com um lago irregular, uma cascata, caminhos ondulantes, estátuas, grandes vistas sobre a paisagem e uma magnífica coleção de plantas.

Jardim do castelo de São Jorge

A cidadela ou alcáçova, hoje conhecida como castelo de São Jorge, concentra a memória da nacionalidade portuguesa arduamente conquistada ao longo de séculos. Os seus muros foram transformados em miradouros com vista panorâmica para Lisboa e para o estuário do Tejo, de onde se pode admirar toda a cidade à sombra dos grandes pinheiros-mansos. A construção de um jardim que articula as muralhas, os miradouros e as ruínas do castelo data de 1959, desenhado pelos arquitetos (paisagistas) Gonçalo Ribeiro Telles e Pulido Garcia. Este jardim é hoje o único espaço verde de Lisboa onde dominam e são observáveis as principais espécies autóctones da floresta portuguesa, como os sobreiros, zambujeiros, alfarrobeiras, medronheiros, pinheiros-mansos e algumas árvores de fruto em memória da antiga horta do Paço Real da Alcáçova.

Jardim do Príncipe Real

A praça foi desenhada, em 1869, pelo jardineiro paisagista João Francisco da Silva, que já colaborara com Bonnard no Jardim da Estrela. Aqui a vegetação tem um carácter distintivo, sobressaindo nela um caramanchão em ferro onde assenta um Cupressus que lhe nasce do centro, para se tornar uma superfície horizontal densa e aromática atingindo 22 metros de diâmetro. Árvores exóticas entremeiam com árvores das regiões temperadas.

São elementos de destaque a biblioteca pública, o monumento ao jornalista França Borges e uma peça escultórica de Lagoa Henriques, dedicada a Antero de Quental. No centro do jardim, destaca-se o lago, que esconde abaixo dele a mãe-d’água do aqueduto; uma cisterna octogonal, com cerca de cinco metros de altura, que recebia as águas do Aqueduto das Águas Livres e as distribuía. A cisterna pode-se visitar e é uma surpresa dentro do jardim.

Tapada de Mafra − jardins do Cerco e do Celebredo

Anexa ao palácio e ao convento de Mafra, foi criada, em 1747, no reinado de D. João V, que mandou rodear a zona com 23 quilómetros de muros de alvenaria de pedra com cerca de três metros de altura. Desde o século XVIII até à Implantação da República, a Real Tapada de Mafra foi um local privilegiado de lazer e de caça para os monarcas portugueses, tendo, com a implantação da República, passado a designar-se Tapada Nacional de Mafra. A partir de 1941, foi submetida ao regime florestal total, sob tutela da Direção-Geral dos Serviços Florestais e Aquícolas, passando a ser gerida numa perspetiva ambiental. Em 1993, a tapada foi concessionada à Empresa Nacional de Desenvolvimento Agrícola e Cinegético (ENDAC) e, em 1998, foi criada uma Cooperativa de Interesse Público para aproveitamento dos recursos da Tapada de Mafra. Fazendo transição para o Palácio Nacional de Mafra, o Jardim do Cerco, sob tutela da Câmara Municipal de Mafra, tem oito hectares ocupados por uma mata, canteiros, relvados, alamedas de grandes árvores, largos caminhos, tanques e uma nora setecentista, cumprindo hoje a função de jardim público municipal.

Quinta do Marquês de Pombal − Oeiras

É um notável conjunto monumental barroco do século XVIII situado em Oeiras e projetado pelo arquiteto Carlos Mardel, tendo servido de residência a Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal. As portas do piso térreo do palácio abrem-se sobre um amplo jardim − os passeios, as merendas, os jogos, a música e a dança faziam parte da componente recreativa da quinta, onde se destaca a Cascata dos Poetas, o terreiro de jogos e um pequeno cais, que permitia navegar na ribeira.

