Revista Jardins

Plantas medicinais: O uso das plantas quando a ciência se alia à estética

A relevância das plantas não é só ornamental. Pelo menos desde a Antiguidade que são alvo de estudo na vertente culinária e nas propriedades medicinais. De referir, a título de exemplo, Dioscórides (?-60 d.C.), médico grego ao serviço do exército romano que se interessou pelo estudo das propriedades medicinais das plantas, tendo descrito na sua obra intitulada Materia medica cerca de 600 espécies.

A aludida obra, ilustrada com desenhos de plantas, ganhou maior importância por ser uma das primeiras representações científicas que se conhece. De destacar também, no século XVI, o notável trabalho desenvolvido pelo médico português Garcia de Orta (1490?-1568) sobre o conhecimento e registo das plantas que existiam no Oriente, em especial as medicinais e aromáticas.

No século XXI, temos o privilégio de conhecer o legado de uma grande diversidade florística mundial e continuar a investigação relativamente às suas características e propriedades. A maior parte destas espécies tem interesse ornamental, mas muitas detêm paralelamente relevância florestal, agrícola, melífera, aromática, cosmética ou medicinal.

Nesta edição vamos destacar plantas medicinais presentes no Parque Botânico da Tapada da Ajuda do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa, descritas pelo Professor Mário Lousã.

ACANTHUS MOLLIS L.

ACANTO

Família: Acanthaceae.
Erva vivaz, com uma altura de cerca de um metro, apresenta um escape floral com flores de cor branca com nervuras violáceas.
Usos tradicionais:
Podem utilizar-se as folhas em cataplasmas emolientes; o suco da planta fresca ou o seu cozimento é utilizado para queimaduras, e inflamações da pele.

ROSMARINUS OFFICINALIS L.

ALECRIM

Família: Labiateae.
Arbusto de folha persistente, que pode atingir dois metros de altura, com fragrância agradável; folhas coriáceas, persistentes, sésseis, lineares, inteiras, lanceoladas; apresenta flores de cor azulada, raras vezes rosada ou branca.
Usos tradicionais:
A essência de alecrim é usada em indústria farmacêutica e em perfumaria. Na culinária, as suas folhas são utilizadas como condimento.

MYRTUS COMMUNIS L.

MURTA

Família: Myrtaceae.
Arbusto até cinco metros de altura; folhas de cor verde-escura, oposto-cruzadas, ovado-lanceoladas, agudas e com glândulas oleíferas aromáticas; flores solitárias, com cerca de 3 cm de diâmetros, aromáticas, cor branca; o fruto é uma pesudobaga, de cor negro-azulada quando maduro.
Usos tradicionais:
As folhas são usadas com utilidade medicinal, como adstringentes, tónicas e estimulantes, e as bagas como tónicas, vulneráveis e sudoríferas; o processo pode ser através da infusão das folhas, como um licor que se obtém macerando as pesudobagas em álcool ou através do cozimento das bagas (e.g., para entorses e luxações). Na cosmética, a sua essência é utilizada na perfumaria.

BORAGO OFFICINALIS L.

BORRAGEM

Família: Boraginaceae.
Erva anual, com uma altura até 70 cm; folhas ovadas a lanceoladas, pecioladas; flores em cimeiras de cor azul-viva.
Usos tradicionais:
É uma planta com utilização diurética (a parte das folhas) e sudorífera (a parte das flores). Tem também outras propriedades, é depurativa, laxativa e alivia as vias respiratórias (em infusão). É uma planta muito valiosa na medicina popular. Também tem utilização na culinária, as suas folhas podem ser comidas cruas, em saladas, ou cozidas, em sopas.

LAURUS NOBILIS L.

LOUREIRO

Família: Lauraceae.
Árvore que pode atingir uma altura até 20 metros, caracteriza-se por um ritidoma cinzento e liso; folhas acuminadas, verde-escuras e glabras; flores aromáticas; flores em cimeiras de cor branca e fruto ovoide de cor negra quando maduro.
Usos tradicionais:
Na culinária, são utilizadas as suas folhas aromáticas como condimento. Como medicinal, as suas folhas são estimulantes e diuréticas (em geral a infusão das folhas); o óleo extraído dos seus frutos tem efeito benéfico nas dores articulares.

ARBUTUS UNEDO L.

MEDRONHEIRO

Família: Ericaceae.
Arbusto ou pequena árvore até 12 metros de altura, com casca fendilhada que se destaca em pequenas tiras; folhas serradas, oblongo-lanceoladas; inflorescências com flores de cor branca e florescem no outono-inverno; o seu fruto é uma baga com 10 a 20 mm de cor vermelha quando maduro.
Usos tradicionais:
Como medicinal é considerada como diurética e antisséptica urinária (através das suas folhas e dos seus frutos) e anti-inflamatória e depurativa (pela casca seca e as folhas). Na culinária, os seus frutos são utilizados no fabrico de bebidas, doces e compotas.

CURIOSIDADES:

Normas para colheita, secagem e conservação de plantas medicinais (texto retirado integralmente de Lousã, MF, 2008, p. 68):

«Para a colheita de plantas medicinais ou de quaisquer outras é preciso conhecê-las bem. Têm que ser apanhadas todos os anos, pois vão, ao longo do ano, perdendo os seus princípios activos. As partes mais frequentes utilizadas são as flores (ou as inflorescências) e as folhas e, menos vezes, os caules e as raízes.

A melhor altura do dia para a colheita é de manhã ou ao fim da tarde e com tempo seco. Seguidamente, toda a planta tem que ser limpa de outras que se tenham agarrado ou de quaisquer restos de terra. Após colhidas e limpas, são postas a secar, pois só assim podem ser conservadas. Devem ser secas à sombra num local bem arejado sobre papel ou uma rede. Para apressar a secagem, as plantas devem ser frequentemente remexidas.

Depois de secas, cortam-se em bocados muito pequenos e guardam-se em frascos de vidro ou em sacos de papel. Devidamente etiquetados com o nome vulgar da planta e a data da colheita. Todo este procedimento tem que ser feito corretamente, pois qualquer fase mal-executada poderá ter consequências gravosas para a saúde.»

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