Descubra como a primeira calçada decorativa, idealizada por Eusébio Furtado, em 1842, para a praça do Castelo de São Jorge, em Lisboa, inspirou praças e ruas em Portugal e além-fronteiras, garantindo a continuidade desta nossa herança cultural.
A primeira calçada decorativa ficou a dever-se ao oficial de engenharia do exército português, Eusébio Cândido Pinheiro Cordeiro Furtado (1777-1861), governador de armas do Castelo de São Jorge, conhecedor das técnicas de construção romanas, quando ordenou o calcetamento da praça do Castelo de São Jorge, em Lisboa, no ano 1842. O enorme ziguezague de pequenas pedras de calcário branco e basalto negro da praça do castelo, executado pelos presos da prisão do Limoeiro, não passou despercebido. Essa calçada foi removida na intervenção dos anos 40 do século XX de que foi alvo o Castelo de São Jorge.
O sucesso da calçada decorativa na praça do castelo foi muito apreciado e serviu de inspiração para que outras praças fossem alvo de intervenções semelhantes. A Câmara Municipal de Lisboa, numa tentativa de aformosear as praças e largos lisboetas, concede a Eusébio Furtado verbas para a pavimentação da praça do Rossio. O desenho escolhido para decoração da praça foi um padrão ondulado em preto e branco, que remete para o encontro das águas do Tejo com o oceano Atlântico, designado por “Mar Largo”. A construção dos 8712 metros quadrados de calçada teve início a 17 de agosto de 1848 e durou 323 dias.
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No livro A Formosa Lusitânia, de 1877, Catherine, mais conhecida por Lady Jackson, faz uma breve referência às calçadas das praças Duque da Terceira e Rossio: “(…) Chegamos por fim ao Caes do Sodré, ou mais propriamente à Praça dos Romulares. Um grande espaço circular, no meio cercado por arvoredo, e bem iluminada a gaz, é calçado a mosaico, como o Rocio, mas com desenho menos complicado (…)”.
A tradicional calçada portuguesa rapidamente se estendeu a revestir passeios por todo o País, uma forma de dar resposta ao crescimento urbano, assegurando melhores condições de higiene e saúde. Além de Portugal, esta forma de arte transpôs fronteiras, alcançando lugares como o Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique e Macau. No caso do Brasil, foi o engenheiro Francisco Pereira Passos (1836-1913), prefeito do Rio de Janeiro, que inaugura, em 1905, o calcetamento da avenida Atlântica. Além de ter como objetivo a modernização da capital, pretendia em simultâneo homenagear a herança cultural dos seus colonizadores portugueses. Para implementar o desenho das ondas de pedra, inspirado no desenho do pavimento da praça do Rossio em Lisboa, além da pedra proveniente de Portugal, foram também enviados pela Câmara Municipal de Lisboa 36 calceteiros portugueses. Na década de 70 do século XX, a intervenção de alargamento da avenida Atlântica, conhecido calçadão de Copacabana, coube a Roberto Burle Marx (1909-1994), reconhecido artista plástico e arquiteto paisagista brasileiro. Burle Marx refez o desenho do mar de pedra, originalmente perpendicular à praia, e alinhou-o no sentido das ondas. Além do desenho da calçada da orla da praia, desenhou ainda o passeio central e o passeio junto aos edifícios, com formas geométricas abstratas. A calçada portuguesa é um símbolo no Rio de Janeiro, quer seja em Copacabana, no Leblon ou em Ipanema; estima-se que no Rio esta forma de arte abranja mais de 1,2 milhões de metros quadrados.
Em Macau, a introdução de calçada portuguesa no Oriente deu-se através do projeto da praça do Leal Senado, da autoria de Francisco Caldeira Cabral e Elsa Severino, integrado no novo plano diretor para a malha urbana da península para privilegiar o uso pedonal.
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