Robert Ryan, arquiteto paisagista, professor na Universidade de Massachusetts Amherst e coautor do livro With people in mind, esteve no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, para dar uma aula sobre a abordagem do arquiteto paisagista ao espaço público. A exposição passou por pontos essenciais como a importância dos espaços verdes, tanto de uma perspetiva ambiental como social e de valorização económica, e a participação da comunidade na construção desses mesmos espaços.
A necessidade de existirem espaços verdes espalhados pelas cidades é cada vez mais inequívoca. Além dos múltiplos benefícios ecológicos mais óbvios, estes lugares melhoram a qualidade de vida da comunidade, permitindo um contacto próximo com a Natureza, o que tem benefícios comprovados para a saúde física e mental das pessoas. O aspeto económico, que é um fator determinante nas tomadas de decisão, também é valorizado. Uma casa voltada para um parque é um imóvel valorizado, um espaço comercial junto a um jardim tem um potencial acrescido. As pessoas vieram da Natureza e a necessidade de contactarmos com ela não desapareceu.
Para resolver questões ambientais, como alterações climáticas e cidades mais verdes, é preciso entender as pessoas.
Quanto ao planeamento, desenho, construção e manutenção dos espaços verdes urbanos, Ryan afirma que a comunidade deve ser ativamente envolvida de forma a que o espaço futuro corresponda efetivamente às necessidades de quem o irá usar. Admitindo que nos EUA a população é mais proativa, dando o exemplo de um parque infantil construído pela própria comunidade sem intervenção do município, o professor fala de outras ações em que são os técnicos a ir ao encontro da população. Quem vive o local consegue fornecer informações essenciais, mas invisíveis, aos técnicos projetistas. Numa fase de construção e manutenção do espaço, considera essencial a participação da comunidade para que esta estabeleça uma ligação e um sentimento de pertença ao lugar.
Por que motivo estudou Arquitetura Paisagista e o que o levou ao ensino?
Quando era criança, a minha mãe fazia-me regar o jardim e eu aprendi a adorar as plantas e a jardinagem. Ainda assim, o que realmente me inspirou foi uma viagem à Europa onde pude ver como podemos criar espaços incríveis como Versalhes.
Trabalhei em várias empresas e percebi que precisava de fazer investigação em ecologia para me tornar um melhor projetista. Aprendi que para resolver questões ambientais, como alterações climáticas e cidades mais verdes, é preciso entender as pessoas. Comecei a trabalhar com investigadores, ecologistas e psicólogos, e eles ensinaram-me a importância do fator humano.
Para intervir no território, em qualquer escala, é preciso envolver as pessoas como parte do processo. Para originar mudanças temos de saber o que é que as pessoas querem e como é que podemos envolvê-las para influenciar os processos de decisão e gestão.
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O perfil dos alunos mudou com o tempo. Pensa que eles entendem a paisagem de maneira diferente e, em última instância, irão projetar de forma diferente?
Humanos são humanos, por isso, os lugares e as paisagens que amamos são os mesmos que há anos atrás. Adoramos sombra, árvores, água. A tecnologia mudou a interação com o espaço exterior porque as novas gerações passaram muito tempo a olhar para ecrãs. Penso que a pandemia mostrou como é importante estar no exterior e isso fez com que os alunos, principalmente os mais urbanos, que podem não saber como plantar uma árvore, tenham imensa vontade de mudar isso.
Então, não vejo grande mudança nos alunos de agora e de há 25 anos. A tecnologia mudou a forma como projetamos, mas não o espaço porque nós, enquanto pessoas, continuamos a precisar das mesmas coisas. Enquanto humanos, somos os mesmos.
Projetar o espaço público é um trabalho multidisciplinar. Quais são os desafios e a abordagem necessária para encontrar uma solução que vá ao encontro de todas as partes?
Equipas multidisciplinares são essenciais para projetos de espaço público, principalmente os de maiores dimensões. Se for no exterior, penso que o arquiteto paisagista deve ser o coordenador.
Diferentes pessoas falam diferentes línguas, desde o engenheiro ao político, e nós temos de aprender a falar outras línguas além da linguagem técnica. Algumas profissões tendem a ter opiniões mais fortes e é um desafio, mas deveríamos trabalhar em conjunto porque os melhores projetos resultam do trabalho em equipa.
A cidade é feita para as pessoas, mas, à medida que as comunidades vão ficando cada vez mais diversas, como é que o espaço pode fisicamente abraçar essa diversidade?
É um desafio porque diferentes grupos nem sempre se dão bem. Uma forma de ajudar neste aspeto é através do espaço público. Se as pessoas nunca se encontrarem, nunca vão aprender sobre o outro grupo e nunca irão compreender-se. Ao criar um parque onde todos são bem-vindos, ajudamos a que diferentes grupos aprendam uns sobre os outros.
Precisamos também de ter em consideração que diferentes grupos e culturas usam o espaço de maneira diferente. Por exemplo, no meu país existe uma grande comunidade hispânica que gosta de usar o parque para reuniões familiares, por isso, é preciso desenhar um parque que permita que isso aconteça. Além disso, o design do parque deve contemplar elementos que façam parte das diferentes culturas existentes.
Quão importante é para a vida humana ter espaços verdes urbanos?
É essencial, penso que é um direito humano. Psicólogos fizeram investigação sobre como olhar para uma árvore da janela contribui para reduzir o stresse. Se for estudante numa escola com espaços verdes, fará com que aprenda melhor. Precisamos de restaurar os nossos cérebros, e contactar com a Natureza é a melhor forma de o fazer. O importante papel na redução do stresse torna-nos mais saudáveis e ajuda a recuperar de doenças.
Existem outras questões como a poluição atmosférica, mas este aspeto é essencial para mim.
Ainda não ultrapassámos a ideia de expansão urbana.
Atualmente as pessoas mudam de casa frequentemente. Neste contexto, como é que as pessoas conseguem conectar-se com os lugares? Têm tempo?
Vários autores já escreveram sobre o assunto. Psicologicamente, é importante que as pessoas se liguem aos lugares. Há um estudo que mostra que, quando nos mudamos, tendemos a encontrar um local semelhante àquele em que estávamos anteriormente, seja o café de bairro ou o parque. Procuramos um local familiar ao qual tínhamos uma ligação. Até podem ser as plantas que trouxemos da casa velha para a nova.
O que pensa do planeamento urbano atual?
Penso que o planeamento urbano em diversos países evoluiu bastante. Portugal e EUA evoluíram no que respeita ao espaço aberto. Tornámo-nos mais sensíveis à importância dos espaços verdes e das árvores. Também penso que estamos a pensar melhor nos elementos de água.
O que ainda não ultrapassámos foi a ideia da expansão urbana. As nossas cidades estão sempre a crescer, mas a população não está a crescer assim tanto. Mesmo a população portuguesa, no geral, não está a crescer. Temos que pensar em como estamos a construir as nossas cidades. Estamos a destruir os nossos espaços verdes para construir cidades, estamos a construir nas montanhas e na praia… Temos que pensar em proteger a paisagem a grande escala como parte do planeamento.
Vi as pontes sobre o rio Tejo e, cada vez que se constrói uma ponte, estamos a construir novas cidades em cada margem. Isto é uma decisão. Decidir construir uma ponte significa decidir construir novas cidades. É disso que precisamos ou é melhor manter as pessoas nesta margem do Tejo? Para os decisores políticos, expansão significa progresso, mas não necessariamente para as comunidades locais e para o ambiente. Desenvolvemos as cidades construindo-as melhor e não construindo mais.
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