Revista Jardins

Os jardins impossíveis de Abu Dhabi e Qatar

MUSEU NACIONAL DO QATAR

 

As paragens pouco frequentes como destinos turísticos avançam agora timidamente a competir com o vizinho Dubai, hoje já institucionalizado como uma Disneyworld para adultos onde as crianças também podem ser felizes. Mas, até aí, o puro entretenimento já é complementado com o incrível Museu do Futuro, que merece uma visita.

O caso do Abu Dhabi e do Qatar tem outra vertente mais séria, mercê de uma ambição de serem um polo cultural por parte dos seus sheiks, respetivamente, Mohammed-bin Zayed Al Nahyun e Tamim bin Al Thani. Digamos que, em ambos os casos, se trata de verdadeiras dinastias viradas para a cultura, dado que este pendor tem passado de pais para filhos.

 

 

Em Abu Dhabi, brilha o maravilhoso Louvre Abu Dhabi com arquitetura de Jean Nouvel, que cumpre todos os ingredientes necessários a um museu do século XXI, com a vantagem de ter um conteúdo expositivo notável, fruto da sua colaboração com o Louvre. O caso do Qatar merece uma análise detalhada, dado que Al Thani tem nesta altura uma presença fora de portas patente na sua coleção pessoal em exposição no Hotel dela Marine em Paris e é, em valor, o maior comprador de arte do mundo.

 

Leia também:

Jardins Botânicos do Sri Lanka

 

Na capital do Qatar, Doha, onde se encontra a maior parte da população, temos vários pontos de grande interesse cultural, como o Museu Nacional do Qatar, uma incrível construção também assinada por Jean Nouvel, o Museu de Arte Islâmica, pela mão de I. M. Pei, e a Education City, onde se situam as várias faculdades (muitas ligadas a universidades internacionais), e a cereja no bolo que é a biblioteca, uma obra de Mies van der Rohe que me deixou a salivar de inveja. Esta parte do mundo erguida das areias tem uma preocupação notável com a estética, que importa do Ocidente através de uma utilização criteriosa dos serviços dos melhores arquitetos do mundo. Tem a enorme vantagem de que tudo é muito novo e de dispôr de muitos recursos financeiros por via do gás e do petróleo.

 

 

Mas não têm um dos recursos mais preciosos para a vida humana: a água.

Quando cheguei ao Qatar, onde permaneci mais dias, fiquei estarrecida com o facto de a água ser gratuita para os cidadãos e de verificar a existência de variadas áreas ajardinadas. Então e o nosso Algarve onde os residentes e hotéis têm a água racionada e o custo desta aumenta sistematicamente para desencorajar a sua utilização? Não será uma questão de desgoverno e falta de planeamento?

O Qatar é um país independente desde 1971 e tem uma população constituída por 330 mil qataris e 2,3 milhões de trabalhadores estrangeiros que se concentram em redor de Doha já que o resto do território é deserto. Tem o 4.º GDP mais elevado do mundo e isso vê-se graças às brutais reservas de gás e petróleo (as terceiras do mundo).

Uma estratégia expansionista soft fez com que que, em pouco tempo, o Qatar ocupasse espaços nos media (a Al Jazeera é deles), no futebol (organizaram o Mundial 2022), nas cadeias de hotéis que frequentamos e até na diplomacia, vide as negociações de paz entre Israel e a Palestina.

 

 

Não têm a nossa prezada democracia ocidental, aplicam a lei dasharia e são muito criticados pelo desrespeito pelos direitos humanos. Mas não têm impostos, a educação é gratuita (e de acesso às mulheres) e os serviços médicos invejáveis (contratam muitos médicos ocidentais, incluindo portugueses).

O próximo passo é, mercê de uma excelente educação universitária, depender cada vez menos do batalhão de expats que agora por lá trabalham.

 

Jardins no Qatar

Quanto aos jardins, há muitos, a começar pelos do Palácio Real até à extravagância dos jardins da Katara Cultural Village. Doha tem constantes apontamentos ajardinados em volta dos edifícios. Como?

A resposta é dessalinização e reciclagem das águas residuais. Têm dinheiro, argumentamos nossos governantes. É verdade, mas planificaram e não desperdiçam.

 

Jardim do Museu do Qatar

 

A dessalinização origina 98% da água potável do país, via 15 reservatórios (para já) de 38 milhões de litros cada um, pertencentes à General Electricity and Water Corporation, detentora do maior reservatório não natural de água do mundo. Além do processo de dessalinização, há também a recuperação das águas residuais que são injetadas nos aquíferos subterrâneos para compensar a extração.

A vegetação dos espaços ajardinados é limitada às plantas que se adaptam às duras circunstâncias climáticas, mas abundam os apontamentos verdes que amenizam a cidade.

 

 

O Museu Nacional do Qatar é um bom exemplo da estratégia da família Al Thani: incorpora a influência islâmica através do restauro do antigo palácio residência dos heik Abdullah Bin Al Thani em 1900, com a modernidade arquitetónica no enorme acrescento de Jean Nouvel – e, para a espetacular forma do edificado, Nouvel inspirou-se na famosa desert rose local.

Só que a desert rose não é uma planta, mas uma aglomeração natural de gipsite ou barrita e grãos de areia que assume uma curiosa forma de flor. É a planta possível.

 

Leia também:

Marrocos: Visita ao jardim de Veere Grenney

 

Gostou deste artigo? Então leia a nossa Revista, subscreva o canal da Jardins no Youtube, e siga-nos no FacebookInstagram e Pinterest.

Exit mobile version