Revista Jardins

Histórias e segredos do algodoeiro

algodão

 

Comparado com os seus rivais linho e lã, as fibras do algodão eram consideradas elegantes e chiques até à invenção do nylon, no entanto custou mais em termos de miséria humana do que qualquer um dos seus competidores.

 

Registos arqueológicos confirmam a existência de algodão no subcontinente indiano em 2500 a.C.

Quando os marinheiros e soldados espanhóis e portugueses aprenderam a navegar com os ventos alísios, atravessando assim o oceano Atlântico e desembarcando em solo americano, mudaram para sempre o rumo da História. As plantas foram as grandes impulsionadoras dessas mudanças e provavelmente o lado menos violento e traumático da história desse triste encontro entre povos.

O algodão pode ser considerado impulsionador do capitalismo moderno, onde não faltam histórias de mão de obra barata, comércio injusto, abusos de poder, mercadores, ricos industriais, donos de fábricas e de pessoas. Muitos países enriqueceram à custa desta matéria-prima. Muitas destas plantas já eram utilizadas de várias formas pelos povos que habitavam o outro lado do oceano. No entanto, eram desconhecidas dos europeus, como é o caso do algodão, que já era tecido em teares manuais em muitos países e até de forma semi-industrializada, como no caso dos astecas no México, que tinham desenvolvido a sua própria indústria de algodão. Consta mesmo que no século XVI, quando o conquistador espanhol Hernám Cortez chegou ao México, recebeu dos índios da península de Yucatán um valioso e simbólico presente: uma veste cerimonial tecida em algodão e encrustada a ouro. Ironicamente, pouco tempo depois, este mesmo povo era chacinado pelos seus soldados.

 

 

O algodão, tal como a cana-de-açúcar e o tabaco, está estreitamente ligado também à triste e complexa história do comércio de escravos assim como à da Revolução Industrial. A invenção, em Inglaterra, de maquinaria para trabalhar as fibras de algodão fez com que disparasse também a demanda da matéria-prima que à data (finais do século XVIII) era cultivada predominantemente nos estados do sul da América do Norte e realizado por mão de obra escrava. Ao mesmo tempo que crescia a exportação de algodão, aumentava também o comércio de escravos. Em 1855, 50% da população dos estados do sul eram escravos, estimando-se que 3,2 milhões trabalhavam nas plantações de algodão, tabaco e açúcar. Nesta data, os Estados Unidos produziam e exportavam cerca de 900 milhões de quilos de algodão; 50 anos antes, produzia 47.

A história é longa, complexa e vergonhosa mas a verdade é que isto foi o início das culturas superintensivas que muito contribuíram para a morte dos solos, o uso excessivo de pesticidas e água que estas plantações exigiam e exigem ainda hoje. O dano social e antropológico, esse nunca se apagará da História da Humanidade.

 

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Descrição e habitat

Arbusto ou subarbusto que pode crescer até dois metros de altura, pouco ramificado, apresenta folhas coriáceas (têm o aspeto ou a dureza do couro), pubescentes (têm pelos) e de margens onduladas. Flores amarelas com grandes brácteas dentadas. Os frutos são cápsulas oblongas, deiscentes (que se abrem por si mesmo), com as sementes cobertas de longas fibras brancas que ficam expostas quando o fruto se abre.

Gosta de solos férteis, ricos em fosfatos, muita água, calor e exposição solar. O algodão é hoje uma das culturas menos sustentáveis do planeta.

As variedades G. hyrsutum e H. barbadense são originárias das Américas e eram já utilizadas na época pré-colombiana, sendo a G. barbadense nativa do Peru e uma importante moeda de troca entre as comunidades costeiras pois era usada no fabrico de redes de pesca. No primeiro milénio a.C., a cultura de Paracas no Peru já tecia têxteis muito elaborados combinando fibras de alpaca com algodão.

 

 

As espécies G. arboreum e G. herbaceum já existiriam em África e na Índia. Terão sido os árabes a introduzir o algodão em Espanha e na Sicília no século VIII. Existem cerca de 40 espécies de algodoeiro nas regiões tropicais e subtropicais. Mas é a espécie Gossypium Hyrsutum a mais cultivada no mundo inteiro, 90 por cento das plantações a nível mundial são desta variedade.

O algodão, originário da Ásia e introduzido no Brasil no séc. XVIII pelos Europeus.

Os constituintes mais importantes do algodoeiro são o gossipol e seus derivados.

Os índios das Américas já usavam as folhas interna e externamente como cicatrizante de feridas, anti-inflamatório, hemostático, antipirético, regulador hormonal. Muito usado na saúde feminina no pós-parto para aumentar a produção de leite e cicatrizar feridas internas e externas. No Brasil, usam-se ainda hoje internamente preparados das folhas frescas para tratar sobretudo hemorragias uterinas, em uso externo, em compressas para cicatrizar feridas e tratar nódoas negras. Uma infusão das raízes usa-se para desregulamento hormonal na menopausa, falta de memória, amenorreia (ausência de menstruação) e impotência sexual. As flores e os frutos ainda verdes utilizam-se em micoses e frieiras. O óleo extraído das sementes, além do uso culinário, usa-se como purgante, vermífugo e, externamente, para combater infestações de piolhos.

Com as suas sementes fabrica-se um óleo vegetal usado na alimentação e na cosmética, incluindo no fabrico de sabonetes.

Este óleo é também usado em tintas, em rações de animais, em margarinas ou óleo de cozinha, gelados, pastilhas elásticas.

As folhas cozinham-se como o espinafre ou a acelga e têm uma textura viscosa como o quiabo.

As suas flores, de textura aveludada, característica comum a todas as Malvaceae, podem juntar-se a saladas, sopas, sobremesas ou bebidas.

 

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