Com tempo, como manda a tradição e as gentes alentejanas, uma ideia transformou-se num dos gins mais premiados na Europa. Da paixão pela terra, pelos saberes ancestrais e pela destilaria, Miguel Ângelo Nunes criou a marca Black Pig.
Em 2007, começaram a plantar os primeiros medronheiros que iriam alimentar a sua aguardente de medronho. Em 2017, surgiu a primeira destilaria de gin da Costa Alentejana. Em 2019, lançaram o primeiro rum produzido em Portugal Continental e, em 2020, criaram um parque temático sob as copas do montado para que se possa viver a experiência em pleno. Uma história construída paulatinamente, com as raízes bem firmes na paisagem alentejana e os ramos a crescerem em direção ao mundo.
Como é que tudo começou?
Começou com uma paixão —pela terra, pelos aromas do Alentejo e pela vontade de fazer algo diferente. Sempre tive um fascínio pela destilação, pelas receitas antigas e pelos ingredientes que o nosso território nos oferece. Durante anos fui estudando, experimentando e, em 2018, decidimos dar o salto e criar a Black Pig Gin.
Queríamos um projeto que unisse tradição e inovação. Algo que respeitasse a Natureza, mas que também mostrasse que Portugal tem capacidade para criar produtos premium, com identidade e com alma. Escolhemos o porco alentejano como símbolo porque representa exatamente isso: raízes, liberdade e autenticidade.
Começámos pequenos, com muito trabalho manual e uma visão clara — criar destilados únicos que contassem histórias do nosso território em cada gota. Hoje temos muito orgulho no caminho que já percorremos, mas mantemos a paixão do primeiro dia.
Considera que os produtos nacionais, como o medronho, estão subvalorizados?
Sem dúvida. Temos uma riqueza incrível em Portugal — o medronho é só um exemplo entre muitos. Mas durante demasiado tempo olhámos para o que vem de fora como sendo “melhor”. Felizmente isso está a mudar. O consumidor está mais atento, mais exigente e valoriza o que é autêntico. O nosso trabalho é continuar a mostrar que o que temos cá é especial e merece destaque.
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Quem é que é o “senhor do montado”?
O “senhor do montado” é o porco preto alentejano, uma figura icónica da nossa paisagem. É um animal livre, resistente, ligado à terra, à bolota, ao montado. Quando começámos este projeto, quisemos que o nome refletisse essa essência — daí o Black Pig. É uma homenagem direta ao que nos rodeia e inspira todos os dias.
Como é feita a produção?
Trabalhamos com um respeito profundo pela Natureza. A nossa produção é artesanal e seguimos práticas biológicas sempre que possível. Os botânicos são colhidos à mão, no tempo certo, e a destilação é feita em pequenos alambiques de cobre. Tudo com tempo, paciência e dedicação— sem pressas, como manda a tradição.
Ao apostarem num formato sustentável e ao ritmo da Natureza, que desafios encontram? Como se mantém a produtividade, rentabilidade e qualidade?
É um grande desafio, não vou mentir. Trabalhar ao ritmo da Natureza obriga-nos a planear com muito cuidado e a aceitar que há coisas que não controlamos. Mas também nos dá um produto de qualidade superior, com alma. A rentabilidade vem da diferenciação — quem prova um dos nossos gins percebe que há ali algo especial, que não vem duma linha de montagem. Isso fideliza e valoriza a marca.
Em 2020, criaram um parque temático em Vila Nova de Santo André com uma zona de degustação, um trilho, muitos animais e diversões para as crianças. Porque é importante ter esta vertente mais lúdica?
Para nós, o Black Pig não é só um produto; é uma experiência. Criar o parque foi a forma de abrir as portas do nosso mundo às pessoas. Queremos que venham, que sintam os cheiros, que vejam de onde vêm os botânicos, que os miúdos brinquem, que os adultos relaxem. É uma forma de ligar as famílias à Natureza, ao território e ao processo que está por trás de cada garrafa.
Desde os gins à aguardente ou ao rum, todos os vossos produtos têm nomes alusivos à região. Quão importante para a marca é a ligação à terra?
É tudo. A terra é o nosso ponto de partida e de chegada. Os nomes dos produtos, os ingredientes, o design — tudo tem raízes aqui, no Alentejo e na Costa Vicentina. Queremos que, ao provar um dos nossos gins ou rum, se sinta o cheiro do montado, o sabor do mar, a calma do entardecer alentejano. É essa ligação à terra que dá identidade à marca.
Quais são os objetivos para o futuro?
Continuar a crescer com autenticidade. Que o parque temático cresça cada vez mais — queremos superar o número de visitantes, que já ronda os 120 mil visitantes por ano — e que se torne um ponto de referência do enoturismo e do turismo de experiências em Portugal. Expandir a marca para novos mercados, sem nunca perder o nosso ADN. Continuar a apostar na sustentabilidade e, acima de tudo, queremos continuar a contar boas histórias — com alma, com sabor e com muito orgulho no que é nosso. Isto é Black Pig, isto é Costa Alentejana.