Jardins & Viagens

Jardins públicos oitocentistas, a norte

 

Reunimos neste artigo um conjunto representativo dos jardins públicos da última metade do século XIX no norte de Portugal, no Porto, em Vila Real, Lamego, Chaves e Fafe.

 

Consideramos que este conjunto ainda preserva a sua autenticidade através do traçado, da qualidade e idade do seu património arbóreo, dos equipamentos como coretos, lagos, miradouros e estatuária e por se manterem como espaços contidos por muros – encimados de gradeamento – entrecortados por portões.

Os primeiros jardins ou passeios públicos tiveram como antecedentes as alamedas instaladas em campos, geralmente, junto às portas de muralha ou junto às portas de conventos, que por sua vez deram lugar a jardins públicos como o Jardim da Cordoaria no Porto, o Rossio de Viseu, o Jardim da República em Santarém… Inspiraram-se nas alamedas quinhentistas do Prado em Madrid ou de Hércules em Sevilha, que bem poderão estar na origem do atual Jardim Municipal de Elvas, situado a sul da fortificação do lado oriental do Rossio do Calvário, “… o herdeiro do Passeio da Alameda, Alameda do Rossio de Calvário ou simplesmente Alameda, como desde os finais do século XVI era conhecido dos dois lados da Raia”, refere Carlos Correia Dias (www.jardinshistoricos.pt/ad/999)

O Passeio Público de Lisboa, construído na década de 1760 após o terramoto e da autoria do arquiteto Reynaldo Manuel, iniciou um novo período na nossa história dos jardins públicos. Tratava-se de um jardim retangular cercado de muros com 15 janelas gradeadas de cada lado que, em 1835, foi reformulado pelo arquiteto Malaquias Ferreira Leal até que, em 1879, foi iniciada a sua demolição para dar lugar à Avenida
da Liberdade, inaugurada em 1866. No Rio de Janeiro, entre 1779 e 1783 durante o reinado de D. Maria I, foi construído o Jardim Público da autoria de Mestre Valentim e que foi remodelado em 1864, segundo projeto de Glaziou no tempo do Imperador Pedro II.

 

Porto

jardim oitocentista

Jardim de São Lázaro ou Jardim Marques de Oliveira, no Porto

No Porto, o exemplo mais notável que chegou aos nossos dias, é o Jardim de São Lázaro, mandado construir por D. Pedro IV quando permanecia na cidade durante o cerco do Porto (1822-1823), no chamado Campo de São Lázaro, lugar da feira de São Lázaro, mais tarde feira dos Porcos. As obras de construção foram da responsabilidade de João Baptista Ribeiro, segundo desenho de João José Gomes, o primeiro jardineiro municipal. Inaugurado em 1841, é fechado por gradeamento de ferro com quatro portões e organizado em torno de uma taça de água circular. É detentor de um conjunto de árvores notáveis como as magnólias-de-flores-grandes, cedros-do-atlas, tílias e camélias e de alguma estatuária.

 

Vila Real

Em Vila Real, o Jardim da Carreira tem várias designações: Carreira Nova, Carreira de Cima, Passeio de São Francisco, Passeio Público e Jardim da Carreira. A sua história está intimamente ligada ao convento seiscentista de São Francisco e corresponde a uma parte da sua cerca onde existia uma rua com cinco ermidas, matas e hortas. Depois da extinção das ordens religiosas, a cerca foi arrendada e vendida em hasta pública em 1843 e, em 1862, procedeu-se à construção do paredão da Carreira de Baixo. Em 1872, António Correia de Almeida Lucena era presidente da câmara e promoveu alterações no Jardim Público, dotando-o de gradeamentos e bancos e de um guarda. Em 1891, é a vez de o
presidente da câmara Avelino Arlindo da Silva Patena renovar o jardim entregando o projeto a José Marques Loureiro, o célebre horticultor portuense. O jardim tem duas entradas e estrutura-se segundo um longo eixo, a chamada Avenida das Tílias, ladeada por relvados com canteiros de plantas anuais, e paralelo a esta, encontra-se o paredão miradouro com os bancos corridos.

 

Fafe

jardim oitocentista

Jardim do Calvário, em Fafe

Em Fafe, o Jardim Público encontra-se no centro e foi construído num local onde existiu a Capela do Senhor do Calvário. Inaugurado em 26 de dezembro de 1892, foi concretizado com o apoio do benemérito brasileiro comendador Albino de Oliveira Guimarães, sendo da autoria de Domingues Fernandes e Francisco Cerdeira. Uma escada dupla encimada por um portão dá-nos acesso ao jardim, que se organiza segundo um eixo que remata num outro portão. Encontra-se sobrelevado, assenta numa plataforma e é todo murado, sendo as frentes nascente e poente encimadas por gradeamento. Em 1912, foram introduzidos dois novos elementos que restruturaram o jardim: o lago e o coreto. Possui notáveis tílias, cedros, uma sequoia, faias rubras, olaias, Lagerstroemias, rododendros e camélias.

 

Lamego

jardim oitocentista

Jardim da República ou Jardim do Campo, em Lamego

Em Lamego, o Jardim da República, fronteiro à Câmara Municipal, foi construído no antigo Campo do Tablado e ainda hoje é conhecido como o jardim do Campo que ficava fronteiro ao Convento das Chagas, fundado no século XVI, por D. António Teles de Menezes, bispo de Lamego. O jardim é suportado por magníficos muros em granito aparelhado e tem ao centro uma alameda, alinhada com o pórtico renascentista das Chagas, ladeada por duas taças enterradas com estátuas ao centro envolvidas em canteiros de buxo. Em 1830, no campo foi construída uma fonte chamada O Lamego, que, com a construção do jardim,foi desm ontada e reerguida no muro de suporte do jardim. São elementos de distinção deste jardim as velhas olaias, o coreto, as pérgulas, a estátua do poeta lamecense Fausto Guedes Teixeira (1871-1940) e os azulejos com cenas durienses da autoria de Jorge Rey Colaço.

 

Chaves

jardim oitocentista

Jardim Público ou Jardim Cândido Sotto Mayor, em Chaves

Em Chaves, o Jardim Público está localizado junto à margem esquerda do rio Tâmega, próximo da ponte romana e fronteiro à cidade. Foi mandado contruir, em 1897, por Cândido Sotto Mayor, que emigrou para o Brasil, aí fez fortuna e tornou-se banqueiro. O portão principal de acesso encontra-se no topo do jardim, na EN 2. Inaugurado em 1901, o jardim é atravessado por uma ribeira com ponte, e a entrada é ladeada por diversos canteiros a que se segue uma ampla alameda de plátanos e cedros, com coreto do lado norte.

 

Leia também “Jardins de Portugal: Rota do Douro e Dão”

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