A quinta estende-se numa área de dez hectares ao longo de um eixo barroco e é cortada pela ribeira das Lages. Várias construções pontuam as encostas da quinta, animando-as. Destaca-se o pombal, a abegoaria, o aqueduto, a casa de pesca azulejada, a cascata e várias peças de estatuária, os bustos de mármore, muretes e escadarias revestidos de azulejos, formando um conjunto que a inclui no conceito de ferme ornée.

Jardim do Paço Real de Caxias

Foi mandado construir, em meados do século XVIII, por iniciativa do infante D. Francisco de Bragança, tendo a sua construção sido prolongada até ao início do século XIX. O estilo barroco é reconhecível pelo grande eixo e pelos jardins de buxo geométricos, com pavilhões, estatuaria e caminhos em saibro. Trata-se de um jardim da família real, com espaço de lazer numa quinta de reconhecida produtividade agrícola. Bancos nas proximidades de tanques e namoradeiras nos terraços da cascata são alguns elementos que comprovam o usufruto vivencial do espaço. O Jardim Novo apresenta traçado geométrico e é ornamentado por uma cascata monumental, que é o ex-líbris do jardim. Do alto da cascata, a vista sobre o mar associa-se à cena mitológica representada por estatuária que conta o episódio de Diana no banho. As estátuas de barro pintadas a branco são da autoria de Machado de Castro.

Convento da Arrábida

Encontra-se isolado, com vista sobre a serra que desce a pique até ao mar. A construção deste convento de ordem franciscana foi patrocinada pelo duque de Aveiro, em meados do século XVI. Em 1650, é mandado construir o Santuário do Bom Jesus para que sobressaia na paisagem verde com uma cúpula azulejada. Em 1834, com a extinção das ordens religiosas, os frades abandonam o convento, que, em 1990, é comprado pela Fundação do Oriente. O convento é uma bela marca humana na paisagem, estendendo-se com sete capelas isoladas ao longo de um festo e um sublime conjunto arquitetónico construído, cela a cela, terraço a terraço ao longo dos séculos. A zona mais alta e declivosa está revestida por mata autóctone onde existem caminhos de ligação entre as várias edificações e terraços. Num segundo intervalo, já menos declivoso, foram construídas a maior parte das edificações. O jardim, com buxos altos e muito antigos, é rematado por namoradeiras e alegretes de onde se vê o mar. Foi um lugar escolhido pelas suas nascentes, embutido na forma côncava de um vale, e toda a água que cai nos terraços e telhados é recuperada para uma cisterna.

Parque do Bonfim

Integrado na malha urbana da cidade de Setúbal, o Parque do Bonfim tem o primeiro registo no famoso Portugal Antigo e Moderno. O rei D. Manuel I mandou fazer este primeiro passeio público − também designado por Rossio − preparado acesso público.

No século XX, e desaparecida a parte escultórica, o Parque do Bonfim tornou-se um dos primeiros desenhos de arquitetura paisagista modernistas em Portugal aberto ao público. O traço é de António Viana Barreto, um dos grandes projetistas da primeira geração de arquitetos paisagistas portugueses (projeto 1953, obra 1956). No programa da CMS, há a intenção de manter as grandes árvores e criar uma ligação entre o centro da cidade e o estádio do Bonfim.

Quinta das Machadas

Foi adquirida à Ordem de Santiago, em 1760, por Jacob Friederich Torlade e, por sucessão, a quinta passou para a sua filha Ana João Torlade, que, em 1784, se casou com Carlos O ́Neill, pertencente a uma antiga linhagem irlandesa. Com o casamento, a quinta pertencente a Carlos O ́Neill (Quinta da Várzea de D. Teresa) juntou-se com a Quinta das Machadas de Cima, passando a chamar-se Quinta das Machadas de Baixo. As duas formavam então uma única propriedade com cerca de 18 hectares. Os espaços de lazer e de produção misturam-se para além do jardim de buxo e lago, junto à casa, e os talhões de laranjas são cortados por caminhos ornamentados de bancos, pérgulas e regadeiras levantadas. O sistema da fonte e lago barroco faziam parte da Quinta das Machadas de Cima. Hugo O’Neill, avô do atual proprietário, mandou ampliar a casa e, em 1980, a produção de citrinos foi substituída em alguns talhões por hortícolas, viveiros e pomar de nogueiras. A quinta foi restaurada em 2010, mantendo-se o sistema de rega que serve tanto as áreas com função de produção como as de ornamento.

