Revista Jardins

Conheça Stephen Barstow

Conhecido como Extreme Salad Man, oceanógrafo de profissão e autor do livro Around the world in 80 Plants e do blogue Edimentals.

Stephan Berstaw

Tenho a honra e o privilégio de ir cruzando caminhos com pessoas que me inspiram e me ensinam sempre coisas novas sobre plantas. Escrevi anteriormente acerca do professor José Eduardo Mendes Ferrão, cujas histórias sobre a aventura das plantas e os Descobrimentos Portugueses me transportaram em viagens longínquas e exóticas pelos países tropicais da lusofonia.

Quem é Stephen Barstow?

A viagem que agora vos quero contar é a que fiz e estou ainda a fazer pelas mãos de um grande senhor que é o Stephen Barstow, conhecido por Extreme Salad Man, inglês reformado de uma bonita profissão de oceanógrafo especializado em ondas oceânicas. Viajou pelo mundo com as suas ondas, mas sempre com o pé e o olhar em terra e nas plantas, sobretudo as perenes, que segundo ele são mais independentes, mais robustas, menos exigentes, contentam-se com pouco, basta-lhes um pouco de composto de vez em quando e não precisam de ser cultivadas ou semeadas todos os anos. Asseguram colheitas contínuas quase todo o ano, como é o caso de uma couve-portuguesa que é mencionada no seu livro e que é considerada uma pérola rara em vias de extensão, segundo o professor João Silva Dias, da UL. Merece ser reproduzida e protegida e é isso que estão a fazer na ecoaldeia de Janas, onde existe um belíssimo exemplar arbustivo com quatro anos de idade. Que couve é essa? Couve-de-poda, couve-de-estaca, couve-de-pernada, couve-de-mil-cabeças. Julga-se que esta couve terá sido trazida pelos celtas para o Sul da Europa onde em tempos foi muito apreciada. O Stephen ficou encantado e lá levou a sua estaca para a Noruega para enriquecer a sua coleção e o seu prato.

As viagens que deram origem ao livro

Das viagens pelas mais diversas regiões do planeta como o Cáucaso e os Himalaias, a Sibéria, Japão, Ásia e Austrália, Américas, Mediterrâneo e Escandinávia, surgiu o livro maravilhoso Around the world in 80 Plants ou seja Volta ao Mundo em 80 Plantas. O autor vive na Noruega a 64o de latitude norte muito perto do círculo polar ártico há mais de 30 anos; aí cultiva e coleciona mais de 3000 espécies de plantas comestíveis. Muitas dessas plantas eram comuns e ornamentais em jardins noruegueses. A maioria são plantas perenes. Algumas são espécies espontâneas outrora recoletadas nos mais variados países, numa atividade cuja tradução para português parece perder a sua graça, foraging que se traduz por recoletar. Atividade essa que liga plantas e pessoas, a atividade mais antiga praticada pelo ser humano e que está na origem da agricultura.

O homem, ao deixar de ser nómada, passou a fixar-se nos territórios e a domesticar as plantas. Portanto, os nossos espinafres, couves, alfaces e quase tudo o que comemos têm na base da sua árvore genealógica, as plantas bravias, ou silvestres ou daninhas, que é como muita gente ainda hoje as denomina. Ora, resulta que essas plantas que outrora tanta gente conhecia, recolhia e utilizava ainda crescem à nossa volta, o seu sabor é mais intenso e muitas vezes mais amargo, mas o seu valor nutricional é bastante mais elevado do que os legumes convencionais cuja variabilidade é também muito inferior ao de estas nossas aliadas selvagens.

Dente de leão

A paixão pelas plantas comestíveis

Eu que era fã de urtigas, malvas e dente-de-leão fiquei fascinada com a quantidade de pratos que se podem confecionar com o dente-de-leão como por exemplo esparguete de dente-de-leão a partir dos caules ocos e tenros, outra iguaria é “alcachofras” de dente-de-leão, a que Stephen chama dandichokes (dandelion+artichokes) e que consiste naquela base da roseta de folhas que está em contacto com a terra e que é branca e muito tenra. Podem espreitar tudo isto no fantástico site Edimentals com fotos dos pratos e receitas de fazer crescer água na boca e vontade de ir para o campo, para o bosque ou para o nosso quintal fazer colheitas silvestres destas plantas incrivelmente versáteis e pouco reconhecidas entre nós. As folhas de malvas chegaram a ser a planta verde mais importante na China Antiga até à introdução das Brássicas trazidas do Ocidente. No Egito, na Grécia Antiga e no Médio Oriente, as malvas eram um legume muito apreciado. Existem cerca de 15 espécies de malvas, sendo a mais transversal a vários países a que dá o nome ao meu blogue a Malva sylvestris. Fique então a saber que no nosso País elas abundam e não servem apenas para lavar o rabinho, como diz o velho ditado. São saborosas em risotos, sopas, omeletes, panquecas e saladas. Pode usar folha, flor, semente, caule e raiz. Quanto à urtiga, já a mencionei estas minhas crónicas muitas vezes, mas não será demais lembrar que, além dos usos culinários, ela é ainda usada no fabrico de cerveja; as suas hastes fibrosas, no fabrico de roupa, cestos e cordas; o seu pigmento, para tingir tecidos e lãs; o chorume, para tratar fungos e outras doenças das plantas; com a planta inteira, fabricam-se champôs anticaspa e cremes cicatrizantes, bombons de urtiga, sabonetes de urtiga e cerveja de urtiga. Já está com comichões e alergias? É só lavar com água de malvas. Para saber mais sobre urtigas, pode sempre ir espreitando a página de Facebook da Confraria da Urtiga.

Visita ao montado alentejano

Voltando ao Stephen e à sua passagem por Portugal, visitámos juntos a Herdade-do-Freixo-do-Meio perto de Montemor-o-Novo numa fantástica visita guiada pela mão no nosso anfitrião, o Alfredo Sendim, ao que é considerado um ecossistema verdadeiramente equilibrado e sustentável; o montado alentejano. Encontrámos muitas bolotas, claro está, saudámos algumas das mais velhas oliveiras de Portugal, encontramos cogumelos, espargos, calamintas, morugens e urtigas perto do ribeiro, dentes-de-leão enormes por todo o lado.

Brincos de princesa

Visita ao Parque da Pena

No dia seguinte, visitámos o jardim do Chalet da Condessa no Parque da Pena em Sintra. Descobrimos algumas iguarias como o Cephalotaxus sp, conhecida por ameixa-japonesa-de-teixo, cujos frutos maduros são deliciosos, uma mistura de pinhão com banana e anona. Deslumbrámo-nos, eu deslumbro-me sempre, com a monumentalidade das árvores, a espontaneidade de algumas ervas comestíveis e com as ornamentais também elas comestíveis como brincos-de-princesa e begónias. De tarde, almoçámos e passeámos pela ecoaldeia de Janas, onde aprofundámos o valor da grande diversidade de plantas perenes, ervas silvestres, hortícolas tradicionais e a majestosa relíquia vegetal, a couve-de-estaca. Ficámos todos mais ricos e o Extreme Salad Man também, pelo menos com mais algumas novidades portuguesas para a sua coleção.

 

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