Revista Jardins

Semear

Campos agrícolas alagados na Semear

Campos agrícolas alagados

 

Da terra nascem oportunidades.

 

Joana Santiago, fundadora e presidente do Semear, explica-nos melhor este projeto que semeia oportunidades pelas pessoas que não costumam tê-las.

 

Joana Santiago

Em que consiste o Semear?

O Semear é um programa integrado de inclusão social que tem como missão implementar programas sustentáveis que promovam a participação ativa da pessoa com deficiência na sociedade, com vista à sua plena inclusão e à criação de comunidades mais inclusivas e sustentáveis.

Está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 4, 8, 10, 11, 12 e 17). Neste programa forma-se, capacita-se e integra-se em mercado de trabalho jovens adultos com dificuldade intelectual e do desenvolvimento através de formação certificada, produção hortícola biológica, de produção cerâmica e de transformação de produtos em risco de desperdício alimentar em produtos gourmet. É composto por:

Academia: Formação no sector agroalimentar e desenvolvimento de competências psicossociais;

Cerâmica: Unidade de produção manual de peças de cerâmica;

Mercearia: Unidade de produção de produtos gourmet;

Terra: Unidade de produção hortícola, em modo biológico.

 

Quando e como surgiu?

Em 2014, após cinco anos de atividade da associação BIPP na área de informação, detetou-se a escassez de respostas inclusivas no País que promovessem a autonomia e plena inclusão de pessoas com deficiência intelectual comprovada pela elevada taxa de desemprego para esta população (seis vezes superior à taxa de desemprego normal). Um problema negligenciado e urgente para uma importante faixa da população (cerca de dez por cento da população portuguesa tem deficiência).

 

Leia também “No jardim com… António Bagão Félix”

 

O que é a Academia?

A Academia é unidade de formação certificada para jovens e adultos com deficiência intelectual entre os 18 e os 45 anos: formação técnica, competências pessoais e sociais, com modelo de formação ajustado às potencialidades de cada um e um processo contínuo de empregabilidade onde técnicos especializados apoiam formandos e empresas no processo de integração profissional e no acompanhamento pós-colocação, garantindo a sua retenção em posto de trabalho.

 

Após a formação, tentam integrar as pessoas no mercado de trabalho. Como funciona?

Esta fase faz parte do programa formativo em que os formandos vão tendo experiências reais de trabalho, fazendo a sua própria escolha sobre o percurso profissional a seguir, contando com a capacitação por uma equipa de técnicos que os prepara e prepara as empresas para a plena integração profissional. Resulta de um grande envolvimento da equipa do Semear que se reduzirá ao longo do tempo e à medida das necessidades de cada indivíduo, até que este se sinta plenamente integrado na sociedade.

 

Um dos vossos negócios sociais é a Terra. Em que consiste?

A Terra é o negócio social de produção e comercialização de hortícolas biológicas que forma, capacita e integra em empresas e na unidade pessoas com deficiência intelectual. A unidade agrícola, situada na Quinta do Marquês em Oeiras, tem uma área de produção com cerca de sete hectares e uma área coberta com 200 m2 de escritórios e armazém.

Neste espaço pretende-se que estes cidadãos adquiram práticas de trabalho e que os produtos produzidos contribuam para a sustentabilidade financeira do projeto, para a redução do impacto ambiental e para o aumento gradual do impacto social.

Em cada etapa, a preocupação é sempre a de se privilegiar o que é mais natural, próximo e sustentável. Apoiamos e praticamos a agroecologia, ou seja, tipos de agricultura que promovam ecossistemas adaptados e perduráveis, quer a nível do processamento quer da comercialização dos produtos.

Ao mesmo tempo, a Terra esforça-se por evitar o desperdício e criar uma maior proximidade entre produtores e consumidores através da partilha de processos de produção, distribuição e consumo.

Neste momento, a Terra emprega 12 pessoas, sete das quais com dificuldade intelectual e do desenvolvimento.

O modelo de negócio do projeto baseia-se na venda de hortícolas em cabazes ou a granel e presenças em mercados e restaurantes. Realiza ainda ações de voluntariado corporativo, team buildings e workshops temáticos.

 

Mercearia

 

Também têm uma mercearia. Que produtos podemos lá encontrar?

Tal como a Terra, a Mercearia consiste num negócio social de transformação de frutos e hortícolas em risco de desperdício alimentar em produtos gourmet, certificados e de qualidade. Estas duas unidades de produção funcionam como centros de formação prática em contexto de trabalho para os formandos da Academia e também integram profissionalmente parte dos jovens que terminam a formação.

É de referir um novo negócio social em desenvolvimento, a Cerâmica, que pretende ser uma unidade de emprego para estes cidadãos, com vista à sua autonomia. Irá funcionar através da formação e produção de peças de cerâmica utilitárias e decorativas elaboradas pelos formandos.

 

As cheias de dezembro de 2022 afetaram os campos da Semear. Qual foi a magnitude dos estragos?

Na primeira quinzena de dezembro de 2022, ocorreram fenómenos de pluviosidade extrema que alteraram o percurso das águas da ribeira da Lage, com transbordo das margens, inundando toda a área de terra envolvente, destruindo os campos agrícolas, as vedações da horta, plantas e o lixo orgânico e não orgânico ali depositado, fazendo grandes estragos nas estruturas envolventes. Por outro lado, máquinas agrícolas e alfaias ficaram seriamente danificadas, algumas delas irrecuperáveis.

Esta ocorrência representa elevados prejuízos para o projeto a curto e médio prazo na medida em que teremos operações e aquisições imediatas necessárias para a retoma da atividade com avultados custos associados e, por outro lado, a quebra grave de produção compromete seriamente o retorno financeiro do projeto pela quase ausência de vendas.

Os custos associados a esta ocorrência derivam do prejuízo direto decorrente das cheias, nomeadamente fatores de produção, máquinas e equipamentos essenciais à atividade e de fatores relativos à retoma da atividade como plantas, sementes, adubos, cercas, alfaias agrícolas, ferramentas de trabalho, reparação dos equipamentos e colocação de cercas no local.

 

“Cerca de dez por cento da população portuguesa tem deficiência.”

 

Como podemos ajudar?

Estes acontecimentos comprometem os objetivos a que nos propomos no que diz respeito à missão de formar e integrar no mercado de trabalho pessoas com DID.

Os postos de trabalho que existem na Terra são fundamentais para os nossos beneficiários, cujas vidas se tornaram mais realizadas por terem um emprego e contribuírem para o desenvolvimento da nossa sociedade através do fornecimento de produtos sustentáveis aos clientes. Neste sentido, é imprescindível a mobilização da sociedade civil, empresas e Estado para que rapidamente se possa reerguer um projeto com elevado impacto social e ambiental em Portugal.

O apoio e contributo pode ser dado de diversas formas: através de doação de recursos, apoio na mão de obra ou aquisição de bens e serviços.

Este ano apelamos aos contribuintes para consignarem o seu IRS a favor do BIPP com o NIF 508908507, revertendo o valor integralmente para a recuperação da Terra. Este contributo permitirá a rápida retoma da atividade, o que significa mais receita para continuarmos a formar, capacitar e integrar em mercado de trabalho pessoas extraordinárias e carregadas de competências.

Só assim podemos continuar a nossa missão e, de forma sustentável, garantir uma sociedade mais justa onde todos têm lugar.

 

Leia a entrevista a António Graça, mestre jardineiro do Jardim Gulbenkian.

 

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