Parque de Monserrate

Construído entre 1863 e 1929, e coroado pelo palácio de estilo mourisco em torreões de planta circular, desenvolve-se ao longo de 33 hectares da serra de Sintra, contando com diversos jardins onde se encontra uma coleção botânica com exemplares de todo o mundo. O projeto do parque é atribuído a William Colebrook Stockdale, pintor de paisagens de estilo romântico, e foi encomendado pelo visconde de Monserrate, Sir Francis Cook.

O Jardim do México localiza-se na zona mais quente e seca da propriedade, o Jardim do Japão alberga plantas asiáticas, o vale dos fetos apresenta diversos exemplares de fetos-arbóreos dispostos ao longo da encosta. Os lagos ornamentais albergam plantas aquáticas exóticas, e existe um roseiral com 200 variedades históricas.

O parque é decorado por diversos elementos, alguns encomendados por William Beckford, que arrendou a quinta por volta de 1790 e aí construiu uma cascata artificial de efeito sublime, o arco de Vathek e o falso cromeleque próprio dos jardins paisagistas. No que toca a estruturas edificadas, destacam-se a falsa ruína de uma capela, da autoria de Francis Cook, e um arco ornamental indiano.

Convento dos Capuchos

Localiza-se no coração do Parque Natural de Sintra-Cascais, na encosta norte da serra. A sua construção remonta a 1560, quando D. Álvaro de Castro, conselheiro do Estado de D. Sebastião, manda construir o Convento de Santa Cruz em cumprimento de um voto feito pelo seu pai, D. João de Castro, quarto vice-rei da Índia. A escolha do sítio e a construção seguem uma filosofia de despojamento arquitetónico e decorativo, materializando as ideias franciscanas da busca do aperfeiçoamento espiritual através do afastamento do mundo e da renúncia aos prazeres terrenos. É um exemplo do século XVI em Portugal em que a paisagem tem um papel fundamental na religiosidade do sítio escolhido. O convento vai permanecer habitado até 1834, e aos rochedos encostam-se e envolvem-se as construções das celas com portas de cortiça, passando para a família Cook, tendo sido, em 1949, adquirido pelo Estado Português.

Jardim da Vila Sassetti

A escolha da localização a meia encosta permite vistas soberbas sobre o Palácio da Vila, a Regaleira e, ao fundo, a praia das Maçãs e o infinito oceano. Um passeio ao longo da encosta íngreme da quinta revela o cuidado cenográfico de Manini, aproveitando a paisagem como cenário e só preparando os bancos e o enquadramento para a apreciação do esplendor da paisagem envolvente. Manini cria espaços com regatos, cascatas e pequenos lagos que se dispõem no terreno desnivelado e são envoltos num cenário arbóreo privilegiado, criando contrastes entre espaços de abertura à vista e de recato. As várias construções como o pombal levam-nos a subir encosta e aproveitam os enormes rochedos para criar um jardim pitoresco em que as plantas, a vista e os caminhos oferecem um percurso de surpresas muito ingreme até ao castelo dos mouros.

