Saiba como fazer calda bordalesa e calda sulfocálcica para as suas plantas.
Na agricultura, em geral, e, em particular, nos pomares, o uso de elementos químicos de origem natural, nomeadamente o enxofre, o cobre e o calcário sob a forma de hidróxido, é desde há muito tempo prática comum. Contudo estes produtos, não obstante o facto de serem obtidos de forma natural, não deixam de requerer alguns cuidados especiais aquando da sua aplicação na agricultura.
Na presente edição abordaremos o óxido de calcário, vulgarmente designado como cal.
A origem
A cal virgem, é obtida através de forte aquecimento e esmagamento do calcário, sendo o resultado químico final, o óxido de cálcio, o CaO. Por seu lado a cal hidratada, é obtida através da adição de água à cal virgem e consequente mistura. O resultado final do processo é o hidróxido de cálcio.
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Os usos da cal
O hidróxido de cálcio, ou cal, tem sobretudo três utilizações mais comuns: a caiação de troncos, a produção de calda bordalesa e de calda sulfocálcica.
Caiação de troncos
A técnica ancestral, utilizada desde o século XVI, de proteger com cal o tronco das árvores de fruto era aplicada com o intuito de promover a cicatrização de feridas de corte. Atualmente, esta técnica cultural é utilizada especialmente para o controlo de pragas e de doenças no pomar. Existe a possibilidade de adicionar extratos vegetais que aumentam o efeito inseticida, tal como adubo de urtigas, adubo de cavalinha ou absinto.
Também poderá ser adicionada calda bordalesa, aumentando assim a ação fúngica da mistura contra os diferentes fungos de inverno. Esta pasta poderá ser aplicada por pincelagem, desde o solo até à base dos ramos principais da árvore.
Sob outra perspetiva, atualmente acredita-se que esta técnica acarreta mais desvantagens do que mais-valias. O hidróxido de cálcio é uma substância alcalina que corrói a parte externa da árvore, a casca, portanto, eliminando não só os fungos nocivos, mas comprometendo também outros microrganismos essenciais para a planta.
Outro argumento prende-se com o facto de as árvores realizarem trocas gasosas através de estruturas presentes nos caules, pelo que a caiação pela impermeabilização da casca limitará ou impedirá na totalidade estas trocas gasosas e compromete a sanidade do exemplar arbóreo.
Calda bordalesa
A calda bordalesa é uma suspensão coloidal, de cor azul-celeste, obtida pela mistura de uma solução de sulfato de cobre penta-hidratado e suspensão de cal viva, a qual nem sempre reage integralmente com a água.
Deve-se cobrir a cal com água quente, dissolver e passar para outro recipiente. O resíduo que ficar no fundo será desprezado. Recomenda-se usar cal viva de boa qualidade, com o mínimo de impurezas e bem calcinada.
O vasilhame usado deve ser de madeira, cimento ou plástico, por exemplo. Materiais em ferro, latão ou alumínio reagem com o sulfato de cobre e formam compostos indesejados.
A qualidade da calda preparada é representada pela sua capacidade de suspensão. Para avaliar isto, toma-se um pouco de calda para um copo e mede-se a velocidade de sedimentação. Quanto mais lenta, melhor será a qualidade da calda. A calda bordalesa perde a eficácia com o passar do tempo, por isso deve ser usada na própria altura ou até no máximo 24 horas depois. Pode-se juntar um pouco de um agente molhante. Evitar a aplicação em épocas muito frias, sujeitas à ocorrência de geadas.
Tratamentos de inverno: macieira e pereira – cancros, pedrados, moniliose; pessegueiro, damasqueiro, ameixeira – cancros, lepra, moniliose.
Tratamentos em vegetação: citrinos – míldio, alternária, antracnose, gomose basal, cochonilha algodão (preventivo).
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Calda sulfocálcica
A calda sulfocálcica é um fungicida com ação inseticida acaricida e algum efeito sobre ovos e larvas.
A calda sulfocálcica pode ser fitotóxica em doses acima de 2% para rebentações com menos de 15 dias e sob sol quente (temperatura acima de 28 °C e humidade relativa abaixo de 65%). A aplicação da calda deve ser feita sempre em períodos frescos e é recomendada a utilização de um molhante.
É recomendável testar primeiro uma aplicação em algumas plantas antes de um emprego em maior escala. Pode provocar a senescência de algumas folhas velhas, mas que só caem após transferirem as suas reservas para as folhas próximas, não constituindo, por isso, perda para a planta.
Após o tratamento com calda sulfocálcica, deve-se esperar pelo menos 2-3 semanas para tratar com calda bordalesa ou com óleos minerais ou vegetais. Do mesmo modo, após tratar com calda bordalesa, deve-se esperar pelo menos 2-3 semanas para utilizar a calda sulfocálcica e, no caso inverso, esperar 30 dias.
Após a aplicação, o equipamento de pulverização deve ser lavado com uma solução de 10% de vinagre ou limão para cada litro de água.
A calda sulfocálcica é um produto de baixo custo, com amplo leque de utilizações, tendo ainda a vantagem de um efeito estimulante na vegetação (nutrientes: cálcio e enxofre). Em muitos casos, substitui com vantagem a calda bordalesa dado não conter cobre e, por isso, não contribui para a sua acumulação no solo e por possuir ação curativa.
Tratamentos de inverno (calda diluída a 10%): macieira, pereira, marmeleiro – ácaros, cochonilhas, cancros da casca, oídios, moniliose; pessegueiro, ameixeira, damasqueiro, cerejeira, amendoeira – ácaros, cochonilhas, cancros da casca, oídios, moniliose e lepra.
Tratamentos em vegetação (calda diluída a 2-3%): citrinos – fumagina, antracnose, gomose basal (do tronco), ácaros, cochonilha-vírgula, cochonilha-pinta-amarela, mineira-dos-citrinos, cochonilha-algodão (repelente); macieira, pereira, marmeleiro, nespereira – oídios, pedrados, moniliose, cochonilha-de-são-josé, aranhiço vermelho, brocas (repelente); pessegueiro, ameixeira, damasqueiro, cerejeira, amendoeira – oídios, lepra, moniliose, chumbado, cancros, cochonilha-branca-do-pessegueiro.
A cal, tal como visto, assume um papel muito relevante na agricultura. Contudo, requer uma série de cuidados, uma vez que mal utilizada comporta riscos bastante elevados para as plantas.
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