Aromáticas e Medicinais

Conheça a planta do tabaco

Uma história interessante, complexa e com alguns factos contraditórios e sem grandes confirmações científicas.

Existem relatos de que foram os espanhóis que o trouxeram para a Europa e o começaram a plantar como flor ornamental. Esta terá sido mais tarde valorizada pelo médico espanhol Nicolas Monardes, em 1571, que descobriu cerca de 20 patologias diferentes que o tabaco poderia tratar, doenças como enxaquecas, gota, edemas, febres ou dores de dentes.

Era então conhecida como erva-santa, erva-de-santa-cruz ou erva-do-diabo, entre outras designações.

Factos históricos

A minha mais recente aquisição, o maravilhoso Plantas medicinales. El Dióscórides renovado, de Pio Font Quer, conta com sete páginas sobre o tabaco, alguns relatos bastante interessantes e até divertidos sobre o uso do tabaco pelos bispos, padres e sacerdotes dentro das igrejas enquanto celebravam missa − o Vaticano emitiu uma lei proibindo o seu uso, pois iriam perder crentes que se começavam a queixar de que voltavam para casa a cheirar a fumo de tabaco.

Estamos a falar de Inocêncio X e XI, em 1642, que ameaçou com excomunhão todos aqueles que fumassem dentro ou fora da igreja. Antes dessa data, em 1559, o então embaixador francês em Portugal, Jean Nicot, reparou que as embarcações de escravos que iam para as Américas não regressavam vazias, mas sim com plantas a bordo, e uma delas era a planta do tabaco que ele terá usado com sucesso em emplastros para tratar ulceras cutâneas.

Benefícios e malefícios do tabaco e da nicotina

Entusiasmado com os potenciais curativos da planta, enviou algumas sementes para França, para a rainha-mãe Catarina de Médicis, que sofria de terríveis enxaquecas. Foi então plantada nos jardins do palácio e foi esse o início da grande moda entre a elite francesa da época de snifar tabaco, o chamado rapé, como faziam já os índios da América do Norte e do Sul.

Existem relatos com cerca de 8000 mil anos sobre o uso do tabaco na América pré-histórica. Acredita-se que a variedade fumada pelos índios da América do Sul crescia na bacia do Amazonas e era uma espécie nativa conhecida por tabaco-asteca ou tabaco-nativo (Nicotiana rustica), já utilizada em épocas pré-colombianas; este uso era feito pelo xamanes em rituais religiosos para induzir em estados alterados de consciência.

O composto responsável por este efeito é a nicotina, que afeta o sistema nervoso central e, em altas doses, pode ser fatal. É fatal também a forma como é utilizado nos dias de hoje, misturado com centenas de aditivos químicos, entre eles (e para nomear apenas alguns) o alcatrão, arsénico, acetona, chumbo, que são altamente prejudiciais à saúde de quem fuma e de quem com eles convive.

Causam não apenas doenças pulmonares mas problemas de pele, de dentes, de circulação, entre outros. O tabaco foi em tempos, quer no seu continente de origem, quer na Europa, considerado uma planta medicinal e fazendo um verdadeiro furor na Europa, tendo durante bastante tempo sido considerado uma panaceia para todos os males. Os índios fumavam-na, mascavam-na, snifavam-na e usavam-na em infusões e em compressas para uso externo.

Era usado pela civilizações antigas para facilitar o trabalho de parto e para eliminar a sensação de fome e cansaço, facto que muito surpreendeu e interessou os conquistadores. Os Maias usam-no no tratamento da asma, em convulsões e doenças de pele.

Planta da família das Solanaceae (onde se incluem o tomateiro e a batateira) anual ou bienal, podendo chegar a atingir três metros de altura, que apresenta caule ereto, folhas grandes, ovais e flores cor-de-rosa, brancas ou amarelas, a variedade Nicotiana tabacum é hoje plantada em todo o mundo para tabaco de fumar, mas também para a produção de inseticidas.

A espécie de flor amarela Nicotiana rustica contém cerca de 18 por cento de nicotina, o alcaloide volátil mais conhecido e mais estudado. Os comportamentos adictivos da nicotina estão relacionados com a sensação de relaxamento e bem-estar.

A indústria, essa vai enchendo os cofres de muitos Estados para logo esse dinheiro ser gasto nos serviços nacionais de saúde, no tratamento de doenças por eles causadas. Posso, portanto, afirmar que a doença é um negócio que rende milhões.

Essa indústria, como várias outras, terá começado nos estados Unidos da América, onde a primeira plantação foi cultivada, em 1612, no estado da Virgínia, graças à mão de obra de escravos; no espaço de sete anos, o tabaco tornou-se uma das mais rentáveis exportações.

Os consumidores europeus usavam a sua droga de formas diferentes; os espanhóis consumiam-na em forma de charuto; a aristocracia francesa, em rapé; os britânicos fumavam-na em cachimbos. Muito mais tarde, em 1880, foi patenteada a máquina de enrolar cigarros e, em poucos anos, transformaram-se em verdadeiras máquinas de enrolar dólares nas contas de milionários como James Buchanan Duke.

Produção de tabaco em Portugal

Dentro do panorama português, é de assinalar a produção de tabaco em São Miguel, cuja fábrica Estrela produz e exporta charutos enrolados manualmente. Ainda em funcionamento, esta fábrica celebra este ano o seu 138.º aniversário.

Existe ainda a Fábrica de Tabaco Micaelense e cerca de 46 produtores na ilha. Chegou-se a produzir também em Castelo Branco e no Fundão, mas, quando terminaram os apoios comunitários a esta cultura, começou a entrar em declínio.

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