Revista Jardins

Orquídeas medicinais

Descubra o satirião-macho, uma orquídea europeia usada no fabrico de cremes de beleza que também é comestível.

Os primeiros registos escritos que existem de orquídeas aparecem em livros dedicados não à botânica, mas ao uso de plantas com usos medicinais. Um dos primeiros livros que mencionam uma orquídea é a obra Historia Plantarum, de Teofrasto (372 a.C.-286 a.C.), um filósofo e botânico discípulo de Aristóteles.

Nesta obra descreve-se uma típica orquídea silvestre europeia, referindo-se ao seu uso contra a esterilidade masculina, sendo pela primeira vez utilizado o termo “orchis”, que quer dizer “testículo” em grego, numa referência à semelhança das raízes tuberosas da planta com os órgãos genitais masculinos. Era comum nessa época que as plantas ou partes das plantas que se parecessem com uma parte anatómica humana fossem utilizadas para tratar alguma doença que aí ocorresse.

Que orquídea é esta e será que teria as propriedades que lhe eram atribuídas?

Pela descrição, seria uma bela orquídea europeia, que é também relativamente comum em Portugal. O seu nome científico é Orchis mascula e um dos nomes comuns é satirião-macho. É uma planta que se encontra em prados e bosques europeus até a uma altitude de 2000 metros.

A planta é constituída por dois bolbos subterrâneos, um caule carnudo com folhas provenientes da base, de forma alongada e cor verde com pequenas manchas castanho-avermelhadas.

A floração ocorre normalmente entre abril e junho e é composta por um aglomerado, como uma espiga, de pequenas flores de cor violeta e com um perfume agradável.

Ainda hoje a ingestão dos bolbos das Orchis mascula é feita para tratamento da infertilidade, disfunção erétil e até como afrodisíaco; só não há provas de que, como se dizia antigamente, a sua ingestão, por futuros pais, originasse o nascimento de filhos varões, tão importantes nessa época para a continuação dos legados familiares.

Utilidades dos tempos modernos

Há uns anos, uma marca de produtos de beleza ia lançar em Portugal um creme antirrugas e pediu-me que fizesse uma introdução à planta principal da composição do creme, a orquídea Orchis mascula. Pedi, antes de aceitar, que me deixassem investigar um pouco, pois não queria afirmar nada que não fosse verdade.

Assim, após umas pesquisas em livros de plantas medicinais e artigos na Internet, descobri que o creme “anti-idade” não era, de maneira nenhuma “banha da cobra”. A parte utilizada eram os bolbos da planta onde é produzida uma mucilagem, uma secreção rica em polissacarídeos que retêm água e aumentam de volume.

Os bolbos são constituídos por amido, prótidos, lípidos e sais minerais e o amido (os polissacarídeos) são compostos por moléculas provedoras de energia. Nesta orquídea eram ainda encontrados polifenóis, um grupo de fitoquímicos com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes.

Devido aos seus componentes, em alguns livros de plantas medicinais, as Orchis mascula eram referidas como tendo propriedades hidratantes, refrescantes, tonificantes, emolientes e restauradoras da oleosidade perdida pelo ressecamento da pele.

Os resultados da minha pesquisa deixaram-me satisfeito e lá fiz a minha introdução ao mundo das orquídeas na apresentação do produto aos media. Um facto curioso é que nas embalagens desses produtos de beleza “anti-idade”, revitalizantes e restauradores das peles envelhecidas e cansadas, nunca se vê uma imagem da bela Orchis mascula, mas sim uma esplendorosa Phalaenopsis ou Cattleya. Não serão as pequeninas Orchis mascula suficientemente bonitas?

CURIOSIDADE

Se viajarem à Turquia, provem os nutritivos gelados de salepo ou a bebida com o mesmo nome, que é mais consumida no inverno e da qual se diz que “aquece o corpo e o coração”. São ambos feitos à base de uma farinha que é misturada com água quente ou leite e se vai mexendo ao lume até adquirir uma consistência espessa, como uma gemada.

Antes de beber, polvilha-se com canela. Essa farinha é feita a partir dos bolbos da mesma orquídea, também existente na Turquia e cultivada para esse efeito.

Os bolbos são cozidos, secos e depois moídos em farinha – o salepo – que pode ser encontrado também nas lojas turcas de especiarias. Uma pequena orquídea que alimenta e rejuvenesce.

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