Se na primavera e verão as flores predominam e enchem a alma, no outono os tons ocre abraçam-nos o corpo: preparam-nos para o frio do inverno e treinam-nos o olhar para a beleza da Natureza adormecida.
Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, o inverno não é a estação negra para os jardins, antes pelo contrário. O inverno é a época de valorizar a resiliência das plantas e a capacidade de ultrapassarem as adversidades! Um ramo despido pode não ser meramente um pauzinho castanho, e uma baga de cor intensa pode ser a promessa de alimento a um visitante do jardim. Várias são as plantas que nos iluminam o inverno, bastando contemplá-las por instantes para nos deixarmos contagiar!
Eis algumas plantas que podem tornar o seu jardim de inverno um espaço contemplativo através das suas formas, folhagens, bagas ou flores:
Loropetalum chinensis
É difícil para mim resistir ao amamélis não só pela capacidade de irromper de forma elegante no espaço mas também pelo feliz contraste das suas folhas púrpura com as flores fúchsia. Trata-se de um arbusto pequeno, perene, que no final do inverno e início da primavera, produz flores coloridas e ligeiramente perfumadas. Nos centros de jardinagem, esta espécie pode surgir com diferentes variedades/cultivares sendo as mais comuns a ‘Fire Dance’ e a ‘Black Pearl’.
A primeira trata-se de um arbusto maravilhoso, muito apreciado pela sua folhagem verde-púrpura, perene e muito resistente que encantará todo o ano no jardim. O seu expoente é precisamente em fevereiro, quando os cachos de flores cor-de-rosa brilhantes tornam a planta resplandecente. A variedade ‘Black Pearl’ é ligeiramente diferente: com folhagem semiperene verde-escura e tons arroxeados, também apresenta flores cor-de-rosa perfumadas com pétalas longas e estreitas. Este arbusto é perfeito para plantar em vaso mas também em maciços e canteiros. Para obter um exemplar bonito e saudável, cultive o amamélis em pleno sol ou sombra parcial, em solos ricos em húmus, levemente ácidos e com boa drenagem.
Viburnum tinus
De nome comum folhado, este é um arbusto de crescimento espontâneo em Portugal, também denominado louro-silvestre. Trata-se de uma espécie utilizada como ornamental pela sua floração abundante e pelo brilho perláceo dos frutos, os quais permanecem na planta durante todo o outono e inverno. Perenifólio, com folhas verde-escuras e brilhantes, o Viburnum tinus cresce com uma forma naturalmente arredondada e atinge dois a três metros de altura. No jardim, este arbusto pode formar sebes ou ser agrupado em maciços. É um exemplo de uma planta resistente, mas que prefere plena exposição solar. Se é fã de borboletas, saiba que esta é uma boa opção para as atrair.
Skimmia japonica
Embora não sejam da nossa flora (é originária da Ásia), as Skimmia adaptam-se ao nosso clima sem requerer muitos cuidados. De folha verde-escura, a Skimmia japonica brilha pelo contraste criado entre as encarnadas bagas e o intenso verde das folhas.
Trata-se de um arbusto perene, de crescimento lento com a particularidade de ter o seu expoente máximo no inverno, quando as imensas bagas invadem a planta. Para determinar o local onde plantar a sua Skimmia, estude qual o cantinho com menos sol direto do seu jardim. Estas preferem estar em zonas de semissombra ou sombra total, uma grande vantagem! As plantas podem ser masculinas ou femininas. A Skimmia masculina produz botões e flores coloridas, enquanto a fêmea produz flores as também frutos vermelhos brilhantes.
Ilex sp.
É quase missão impossível dissociar o azevinho do Natal. Tão impossível que a sua procura e colheita nos bosques levou a que o Ilex aquifolium se encontre ameaçado e a que a espécie em estado espontâneo corra risco de extinção. De facto, as suas bagas encarnadas e brilhantes, contrastantes com o verde-esperança das suas folhas, não deixa ninguém indiferente. E por que não trazer esta planta tão “nossa” para o jardim? Trata-se de um arbusto que pode atingir até 10 m de altura, muito resistente e que se desenvolve em quase todo o tipo de condições no nosso País. Prefere sombra parcial e locais sombrios, com humidade mas com boa drenagem. Existem variedades e cultivares à venda em qualquer viveiro e, nesta altura, é bem possível que os encontre em promoção! Poderá também preferir o familiar norte-americano Ilex verticillata.
