O que era apenas um gesto simples e bonito tornou-se um movimento de bairro, e a Rua dos Prazeres floresceu em cor, conversa e comunidade.

Tudo começou com um vizinho e uma buganvília branca plantada no passeio. O resto foi contágio: duas buganvílias adicionais, um folheto nas caixas de correio e uma ideia que se espalhou com a naturalidade das boas histórias.
O princípio
Hoje, a Rua dos Prazeres tem mais flores, mais conversa e o raro privilégio de ainda ser um bairro.
Começando pelo fim – que acho sempre um lugar maravilhoso para começar uma história –, sempre que me pedem para descrever resumidamente este projeto, o que me vem à cabeça é isto: a buganvília, o arquiteto, os vizinhos e a sua teimosia. Inspirado, obviamente, no filme The cook, the thief, his wife & her lover (O cozinheiro, o ladrão, a sua mulher e o amante dela, em português), de Peter Greenaway, por sinal, um dos meus favoritos.
A origem desta história não começa em nós, mas sim no nosso vizinho Mateus Lorena. Nunca lhe perguntei, na realidade, o que o levou a plantar uma buganvília branca aqui na rua. Mas foi aí que este projeto começou: um gesto simples, talvez sem plano nem ambição, mas impossível de ignorar.
Inspirados por essa primeira buganvília, decidimos plantar as nossas duas. Também nós, nessa fase, sem pensar em impacto nem em movimento de bairro, só achámos bonito. Estávamos então em fevereiro de 2025.
Durante a primavera, as buganvílias cresceram discretas e, quando regressámos de férias, estavam exuberantes. Foi aí que nos lembrámos: E se a rua inteira fosse assim? E se a Rua dos Prazeres se transformasse na rua das buganvílias brancas?

Fizemos então o que qualquer pessoa entusiasmada faria: um folheto (ser publicitária ajuda). Imprimimo-los, colocámo-los em todas as caixas de correio e lançámos o convite. Nada de grupos de WhatsApp, petições ou reuniões de condomínio – apenas uma ideia simples, com vontade de acontecer. E funcionou.
Quando a rua começou a florescer
Começaram a aparecer novas buganvílias brancas, cada uma com a sua personalidade.
As pessoas paravam, comentavam, perguntavam onde comprar ou se dava trabalho (não, não dá).
O tema começou a circular pela rua e, de repente, havia conversa.
Hoje, as buganvílias têm nomes e etiquetas, para sabermos quem é quem. Há quem regue quando nós não estamos, quem as fotografe, quem comente de janela para janela elogiando as flores da casa ao lado. A rua ganhou uma nova vida e uma certa leveza.
Quando plantámos as nossas duas buganvílias, não pensámos em transformar nada. Mas foi o que aconteceu. Agora há mais cor, mais sombra, mais partilha. E, talvez o mais raro, há vizinhos que se cumprimentam por prazer e não por hábito. Num tempo em que tanto se fala da pressa, da falta de tempo e da ausência de vizinhança nas grandes cidades, aqui aconteceu o contrário.
As buganvílias não criaram essa vida – apenas a alimentaram. O bairro já era vivo, afetuoso, curioso. Nós e as buganvílias só viemos dar-lhe mais cor.
Por isso, fica o agradecimento a todos os vizinhos que todos os dias nos cumprimentam e que, juntos, mantêm esta forma tão bonita de viver a cidade. As buganvílias são resistentes, independentes e teimosas – características em que, confesso, me revejo bastante. Pedem sol, pouca água e zero drama.
Talvez resulte porque é uma planta com boas maneiras – cresce, embeleza e não incomoda ninguém. E às vezes, mudar o espírito de uma rua é o suficiente para mudar o humor de quem nela vive. A Rua dos Prazeres está diferente. E nós também.
Quem sou
Que deselegância… escrevi, escrevi e nem me apresentei. Sou publicitária, mas uma amadora assumida e entusiasta de plantas, flores, hortas, receitas, doces, conservas e projetos de faça você mesmo – sempre com mais ideias do que tempo. Tenho uma família incrível e, juntos, criámos o Prazeres 39, uma marca-família onde cultivamos tudo o que gostamos: das buganvílias à vida de bairro, das conversas à mesa e às ideias que enchem a casa.
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