Jardins do Palácio de Queluz

É uma referência da arquitetura rococó e neoclássica em Portugal. Mandado construir pelo futuro D. Pedro III, em 1747, foi concebido como residência de verão, tornando-se um espaço privilegiado de lazer da família real, onde os espaços de magnificência e os aposentos privados se sucedem em íntima ligação com os jardins, onde se destacam dois terraços de buxo limitados por balaustradas decoradas por estátuas e fontes. A balaustrada de mármore divide os terraços do jardim do bosque, cortado por alamedas de passeio. As alamedas são pontuadas por lagos, e ao fundo, uma grande cascata. Existe ainda um jardim botânico e uma estufa. Destaca-se o canal, que é a peça mais original por contorna o jardim em curva natural. O mesmo é contido por paredes forradas a azulejos, as quais se refletem na água que é armazenada no inverno ou quando a comporta é aberta e enche o canal como um lago, levando depois a água para a rega da quinta. O canal separa e funde o jardim de aparato com a quinta de produção.

Jardins do Palácio Nacional de Sintra

O edifício a meia encosta eleva-se sobre um vale cavado, olhando a pequena vila mesmo em frente, o mar à distância para oeste e o castelo dos mouros subindo a serra. O seu valor histórico, arquitetónico e artístico é inquestionável e reflete-se nos seus inúmeros jardins, pátios, revestimentos azulejares, alegretes e namoradeiras, de onde se gozam incomparáveis vistas. Apresenta características de arquitetura medieval, gótica, manuelina, renascentista e romântica, encaixando-se no terreno de forma orgânica como um conjunto de corpos aparentemente separados, mas que fazem parte de um todo articulado entre si através de pátios, escadas, cor-redores e galerias. Possui o maior conjunto de azulejos mudéjares do País. É dominado por duas grandes chaminés geminadas que coroam a cozinha e constituem o ex-líbris de Sintra. O palácio foi utilizado pela família real portuguesa praticamente até ao final da monarquia, em 1910.

Quinta da Regaleira

Em 1893, António Augusto Carvalho Monteiro compra a propriedade e pelo traço do arquiteto e cenógrafo italiano Luigi Manini, transforma a quinta de quatro hectares num palácio rodeado de luxuriantes jardins, lagos, grutas e construções enigmáticas. Manini modela o espaço em traçados mistos, que evocam a arquitetura românica, gótica, renascentista e manuelina. Destacam-se a capela neomanuelina, a Álea dos Deuses clássicos, o Portal dos Guardiões, o Poço Iniciático − uma ‘Torre invertida’ que se afunda cerca de 27 metros no interior da terra, com acesso através de uma monumental escadaria em espiral − e a vasta rede de túneis subterrâneos que ligam as várias construções da quinta.

A Quinta da Regaleira é um lugar para se sentir. Não basta contar-lhe a memória, a paisagem ou os mistérios. Torna-se necessário conhecê-la, contemplar a cenografia dos jardins e das edificações, admirar o palácio, uma verdadeira mansão filosofal de inspiração alquímica, percorrer o parque exótico, sentir a sua espiritualidade.

Parque da Pena

Com mais de 85 hectares de plantas autóctones e exóticas, estende-se pela encosta norte da serra de Sintra. Reconhecendo as qualidades do lugar, o rei D. Fernando II compra, em 1837, a área do parque e nela investe toda a sua vida, transformando-a primeiro com a rainha D. Maria II, num cenário de conto de fadas com um palácio no topo da serra, visível desde Lisboa e, depois de enviuvar, reinvestindo no parque. Introduziu assim o romantismo em Portugal tanto na arquitetura como na arte de jardins. Na segunda metade do século XIX, D. Fernando e a sua segunda mulher, Elise Hensler, condessa d’Edla, criaram no Parque da Pena um chalé e um jardim de carácter privado e sensibilidade romântica. O edifício segue o modelo dos chalés de madeira, e da eclética decoração sobressaem as pinturas murais, os estuques, os azulejos e o uso de cortiça como elemento ornamental.

Gostou deste artigo?
Então leia a nossa Revista, subscreva o canal da Jardins no Youtube, e siga-nos no Facebook, Instagram e Pinterest.


Poderá Também Gostar