Ao contrário do azevinho, o Winterberry holly perde totalmente a folha no inverno, dominando apenas as abundantes bagas vermelhas brilhantes. Qualquer uma das espécies, de forma diferente, irá dar ao seu jardim um carácter único: as bagas fornecerão alimento essencial para os pássaros no inverno, e os arbustos cobertura para nidificação.
Cotoneaster sp.
Se pretende textura e um pouco de cor, o cotoneáster pode ser uma excelente solução, basta que defina qual o objetivo para o espaço em que o pretende aplicar, dado que este género inclui várias espécies de folha caduca e de folha persistente e múltiplas formas de ramagem e folhagem. Se estiver a pensar num arbusto rasteiro de folhagem densa, o C. horizontalis pode cumprir o objetivo, contudo há que ter em conta que é semipersistente e grande parte das suas folhas poderá cair. Este arbusto de folhas redondas e pequenas dispostas ao longo dos ramos em forma de espinha de peixe entusiasma com os tons rosa a escarlate que as folhas adquirem no final do outono e início do inverno e pelas flores, que surgem entre a primavera e o verão. Os frutos são pequenas bagas vermelhas que despontam no fim do verão e permanecem até ao inverno.
Enquanto esta espécie se torna muito interessante para canteiros rasteiros ou rock gardens, o C. coriaceus poderá crescer até três metros de altura e largura e encantar com os seus cachos de bagas vermelhas brilhantes que persistem do outono até ao inverno. Qualquer uma das espécies crescerá em solo bem drenado, em exposição solar plena/meia-sombra e pouca água.
Chamelaucium uncinatum
A flor-de-cera-de-geraldton trata-se de uma planta arbustiva originária da Austrália que, dependendo da variedade, pode crescer até pouco mais de três metros de altura. A sua beleza encontra-se na desfaçatez da simplicidade: pequenas flores cerosas com cinco pétalas e dez estames que se assemelham a velas com um pavio no meio, inundam a planta no inverno, colorindo a fina folhagem verde-clara.
A Chamaelaucium requer exposição solar total e, embora seja bastante rústica, é exigente em termos de solo – não suporta encharcamento e prefere boa drenagem e abundância de matéria orgânica. É, sem dúvida um exemplar a ter no jardim e pode ser utilizada como como planta isolada, em grupo ou mesmo em vasos e floreiras.
Cornus alba
Não podia chegar ao fim e não referir outro género favorito dos tempos mais frios: os Cornus. O Cornus alba ‘Baton Rouge’, mais conhecido por Dogwood, faz as delícias até do maior amante da primavera dado que, no pino do inverno, esta planta perde toda a sua folhagem e emergem extraordinariamente vibrantes hastes encarnadas. É, portanto, um arbusto de folha caduca, de tamanho médio, que forma um emaranhado de caules vermelhos vibrantes, tornando-se carmesim brilhante no inverno. Esta espécie, de crescimento lento, não se desenvolverá além dos 2,5 m, e podas estimularão o desenvolvimento de novas hastes vermelhas. É um arbusto resistente e tolerante, suportando alguma exposição aos elementos e uma grande variedade de tipos de solo desde que sejam mantidos uniformemente húmidos e bem drenados. ‘Baton Rouge’ é excelente para atrair insetos para o jardim durante todo o ano e uma excelente opção para bordaduras, sobretudo com um fundo uniforme que permita contraste.
Se a subtileza dos detalhes não lhe enche as medidas, saiba que pode ter um jardim de inverno com discretos perfumes, surtidos de intensas cores e formas recorrendo a plantas como o Jasminum nudiflorum, os Crocus sp., os Cyclamen sp., as Erica sp., as Viola spp., as Clematis, a Coronilla valentina glauca e muitas outras! De bolbos que florescem no inverno a grandes espécies de árvores, há inúmeras plantas à escolha para desenhar o jardim de inverno perfeito.
Veja ainda 5 dicas para um inverno sempre colorido.
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